terça-feira, 30 de junho de 2009

Forçar a barra*

Já há que tempos que ando a olhar para a campanha de um cartão de crédito estrangeiro a tentar percebê-la. Apanha em expressões portuguesas que depois traduz em imagens. O conceito é giro. São expressões idiomáticas cujo duplo sentido pode dar azo às confusões que essas imagens apresentam.

Há o exemplo da bucha, que na expressão quer dizer sandes mas também aquele pedacinho de borracha que usamos para assegurar um bom trabalho de bricolage com os parafusos. Se formos ao dicionário, vimos que bucha é muito mais que isso, mas isso são outros 500 (olha, outra expressão sem preço). Há o exemplo do macaco, que é um animal mas que também é uma máquina de solevar grandes pesos. E ainda a história de dar corda à cebola, que confesso nunca tinha ouvido em toda a minha vida.



Está giro, ai que giro, embora com uma imagem duvidosa. Mas porquê? Por que raio estes senhores apresentam esta campanha? Ah, ok não tem preço, que é tipo uma assinatura da marca. Giro.

Mas a verdade é que eu olho para os outdoors, para os mupis, para a parafernália de coisas que eles têm espalhadas por aí e custa-me a perceber. Que eu saiba, estes senhores não são portugueses. Não há qualquer associação desta marca a uma ideia chanfrada de portugalidade.

Então leio isto e percebo (só para não me incomodar muito mais com este assunto). Faz parte de uma estratégia da marca de aproximação aos portugueses (e a outras culturas, porque noutros países fizeram o mesmo). É uma verdadeira estratégia de afirmação de posicionamento. Eu até acho bem. Lá está, é giro. Mas quem são estes senhores? Eles são caras anónimas e cinzentas que nos dão soluções de pagamento, crédito com juros será?, ou seja lá o que for. É só isso que são, uma mega gigante empresa que lucra com transacções. Apetece dizer "ei, amiguinhos, estamos em crise, sejam honestos, não há cá nós e não nos queiram falar ao coração, porque não cola".

Se calhar, simplesmente não percebi. Porque está giro.

*forçar a barra também é uma expressão idiomática do Brasil, acho. Não tem preço... principalmente porque ninguém cobra direitos. Se não, já estava a usar o meu cartão de crédito.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

À nossa!

No fim de semana, foi o Dia do Vinho. Embora não o tenha celebrado efectivamente no fim-de-semana nem sequer ter participado nesse evento, gostei da ideia de pegar numa garrafa especial, abri-la e saborear o seu interior, só para comemorar esse privilégio de termos uma tão boa cultura vinícola no nosso país.

A pensar nisso e não podendo partilhar aqui um copinho, decidi partilhar o exterior de algumas garrafas de vinho. Não faço ideia como será o vinho que contém, mas que têm um belo visual, disso não há dúvidas.






Um rótulo ou uma embalagem têm um grande poder de atracção sobre o consumidor, mas este é tão variável que não há fórmulas perfeitas que resultem com toda a gente.

Se uma embalagem como esta me impeliria para comprar o vinho, será que poderia influenciar o meu gosto sobre ele? Até que ponto vai a força da imagem?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Estranho

Não há como contornar hoje esta notícia da morte do Michael Jackson. Um ícone desta dimensão, que atravessou décadas mantendo o epíteto de Rei da Pop (mesmo quando não fazia nada de jeito), leva consigo um vazio, trazendo o choque da notícia. É algo que não se está à espera: o Michael Jackson morrer.

Não sou particularmente fã. Melhor dizendo, gosto muito de algumas músicas dele, cujo talento é indiscutível. Mas a figura deixou de me cativar. Não fui indiferente à mutação nem às acusações criminais, fundando-se em mim uma inevitável repugnância.

No entanto, era o Rei da Pop e isso não é para pôr em causa. O disco mais vendido de sempre é dele e agora ainda mais.

A estranheza da notícia acompanha a estranheza da sua própria vida (ao contrário da sua música, nada estranha). Esta é uma figura ímpar a nível artístico e mediático, ao nível da ainda viva Madonna e de muitos outros mortos que são únicos e incomparáveis (a lista seria longa, mas basta um Elvis para equiparar).

Não se descola da nossa cultura a figura de Michael Jackson. Ele está lá e aí permanecerá nas suas mil caras. E esperemos na sua música. Eu deixo uma cara do início, em que tudo ainda estava por trilhar, o início do ícone, da música, da bizarria. A simples promessa de génio.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

à nossa imagem

Esta campanha para a adopção coloca o dedo na ferida. Um dos desejos dos pais é ter filhos à sua imagem. Uma expectativa absoluta e quase inconsciente de encontrarem nos seus filhos um reflexo de si mesmos. É natural, é normal.

Por isso, em muitos casos de adopção principalmente em casais que não podem ter filhos, imprime-se essa vontade: encontrar um bebé que se pareça fisicamente com os progenitores.

O que esta campanha nos diz é extremamente simples: os nossos filhos serão sempre nossos. E isso tem a ver com a escolha e tem a ver com o amor. Pode haver amor sem escolha, mas dificilmente há escolha sem amor, quando se trata de crianças. Talvez porque elas parecem ter sido feitas com esse ingrediente secreto. Foram feitas para serem amadas. Quem adopta, quem faz uma escolha por uma criança, sabe disso. Eu escolhi amar esta criança, e isso é decisivo. É isso que a torna nossa.

E será sempre à nossa imagem. Pois não há reflexo mais profundo na personalidade de uma criança do que a dos seus pais. Pode não ser tão evidente, nem tão "bonito", como as feições, mas é muito mais poderoso.


quarta-feira, 24 de junho de 2009

o valor social da coisa

Um dos dilemas persistentes neste meio, ou pelo menos nalgumas pessoas (pronto, em mim), é o valor social da comunicação, o seu contributo para a sociedade. O design não vai salvar o mundo, como diz a imagem aqui do lado, mas pode dar um jeitinho ou, pelo contrário, estragar tudo.

Aprendi a viver com isso e, nos entretantos, vou encontrando formas de colocar esta especialização da comunicação a favor de valores positivos para a sociedade. Quem somos define o que fazemos e, por isso, uma parte de nós também é definida pelo que fazemos. Manter essa dialéctica em equilíbrio é uma luta constante da qual nem sempre temos consciência.

Ter noção do que se transmite e do impacto que pode criar nos outros é um passo decisivo para podermos contribuir subtilmente para mudanças sociais e de mentalidades ou, pelo menos, não ajudar a manter códigos negativos.

Dentro desta reflexão, há no entanto momentos na profissão Comunicação em que podemos mesmo ajudar a uma sociedade melhor. Quando o cliente é uma organização com objectivos sociais, é como se finalmente estivéssemos do lado certo e, em vez dos sabonetes, podemos "vender" causas.

A Osocio é uma organização que promove publicidade social e campanhas não-lucrativas a nível internacional. Lançou recentemente uma campanha para publicitários, promovendo isso mesmo, provocando-os a envolverem-se em causas da forma mais eficaz que têm ao seu dispor: a sua ferramenta de trabalho. A campanha, muito bem esgalhada, pega numa característica infelizmente comum neste meio, a vaidade e uma certa snobeira, comparando os prémios que se ganham a causas realmente importantes.

É também por isso que, às vezes só às vezes, esta profissão é apaixonante. Não só pelo que podemos comunicar, mas também pela faísca da ideia - aquele momento em que encontramos uma forma realmente boa de fazer passar uma mensagem, mas isso já é outra história.




terça-feira, 23 de junho de 2009

o mundo como o conhecemos...

O nosso mundo está ameaçado. Às vezes sentimos, outras esquecemo-nos. Há situações e momentos em que se torna incontornável ver a ameaça. Mudanças radicais provocadas por alterações climáticas acontecem em pessoas e espécies. Os animais vêm o seu habitat reduzido a nada. Quando desaparece a casa, desaparece a sobrevivência. O planeta Terra em completa mutação, mas nós somos humanos, mestres em sobrevivência. E, no entretanto, nada será como foi, é, tem sido. Muda a cada instante. E nem o sentimos.

Este filme é implacável nisso. E, apesar do absurdo, quando o comparamos com a imagem final, não há como deixar de sentir.




Totalmente diferente é este filme publicitário do Museu de Natureza e Ciência de Denver. Muito bonito e engraçado. Mas depois de vermos o primeiro, pensamos em como seria impossível um dinossauro sobreviver hoje. Não há espaço para ele.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Conta lá outra vez

Passados 25 anos da sua produção, eis que revi o filme "História Interminável", marcado em mim pela imagem de um cão voador e uma canção gira para dançar em festas dos anos 80.

Assisti ao filme este fim-de-semana, com 4 crianças à volta, e é gratificante e enternecedor testemunhar que uma boa história vale muito mais que 25 anos de inovações em efeitos especiais. Continua a resultar, a ver pela reacção dos putos. Sentiram medo, espanto, alívio, riram-se, saltaram de felicidade e comoveram-se, como as crianças das outras gerações.

E eu lembrei-me que não era um cão voador, mas sim um dragão sem asas, o Falkor!



Um mundo de fantasia que depende dos humanos para subsistir, a demanda de um muito jovem guerreiro que se confunde com a personagem do outro miúdo leitor, conseguindo juntos salvar aquele mundo quase destruído pelo Nada... tudo são grandes ideias. E, principalmente, conseguem tornar o filme uma verdadeira aventura para quem o vê, cheio de situações e momentos empolgantes e mágicos.

Ao fim de 25 anos, rimo-nos dos efeitos especiais. Mas continuamos a acreditar. Acreditamos que o Folkar é fofinho e que é possível uma criança salvar toda a imaginação simplesmente por desejá-lo.

Uma boa história é intemporal. E, é claro, interminável.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Zack

Este filme viral da tampax é qualquer coisa de extraordinário: um rapaz de 16 anos que de um dia para o outro deixa de ter pénis para ter vagina.

Não só é um retrato cómico-social engraçado sobre diferença de géneros, como é um excelente objecto de comunicação de marca. Nos dias que se seguem, o Zack vai caminhar até ao dia D da sua primeira menstruação.

Este é mais um exemplo de outros meios disponíveis às marcas para interagirem com o público. De um dia para o outro, em vez de se fazerem spots de 30 ou 60 segundos, faz-se uma curta-metragem, que nos prende a atenção do princípio ao fim.

São 12 minutos que vale a pena ver.


Sacado legalmente daqui.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

entrar sem bater

A violência doméstica é uma das enfermidades graves que contaminam a nossa sociedade. Está presente na nossa cultura em surdina e, tantas vezes, em silêncio. Essa é uma das razões por que é tão difícil combaté-la. A prevenção e o combate à VD passa muito pela quebra do silêncio e pela coragem da denúncia.

O virar de cara, o fechar de olhos, a anuência silenciosa, são práticas comuns entre os "espectadores", que se escondem ainda numa mentalidade de "entre marido e mulher, não se mete a colher". Compromete-se assim o fim das situações de violência, como se o final coubesse apenas aos seus intervenientes, desresponsabilizando-nos do papel efectivo do conhecimento. Quem conhece, deve actuar. Saber e calar é pactuar com a perpetuação da violência, é ser cúmplice da agressão.

Nesse sentido, a campanha que a Amnistia Internacional Portugal lançou em casas-de-banho de bares é um verdadeiro gesto para inverter essa mentalidade. Compromete de forma directa o público, interagindo com ele de uma forma impactante e, diria, até brutal. Cliquem na imagem para ver melhor.




Colocar sangue nas mãos das pessoas é um envolvimento directo e claro naquilo que se pretende transmitir. Não há como contornar, como não reflectir. A campanha coloca-nos em cheque.

Cada vez mais, a interacção com o público não passa pelos meios comuns (anúncios TV, outdoors, mupis, imprensa, rádio). Para ser eficaz, a comunicação hoje vai directamente ter com o público, interagindo com ele de forma muito mais presente e incontornável. Seja a nível político-social ou meramente comercial, quando uma pessoa é abordada desta forma dificilmente se esquece, pois o impacto criado é intransponível.

Num nível totalmente diferente, de mensagem e de qualidade criativa, deixo-vos outra campanha que interage com o público nas casas-de-banho públicas.



quarta-feira, 17 de junho de 2009

é para aparecer

Pelo que representa para todos nós enquanto sociedade, enquanto pessoas... Pelos sonhos, pela esperança, pela importância do momento.

Não é pelas imagens (banco de imagem?) que vos deixo este vídeo. É pela mensagem. É pela participação, é pela mudança.

Porque nos diz respeito.





Mais informações aqui.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Pára esse nadador!

Há o planeamento familiar, as medidas anticoncepcionais, a legalização da Interrupção Voluntária da Gravidez... e depois há a comunicação das marcas de preservativos.

Prazer sexual, inovações estéticas e sensoriais, segurança são algumas tónicas dominantes da comunicação. Uma campanha como esta é que nunca tinha visto.

A Wptt Contraceptive, uma marca chinesa de preservativos, lançou uma campanha e embalagem que coloca toda a função do anticoncepcional numa nova perspectiva: as tragédias que pode evitar.




A ideia é cómica e trágica! Imaginar um mundo em que os pequenos hitlers, saddams, bushs e salazares nunca tivessem existido é uma benção gratificante. Imaginar que há por aí outros pequenos nadadores potenciais loucos tiranos já é outra história - poderá ser até bastante inibidor.

Seja como for, a campanha está muito bem pensada e tem graça. E foi, ainda por cima, um sucesso. À conta disto, parece que as vendas subiram 21%. Evitando-se assim eventuais consequências tramadas.





segunda-feira, 15 de junho de 2009

As crianças a crescer

As crianças carregam consigo um mundo enorme, um universo em expansão, pleno e em superação. Um mundo que é só delas. Um mundo que representam para aqueles e aquelas que as amam. Um mundo outro, desconhecido e invisível, de possibilidades. Um mundo de amor e de frustrações.

Para além desses mundos ou a partir deles, nascem as imensas e diversas variações (cósmicas, muitas vezes) de consumo e de mercado. Umas são para agradar aos graúdos, outras aos pirralhos. Umas são de massas outras são de nicho, funcionando estas muito melhor para os adultos, que são facilmente seduzidos pela ideia da diferença. Claro está, porque as suas crianças são sempre especiais. E são mesmo.

E vem isto a propósito, não só do meu constante e profundo interesse naquilo que trata das crianças, mas também desta coisa maravilhosa e querida que me entrou pelos olhos adentro: um kit Fada dos dentes.




Esta personagem da Fada dos dentes é uma invenção com que qualquer um simpatiza. Colocar o dente de leite debaixo da almofada e receber, em troca, uma moeda ou uma prendinha representa a ideia de conquista que o crescimento acarreta. Não que ache que tudo precise ser recompensado. Mas, neste caso, trata-se de uma perda aparente que representa muito mais que isso. Que melhor forma de o ilustrar que a valorização daquele elemento perdido por uma fada? Um elemento que marca o fim da meninice e o começo de algo cada vez mais complexo e exigente.

Este Kit é, por isso, sobretudo para os adultos, que reencontram, nos seis, sete anos das suas crianças, uma variação do livro do bebé, onde podem registar estas pequenas grandes mudanças da queda dos dentes. É claro que podem agora fazê-lo com a cumplicidade e com a deteminação dos pequenos, o que torna o processo ainda mais fascinante. Eu fiquei com vontade de comprá-lo, aqui, mas já não vou a tempo.

Ao mesmo tempo que nós, adultos, somos presenteados com estes pequenos detalhes, exclusivistas, diferentes e especiais, vemo-nos confrontados com os fenómenos infantis de massa, que dificilmente conseguimos compreender. Um exemplo? Os gormitis, os bichos mais feios de que há memória. Mas há outros cuja adesão nos provoca completa estranheza, muitos mais.




Safam-se os que não têm tanto carácter sazonal (lego, playmobil, barbies, nenucos,...), apenas porque já passámos por eles.

Logo se compreende que estas modas permitem muitas outras coisas para o mundo das crianças. O desenvolvimento da sua própria esfera social, das suas relações entre pares, da cumplicidade e da partilha com os amigos. Não sabemos como começam os fenómenos, mas sabemos mais ou menos como acabam. São simplesmente abandonados, para uma nova entrega a outros códigos sociais, adequados ao crescimento.

Uma coisa é certa. A permeabilidade à oferta infantil não é exclusiva das crianças. Os adultos correm atrás dos bonecos da Pomar, dos livros com ilustrações do Bolila, dos kits de Fada dos dentes, dos brinquedos tradicionais, dos slings e da roupa personalizada.

No final, esperamos encontrar-nos todos em algo que nos divirta e que dê ao crescer essa inocência e ingenuidade sincera que permite a expansão destes universos únicos.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

férias

Vou de férias uma semana.

Para um lugar livre de ruído visual. Ainda assim pode ser que me entrem coisas pelos olhos adentro, já que Portugal é terreno fértil para o inusitado e para o belo.

Até lá, deixo-vos com um pensamento positivo para estes dias sem mim.

Volto depois dos Santos (vivam a Marcha da Graça e a da Madragoa!)




P.S.: Aqui ao lado, em "uma coisa para mostrar", deixo uma imagem político-cómica, já que estamos em época de eleições.

P.S.2: já tirei a imagem que estava em "uma coisa para mostrar", mas fica agora aqui, para não nos esquecermos.



quinta-feira, 4 de junho de 2009

Para quem não tem jeito para pedir desculpas

Há sempre soluções possíveis e alternativas para dar a volta a um assunto. Quem sabe até mesmo resolvê-lo. 

O grau de envolvimento de um pedido de desculpa também vem do aspecto formal desse pedido. Já foram vistas as flores, os chocolates, as serenatas, a choradeira, os emails, o jantar... ou, em casos menos íntimos, as sms, as cartas abertas, as adendas, os recados por terceiros... 

Este formulário parece resolver todas as dificuldades básicas de quem não tem grande linguagem emocional ou frontalidade. Além disso, é muito cómico.

Cliquem na imagem, divirtam-se e, quem sabe, enviem-no àquele ou àquela de quem estão à espera que se redima. Caso estejam a adiar umas desculpas esfarrapadas, aqui está a vossa grande oportunidade. Basta clicar, imprimir e preencher.
 
Não se sabe é se a parte ofendida se deixa tocar. Mas não há nada como tentar.


segunda-feira, 1 de junho de 2009

Mudam-se os tempos, mudam-se os meios

A capa da revista New Yorker apresentou uma pintura/ilustração de um designer e ilustrador português, Jorge Colombo. A grande inovação da dita é ter sido feita num iPhone e, neste vídeo, podemos ver a evolução da obra. Ficamos com a sensação da facilidade táctil e da fluidez desta aplicação artística, captando a beleza da construção do processo criativo. 

Desde tempos imemoriais que a humanidade se expressa artisticamente ou, se preferirmos, conceptualmente. Usou de tudo para o fazer. Evolui nos seus materiais, ao mesmo tempo que fez grandes rupturas conceptuais e ideológicas sobre o valor da arte. Manteve-se a mesma necessidade, a mesma vontade.

Ao olhar para este vídeo, nada temo. Pelo contrário, esta capa é uma representação de uma certa democratização da arte. Da apropriação sem pudor dos meios que temos ao nosso dispor para nos expressarmos. Só não é uma utopia, porque é uma aplicação para um equipamento caro de uma marca gigante. Mas, ainda assim, dá um certo conforto imaginar que há limites a serem ultrapassados. Nomeadamente, os limites e as regras dos agentes que balizam o que é artístico ou com potencial de sucesso para as "massas". 

Na música, no cinema e, agora, até na pintura, passa a haver outro tipo de decisores para além das editoras, dos produtores e dos curadores. Há um livre-trânsito que faz muita gente destacar-se. A arte não deve ser banal, mas deve estar banalizada, ao alcance de quem a quer e de quem a faz. 

Em outras questões, as novas tecnologias assustam-se um pouco. Quando as vejo assim aplicadas, o medo desaparece um bocadinho. Porque, ao contrário de jogos, chats, etc., aqui a tecnologia não limita, antes potencializa uma grande expansão, individual e colectiva.