sexta-feira, 31 de julho de 2009

Orgasmem-se

Hoje é dia mundial do orgasmo. Uma boa desculpa para celebrar, investir e procurar novos e melhorados orgasmos. Dizer Viva o Orgasmo, como quem reconhece o valor da paixão, do sexo e, por que não?, do amor.

Esta ideia nasceu, é claro, com intenções comercias - um grupo de sex-shops do Reino Unido esgalhou este novo motivo para se ir à caça de brinquedos sexuais. Por mim, tudo bem. Acho saudável. E, já agora, não seria um bom motivo de feriado? Um dia inteiro para celebrar o êxtase, olha que ideia benemérita e cativante. Para quem tenha mais dificuldades (infelizmente é um problema bastante mais comum do que se possa pensar), seria um dia de exploração e conhecimento (auto e mútuo).

Há quem ande a promover um orgasmo global a 21 de Dezembro de 2009, a favor da paz. São sempre ideias bem-vindas. Não porque precisemos de desculpas, mas sim porque há momentos individuais que devem ser valorizados ao nível da humanidade. Somos mais humanos quando temos um orgasmo? por que não?

A favor da verdade do orgasmo e para nos rirmos um bocadinho, cá vai uma cena mundialmente famosa de um orgasmo falso. Em casa, experimentem à séria. Quem diz em casa, diz na praia, no campo, no comboio, no avião... onde vos aprouver. Bons orgasmos, bom prazer!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

De facto, temos de nos perguntar...

Vi este anúncio e paralisei. Voltamos à publicidade incompreensível. Digo-vos: esta é mesmo absurda. Vejam-na, leiam-na e depois expliquem-me. A minha percepção vem já a seguir.



Primeiro de tudo o headline. Não sei o que me aconteceu ou ao anúncio, mas eu não li "Pergunte-nos", eu li "askus", pensando tornar-se de uma variação moderna para ascos, uma coisa que mete mesmo nojo. A imagem também ajudou a essa leitura obviamente. Aquele sujeito com ar duvidoso agarrado a dois animais parece mesmo um taradão por bichinhos e não um senhor honrado, lamento. Daí o asco fazer sentido. Lendo o body copy, percebemos que o touro e o urso são provavelmente as conjunturas do mercado, com as quais temos de viver lado a lado. Hã????
Depois disto tudo, uma pessoa não quer saber. São consultores, ya! Alguém podia fazer-lhes consultoria de publicidade e livrar-nos de coisa tão bizarra?!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

é preciso perceber tudo?

O MASP - Museu de Arte de São Paulo tem uma escola, com cursos de História de Arte. Para os promover, fez esta acção bem certeira de colocar na moldura um texto sobre o autor e, no espaço destinado à legenda, colocou a obra em ponto pequeno. A ideia é clara. Para podermos apreciar a obra na totalidade, há que conhecer a vida e as obsessões de quem a fez.


Compreendo esta acção e acho-a eficaz. No entanto, sinto-me perfeitamente na ponta oposta deste mote "Conheça o contexto e entenda a obra".
Entender a obra é afinal o quê? É percepcioná-la de um ponto vista meramente racional, com as premissas históricas, sociais, freudianas e políticas, sem esquecer igualmente as nuances das influências artísticas, blábláblá...?
Sou toda a favor da análise e adoro biografias e perspectivas assentes em teorias viajantes no tempo, mas estão noutro plano diferente do da arte. Ou pelo menos num plano diferente do da obra. Primeiro que tudo, a obra cria um impacto e esse é insubstituível. Tudo o resto que vier, está à parte e não compromete o impacto da obra, por ela mesma. Aliás, quando temos demasiada informação, o mais certo é que isso deturpe totalmente a nossa percepção da obra. Talvez a entendamos melhor, mas o que fica então desse primeiro "olhar"? Ficará provavelmente perdido para sempre e nunca mais será recuperável.
A arte, para quem a recebe, é uma experiência estética. Estimula sentidos e provoca emoções. O resto da compreensão virá da nossa vontade de compreender essa mesma experiência e, num certo sentido, do desejo de recuperá-la.
Para quem a cria, a história é outra e não cabe aqui, pois para quem a recebe isso será, num primeiro momento, indiferente.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Pôr os miúdos a mexer

Quando pensamos em actividades desportivas nas crianças pensamos muito mais no presente do que no futuro. Mas sabemos que a aprendizagem de um desporto possibilita a aquisição de novas competências sociais e, no caso da natação, até achamos que pode ser realmente útil para a sua sobrevivência.

Mas fazemo-lo a um nível muito objectivo sem especularmos sobre quais são realmente as competências que lhes vão valer no seu dia-a-dia futuro. Esta campanha ajuda-nos, com humor, a visualizar um hipotético futuro de uma criança que não praticou desporto.
A ver, são curtinhos e cómicos...








segunda-feira, 27 de julho de 2009

senhor(a) de farda

Nota prévia: este post será um bocado parvo.

Agora que a zona do meu emprego sucumbiu às garras da EMEL, entrei em grande reflexão. Não devido à questão do congestionamento urbano ou dos problemas de estacionamento da cidade, porque nesse aspecto estou resolvida. Acho muito bem que usem todos os meios possíveis para diminuir o tráfego de Lisboa. Eu é que ainda tenho de fazer uma aprendizagem pessoal nesse sentido, mas para lá caminho - lentamente, é certo, mas não tanto como o ritmo para atravessar o Tejo numa tarde de Verão.
A minha reflexão é de outra ordem. Toda a gente sabe, ou pelo menos devia saber, que ser funcionário da EMEL é ter uma profissão de risco. Espero que paguem bem aos rapazes e raparigas, porque, segundo consta, dois por dia sofrem tentativas de atropelamento. Um dia normal no stressante trânsito desta cidade.


Quando vimos estas fardas, temos vontade de fugir, não só porque podemos ser vítimas colaterais dos atentados, mas também porque temos de chegar antes deles ao nosso carro. Há outros que devem ter logo vontade de correr para cima deles, mas são géneros diferentes de pensar.
Pensando nesta coisa da perseguição, lembrei-me das testemunhas de jeová, mas esses não têm farda. Logo não é a mesma coisa. Mas por outro lado, há os mórmon elders que embora mais raros têm igualmente este ar dúbio de funcionário da EMEL: não sabemos se irão passar-se e bater em alguém ou se serão mais uma vez atacados pela roupa estranha que estão a usar. Ambos têm papéis na mão que não queremos que nos passem e definitivamente querem cumprir a sua missão.


Todos estão a querer fazer o bem, disso não tenho dúvidas. De uma forma, por vezes, chocantemente obtusa e absurda, mas ainda assim propondo-nos novos hábitos, novas formas de viver.
É caso para dizer: sigamos os senhores e, de preferência, que não seja para atropelá-los.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

sexualmente falando

Se demoras, vens mais tarde é a assinatura da nova campanha dos preservativos Control. Nos mupis, a mensagem principal é com uma desculpa parva para um atraso, do género "O eléctrico teve um furo" e "O despertador caiu no aquário". Mas, para mim, é esta assinatura que fecha muito bem a campanha, porque carrega uma carga sexual óbvia e descarada. No anúncio de TV, o sexo está todo lá e a piada também.
Percebe-se a mensagem: é uma espécie de preservativo prolongador de prazer ou retardador, se preferirem. Chama-se mesmo Control Non Stop, para que não restem dúvidas.
É normal, inevitável até, a publicidade de preservativos falar de sexo e falar de prazer. De qualquer modo, dá gosto ver o despudor e o enfoque no prazer de um modo descomplexado. Indo mais longe, acho até que este tipo de publicidade tem um efeito pedagógico na sociedade, abrindo mentalidades e quebrando preconceitos. Gosto disso, devo dizer.


quinta-feira, 23 de julho de 2009

"Impousável"

As palavras serão sempre um dos meus objectos predilectos, apaixonantes sem ser ao ponto de não querer mudá-las, mas dignas de amor, de cuidado laborioso e de tango.

Ou as encontramos ou elas encontram-nos a nós. No primeiro caso, criamo-las, no segundo criam e recriam-nos elas a nós. Ou as escrevemos ou as lemos. É possível ser fiel aos seus dois modos de ser, porque no fundo são uma e a mesma, outra em espelho, em sequência, em rodopio.
São amantes exigentes, quando nos deixamos despojar, quando nos arrebatam. São parceiras constantes quando as deixamos de lado, aguardando o momento, suspendendo a ansiedade mas mantendo a intimidade. São uma confidência, um segredo, um desabafo. São o mundo todo, sem nunca o serem.
E não cedem a elogios, porque são apenas caprichos da sua natureza.
Tudo isto a propósito destas duas campanhas, a meu ver brilhantes. Uma da Rolling Stone, sobre a tentativa de matar palavras (cliquem na imagem para ler, vale a pena), e outra da editora Penguin.




quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dói-me aqui

Existe uma marca farmacêutica que se chama HELP, o que em si mesmo já é um nome que me cativa. Não quer dizer outra coisa que não o que é: ajuda, socorro, etc. Ver isto, na minha área, é uma grande alegria. Não complica, não aspira a outra coisa, não dá uma volta de 180º para dizer o que quer. É aquilo e só aquilo. É óbvio que não resulta sempre, mas este caso parece-me bastante feliz.
Têm umas embalagens ainda menos complicadas, para tornar a sua comunicação absolutamente compreensível e eficaz.



Com uma mensagem directa sobre os sintomas, torna a aquisição ainda mais fácil e simples. Imagino que, sendo a Help uma marca norte-americana, a lógica de packaging utilizada é dirigida mesmo à prateleira, possibilitando ao consumidor adquirir pela sua própria mão o produto em causa.
É certo que isto levanta uma série de questões éticas, por se tratar de um produto médico, fazendo-nos questionar se algo que interfere com o nosso bem-estar físico deva estar assim à mão de semear.
Para mim, parece-me simples. Não tão simples como as embalagens, mas simples como os sintomas que pretende atacar. A diferença entre dizer analgésico, ansiolítico, anti-histamíco, anti-inflamatório e dizer contra as dores, contra a ansiedade, contra as alergias e contra as inflamações é toda. É democratizar a linguagem e não nos tornar todos médicos de bancada, que acham que dominam alguma coisa por dizer estes palavrões.
Todos estes medicamentos podem ser adquiridos numa farmácia sem sequer precisar do aval do farmacêutico. Basta dizer o nome. Assim parece-me mais fixe. Mesmo que uma pessoa não grite "Socorro, ajudem-me! dói-me a cabeça!" haverá uma embalagem a solidarizar-se com a nossa dor.
Agora só falta inventarem a marca "Água! Tenho sede!" para completar o quadro.

terça-feira, 21 de julho de 2009

problemas de expressão

No meu dia-a-dia profissional, insurjo-me muitas vezes com o argumento "as pessoas não vão perceber". Não procuro coisas nem conceitos rebuscados, mas por vezes gosto de brincar com as palavras e com as ideias. Num certo sentido, sinto-me insultada de cada vez que o argumento da "estupidez" é lançado, porque tento pensar o melhor das pessoas e afinal não me considero com uma inteligência tão acima da média.
No entanto, há publicidade que não percebo. E também consigo perceber que há publicidade que muita gente não percebe. Embora me custe admiti-lo.
Recentemente em conversa amena, cheguei mais uma vez a essa conclusão graças àquela publicidade estranha ao porco magro que diz "eu (coração) porco magro", que não só é idiota como eventualmente é imperceptível para grande parte da população. Em vez de ver um coração poderá ver "eu porco magro", o que é bizarro.

Este é só um exemplo tonto, mas a verdade é que temos a tendência para nos fecharmos no nosso mundinho de redoma (aqueles que têm a redoma) e projectarmos a nossa perspectiva para o resto da malta. De tal modo que corremos o risco de nos chocarmos quando vemos, num centro comercial, uma rapariga com ar perfeitamente normal a perguntar para o lado "como é que se escreve quase?". E quando isso acontece, como ontem a mim, perguntamo-nos duas coisas: 1) não há coisas bem mais chocantes na vida das pessoas? e 2) onde andei eu para isto me chocar?
E não há nenhuma resposta certa. Pelo menos que eu tenha encontrado entretanto. Ou seja, há coisas que são muito mais chocantes e terríveis do que lapsos linguísticos e cognitivos, mas por causa disso deverão ser tomados como irrelevantes? Mas, por outro lado, se me surpreendo com alguém com ar jovem e instruído não saber soletrar quase, corro o risco de perder a percepção daquilo que é a linguagem comum, entrando num instante no terreno da linguagem incompreensível.
Se alguém comentar "não percebi nada" talvez já tenha entrado.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A puxar para o sentimento

A capacidade de puxar para o sentimento é uma arte. Às vezes, resulta e ficamos impressionados (ex:filme romântico). Outras resulta, mas ficamos envergonhados (ex:cena de telenovela). Outras ainda, não funciona de todo (ex:canção pimba a falar de criancinhas).
A verdade é que a música certa, o ritmo adequado, a voz off grave, tudo isso pode contribuir para criar esse efeito "se calhar vou chorar".
Penso que, inevitalvemente, a tendência é ficarmos cada vez mais indiferentes a esses métodos de carniceiro. Quando temos à nossa frente grandes cirurgiões das emoções, então talvez desabemos ou fiquemos simplesmente boquiabertos por termos sentido um nó no estômago.
Toda esta reflexão a propósito desta publicidade, tão singular, subtil e, a meu ver, tão pungente.
Não sabemos, de facto, quais os botões que activam estas nossas reacções pró sentimento, mas que eles existem e que alguns sabem mesmo onde carregar, não há dúvidas.


quarta-feira, 15 de julho de 2009

Há noite no Verão ou à noite no Verão

Hoje é o último dia das Festas de Lisboa, com este concerto, e eu pus-me a pensar que ainda não está no tempo de acabarem as festas. Pelo contrário, agora é que me apetece começá-las. Talvez porque o Verão só agora é que assentou meteorologicamente ou porque só agora é que despertei para a ideia, o que é certo é que só recentemente comecei a sentir a mística da noite de Verão.
E o Verão convida à festa, à noite, às ruas cheias de gente. No último fim-de-semana, tive a possibilidade de assistir a metade de um dos espectáculos do Festival ao Largo e, além do enorme prazer que me deu assisti-lo, acrescentou-se o bem-estar de desfrutar de uma noite lisboeta cheia de gente, de vida e de animação.
Agora, as noites enchem as ruas e vice-versa, deixando no ar aquele brilho dos passeios nocturnos à larga, como nas férias de verão na praia, em que se saboreiam gelados fora de horas e se fazem compras em bancas improvisadas. O verão tem dessas coisas e, agora que somos adultos, é bom poder desfrutá-lo mesmo nas nossas cidades. Nesse desfrute tornam-se ainda mais apaixonantes.
A mim e àqueles que, como eu, ainda não partiram para a costa e ainda estão nos seus trabalhos e trânsitos, é a noite que nos chama, restaurando a luminosidade do dia seguinte.
Mudando de paisagem, apetece também sair da cidade e renovar o olhar, inspirando o mesmo prazer da brisa fresca da noite. E deparei-me então com este outro festival, para os lados do Alentejo, que mistura urbano e rural, que parece ambicionar a essa mistura boa de fazer tudo e nada fazer.
É um pouco assim o Verão, mesmo sem férias. Tudo corre, tudo puxa, tudo é uma esplanada em que nada se faz e tudo se é, em que tudo é possível e encontra-se sempre um bom caminho.
Hoje apetece-me veranear para sempre, é um facto.



Imagem do festival Escrita na Paisagem, o tal Festival de Performance e Artes da Terra.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Sede


A UNICEF fez uma acção de rua em Nova Iorque com um impacto extraordinário. Recolheram água suja, engarrafaram-na e colocaram uma "vending machine" a anunciar "Dirty Water".
O filme que podem ver a seguir mostra bem o impacto e o sucesso da acção, mostrando-nos mais uma vez que ideias simples e baratas podem provocar grandes efeitos.
Cada vez se torna mais evidente que para gerar acção nas pessoas é preciso ir ter com elas, surpreendê-las, provocá-las. Na rua, sempre na rua. Já não basta o anúncio bonitinho, é preciso mexer com o dia-a-dia e com a rotina, para fazer a diferença. E quando é por uma boa causa, bem haja o facto de nos alterarem o dia.
E mesmo para quando não funciona para algumas pessoas (como podemos ver no final do filme), funciona para muitas outras. E nessas começará a mudança.





segunda-feira, 13 de julho de 2009

8 minutos para desmontar e voltar a montar

Este pequeno filme de animação de 8 minutos é brilhante.

De uma forma muito simples e clara, coloca uma série de ensinamentos em causa. Principalmente aqueles que nos impedem de ver para além daquilo que nos foi incutido.

A capacidade de vislumbrar a estranheza e não nos sentirmos ameaçados por ela. A capacidade de evoluir com a diferença que felizmente nos bate à porta. Novas fronteiras em oposição a limites arrumados que não correspondem em nada à realidade, em toda a sua força, beleza e diferença.

Quando abrimos um pouco os olhos à diferença, segue-se o coração e depois os braços. E é bom estar de braços abertos para o outro, principalmente depois dos nossos olhos e coração o terem realmente visto.



quinta-feira, 9 de julho de 2009

Mão na boca e areia para os olhos

Só no dia de ontem recebi 4 emails sobre a Gripe A/H1N1/mexicana/suína. Tudo conselhos úteis e relevantes. Todos os dias se ouvem os casos a crescer. A ideia de pandemia cresce, assim como a ideia contra-corrente de que é tudo um esquema mediático das farmacêuticas. Não vou entrar por aí, até porque iria, com certeza, repetir argumentos e chover no molhado sobre um assunto que já está encharcado. A melhor política, parece-me, continua a ser "Eu não acredito em bruxas, mas que as há, há!".

Queria sobretudo falar da relação (muitas vezes inversamente proporcional) entre aquilo que acontece e a percepção do comum dos mortais. Tudo isto a propósito desta imagem.



Reparei nela ontem e achei encantador que se tivesse feito o bonequinho do bicho. Podemos ver a composição genética da gripe: olha aqui está um gene da gripe humana, aqui 2 da saudosa gripe das aves e os porcos, sacanas que vieram dar cabo disto.
Neste cenário, a mim ocorre-me dizer que todos, sentindo-nos impotentes e surpreendidos, precisamos de respostas. Perante uma gripe aparentemente estranha ou outra doença que nos aflige de repente e nos desampara, nós queremos saber porquê e queremos caminhos para seguir.
Este desenho, incompreensível, inofensivo e indiferente, significa a meu ver isso mesmo: um desejo qualquer de materialização do que nos escapa. Como se a gripe tivesse uma cara e, de repente, pudéssemos ver bolas gigantes de Gripe a aproximar-se ou, qual MacGyver, pudéssemos escolher o fio certo a cortar. Lamento, mas nunca acontece.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Os tais novos canais

Ele é twitter, ele é facebook, ele é xiribitatatá... o mundo da internet, com as suas redes sociais, canais de divulgação, plataformas, e urras urras, não pára de evoluir. De tal modo, que já me disseram no outro dia que os blogs estavam desactualizados.
É certo que eu já ando nisto dos blogs desde 2004. Vistas as coisas assim, estou para aqui a escrever posts, ainda que com um ano ou dois de interregno, há quase cinco anos. Em meia década muita coisa acontece - basta olhar para as crianças.
Eu abraço as novas tecnologias de bom grado, mas há plataformas (vamos simplificar) que eu não entendo, ou que pelo menos não consigo acompanhar. Bem sei que, graças à minha profissão, tenho o privilégio e a obrigação de estar sempre ligada, mas neste mundo virtual que a Internet criou há muitas coisas que me escapam. E que quero que continuem assim, enquanto puder.
Habituei-me a ver certos instrumentos da Internet como meios alternativos de contextos comuns não virtuais. Por exemplo, o messenger é um alter-ego distorcido de uma conversa (em modo pior), um blog é uma publicação pública em formato digital, um email é uma carta, um fax, uma circular... Com as devidas distâncias, estes meios partem de algo muito comum na vida social diária para se deslocarem para outra coisa. Mas agora as plataformas estão a criar novas formas de vida social. Estão a liderá-las. Os sms são algo por si só, o twitter também, o Facebook eu sei lá.
Não há nada de mal nisso. Pelo contrário, faz parte da evolução das coisas.
Mas às vezes apetece desligar. E a propósito disso encontrei uma publicidade brilhante. Que me faz pensar que não me importa nada estar desactualizada num certo sentido, se imaginarmos que há livros há centenas de anos.



segunda-feira, 6 de julho de 2009

Desfilemos

Ontem estive no FIG - Festival Internacional de Gigantes, no Pinhal Novo. O festival já vai na 7ª edição e junta a tradição popular dos cabeçudos com o lado mais performativo do espectáculo de rua. Não tive oportunidade de assistir a nenhum espectáculo, mas sim o privilégio de ver o desfile. Em grande festa, com os grupos todos representados, o público pode assistir ao desfile de máscaras e gigantes. Com a presença de vários grupos de percussão, a marcha foi mesmo uma completa animação.

A possibilidade de assistir e/ou integrar um desfile é uma experiência de contaminação. É trazer mesmo a alegria para a rua, a capacidade de nos mostrarmos/olharmos para os outros. E fazer uma grande festa pública.

A pensar nisso, lembrei-me de um outro desfile, a Peregrinação da Expo 98. Já passaram mais de 10 anos, mas a verdade é que muitas daquelas máquinas de cena continuam presentes na nossa memória, ou pelo menos aquela sensação tremenda de estar a ver passar uma das paradas mais espectaculares a que poderíamos assistir. Todos os dias durante a Expo 98, o desfile acontecia, trazendo um imaginário único, cheio de universos alternativos, capaz de cativar todos os públicos, todas as idades.


É esse lado do desfile, transversal, universal e agregador, que me atrai. Seja num acto artístico, seja num acto político, seja num acto popular. Neste acto colectivo de partilha, há lugar para a procissão e para a Marcha do Orgulho.

Um desfile eleva. Tem um objectivo utópico na sua marcha, que se vê na cadência dos que desfilam e na persistência dos que assistem. Um desfile revela-se nas suas passadas. Cresce quando se cumpre o seu caminho, levando consigo mais e mais gente, espalhando beleza, ideias, alegria e festa.

Dá gosto sair à rua.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O que dizemos e o que eles fazem

Qualquer progenitor, e afim, sabe que uma coisa é aquilo que dizemos, mandamos, pedimos, outra totalmente diferente é aquilo que eles fazem. Não porque façam sempre diferente, mas simplesmente porque há um espaço enorme, vasto, amplo entre o nosso "ideal" e a realidade deles. O acto é sempre autónomo, mesmo quando eles são pequeninos, mesmo quando são obedientes. Há sempre uma margem intransponível da incógnita.

Por isso, é que são fantásticos, extraordinários e, tantas outras vezes, exasperantes.

Esta pequena reflexão, pequeníssima, sobre o mundo das crianças que só elas podem dominar, vem a propósito desta campanha de um plano de saúde infantil. Com uma abordagem muito simples, bem humorada, e visualmente muito imediata, a campanha transporta-nos para esse mundo do que nós dizemos e aquilo que eles fazem. Para colocar-nos obviamente no terreno movediço da dúvida, do medo, da insegurança.

Porque sabemos que é mesmo assim, esta campanha funciona. Eles vão sempre fazer qualquer coisa perigosa, excessiva e imprevisível. Porque são livres num sentido muito próprio, são desprovidos da constante auto-censura. Nesse sentido, são brilhantes e inventivos. Nesse sentido, são um potencial perigo.




quinta-feira, 2 de julho de 2009

Bons momentos




Ontem vi a versão portuguesa deste anúncio do papel higiénico Colhogar e achei brilhante. Não estava minimamente à espera de nada do que se passa ali e fartei-me de rir.
Acho que tudo o que se passa numa casa de banho com papel higiénico tem potencial cómico. É o nosso lado mais infantil a rir-se da palavra "cocó" e dos puns dos outros.
Mas à parte disso, o que gosto mesmo é dessa ideia de que há um momento de fantasia e catarse individuais durante o tempo de sanita. Pensar naquele momento universal como um refúgio do indivíduo é algo cómico e generoso. É reconhecer em cada um de nós uma fracção exclusiva, única e que não é para partilhar. Mesmo que seja no cocó.
É generoso no sentido em que se reconhece no outro também esse espaço e essa "poesia". Ainda no passado fim-de-semana, pude testemunhar dois casais a discutirem a questão "tempo de lazer na sanita".
Seja com leituras rápidas (ou não...), seja sudoku ou palavras cruzadas, seja brincadeiras com o papel higiénico, seja simplesmente 3 minutos de puro silêncio (ou quase) e isolamento, é um momento que deve ser bom para quem nele está.
O anúncio é cómico, é simples, é eficaz. Eleva a fasquia do disparate individual e privado e eu gosto disso.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

meio cheio meio vazio

Há uns dias atrás deparei-me com 3 garrafas antigas de Água da Bela Vista. Achei curioso que tivesse havido uma água proveniente do "famoso" bairro problemático de Setúbal, que há umas semanas atrás inundou os media. Não sendo uma conhecedora da história e da vida de Setúbal, tenho actualmente laços fortes à cidade e, daí, ter-me surpreendido ainda mais.

A problemática Bela Vista já me era teoricamente familiar e impressionou-me mais uma vez, na altura da exposição mediática, a forma como os meios de comunicação em geral se portam como abutres, indo buscar o que lhes interessa, como se o tivessem descoberto, para depois o abandonar quando já não lhes interessa.

Mas este post tem a ver com a água. A ideia de que neste bairro já existiu uma nascente de água capaz de produzir água de mesa é fascinante e impele-nos a questionar por que não se potencializa isso na "regeneração" do bairro. É claro que falo de cor (ou seja, do coração) e não faço a mínima ideia se tal ideia poderia ser aproveitada.

O que sei foi o que encontrei aqui e, ao que parece, a água era termal. Tinha efeitos terapêuticos reconhecidos, existindo casos e registos dos seus bons efeitos. Agora, a antiga zona de captação, marcada por uma torre, está ocupada por um supermercado e seu estacionamento. A água existiu até finais dos anos 60. Em 70, a Quinta da Bela Vista deixou de ser uma quinta para passar a ser uma urbanização social.

Às vezes, perguntamo-nos como é que tudo está às voltas, como é que as coisas chegam onde estão. E depois vamos reconhecendo os pequenos pontos no caminho e na falta de visão que nos impediu e impede tantas vezes de percorrê-lo no melhor sentido*. Seja como for, o que fazer com isto agora? Há-de haver algo.

Deixo então aqui uma imagem de uma garrafa da Água da Bela Vista. Esta um pouco ferrujenta e mais velha do que aquelas que encontrei, mas talvez mais fiel à visão actual do bairro.




*Enquanto andava às voltas à procura de coisas sobre esta água, deparei-me com um testemunho de uma professora da Escola Secundária da Bela Vista, que também cresceu no bairro. No texto, fala de quando ia buscar água à fonte, da escola em que andou e em que depois leccionou. Constata a sua mágoa pelo fim anunciado da escola, pois pelo que parece as escolas foram extintas/banidas do Bairro da Bela Vista. E mais uma vez vamos reconhecendo esses pontos de viragem decisivos.