segunda-feira, 30 de novembro de 2009

escala essa montanha, irmã

Ando há uns dias a ouvir no carro a banda sonora da "Música no Coração". Não o faço simplesmente por adoraaaaar o filme, as canções, a Julie Andrews. Mas principalmente porque o miúdo anda com uma vontade compulsiva de ouvir o dito CD. É certo que há razões de compromisso escolar associadas - parece que a festa de Natal vai envolver parte das músicas - mas a verdade é que até foi ele que sugeriu isso à professora de Inglês.
Pois bem, depois da constante audição da banda sonora, ontem dedicámos parte do nosso tempo a rever o filme. E aquilo que já andava a pensar nestes dias confirmou-se: o filme é intemporal e conquista sempre as crianças. Não pelo conto de fadas da ama que casa com o pai de sete filhos (isso já é batido e está longe de ser a parte mais emocionante da história), mas sim porque existem 7 miúdos de idades diferentes a divertirem-se que nem loucos e ainda por cima fartam-se de cantar e correr em prados verdes. A Julia Andrews faz o que é preciso e fá-lo como ninguém. É impossível não adorar o lado absolutamente livre e endiabrado da Maria, a sua ternura com as crianças e aqueles agudos inigualáveis.
Eu sou fã, é verdade, acho que é um dos grandes filmes da história do cinema, que deve mesmo ser repetido todos os natais. Mas independentemente desse meu lado já rendido, o filme resulta. É claro que resulta, porque hoje, passadas não sei quantas décadas, continua a cativar fãs novos, sem o mínimo de esforço.
A seguir vamos para a Mary Poppins e, daqui a uns aninhos, para o "Victor Victoria" que é brilhante para o seu tempo. Para ver se os filmes mais emblemáticos da Julie Andrews continuam a resultar assim.

Para mim, uma das melhores cenas do filme é quando a Maria sai do convento para ir conhecer, pela primeira vez, aquela prole, com a canção "I have confidence in me" e era essa que queria partilhar convosco. No entretanto, encontrei esta montagem de um trailler falso que consegue transformar um dos filmes mais encantadores de todos os tempos num petrificante filme de terror. Muito bem feito e para rir.
Para quem nunca viu "Música no coração" (não sei se tal é possível), não se deixe enganar pelo trailler. É tudo maravilhoso no filme, excepto os nazis, é claro.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Protestar compensa

Hoje estou especialmente contente. A razão talvez seja pequena, mas na verdade sabe-me a grande. Uma palavra no dicionário mudou por minha causa. E estranhamente isso dá-me a sensação de influir na percepção de todos aqueles que, no futuro, consultem esta palavra que mudei. Mérito também para o Priberam, que aceitou a minha sugestão e reclamação, mudando o significado da palavra cavalona.
Se, agora, forem ver o link, além de encontrarem o significado de cavalão, verão o significado informal de cavalona como "mulher alta e corpulenta". Ontem, no entanto, não era esse o significado que estava estampado. O que era referido era que uma cavalona supostamente seria uma "mulher alta com andar e gestos impróprios do sexo". É claro que tive de me insurgir e enviei este email (cliquem para ver melhor).

Estou a partilhar isto por dois motivos:
1. Pelas razões apresentadas no email. O que será isso de "gestos impróprios do sexo"? Como se transforma algo tão subjectivo e estereotipado em algo objectivo como um significado de dicionário? Pelo erro crasso de confundir uma construção social (o género) com o sexo em si. Pelo acto irreflectido que um Dicionário não pode cometer.
2. Pelo resultado. Eles responderam-me e mudaram o significado, como podem ver no site. O que significa que estão atentos e dispostos a mudar se acharem pertinente. E, mais importante, significa que nós temos uma voz. Que cada um de nós deve falar, indignar-se, protestar, quando algo acontece à nossa frente, pelos nossos olhos adentro, que nos choca, ofende, magoa.

Acho que todos podemos fazer a nossa parte. Devagar ou aos poucos. Sem sequer saber que estamos a fazer a nossa parte, mas que estamos sim a deixar a nossa voz falar.
Por causa disto tudo fiquei com esta canção na cabeça, partilhando assim um pouco desta motivação em fazer algo pequeno que pode mudar as coisas, mesmo as mais insignificantes ou as cavalonas.



quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Corta!

Hoje é Dia da eliminação da Violência contra as Mulheres e nunca é demais puxar este assunto, porque infelizmente a luta ainda faz todo o sentido. Segundo dados da APAV, o número de crimes de Violência Doméstica aumentou 9% no 1º semestre de 2009 face ao de 2008. No entanto, isso não quer dizer necessariamente que os crimes aumentaram, antes reflecte uma maior consciência do problema e uma maior capacidade de denúncia.

Falar, intervir, não calar é desocultar este fenómeno, infelizmente demasiado comum em Portugal. Quantos e quantas de nós já testemunharam ou sabem de alguém que foi vítima? Quantas de nós poderão ainda esconder uma situação dessas nas suas vidas, passadas e presentes? A Violência contra as Mulheres é uma realidade demasiado evidente aqui, como mostram as notícias recentes, mesmo sendo crime. Noutros pontos do Mundo, nem sequer é crime, antes hábito instituído e aprovado pela sociedade.
Temos de fazer a nossa parte. Dizer basta! Nunca olhar para o lado, nunca esperar que passe. Por todas as mulheres que morreram, sofreram e sofrem. Por todas as mulheres, que vivem no permanente medo, desejando apenas a normalidade e o fim da constante ameaça. Por todas as mulheres que virão.
Hoje, há mulheres e homens no nosso país que fazem do seu trabalho uma luta diária contra estas situações, acompanhando vítimas e desocultando situações, prevenindo e mudando mentalidades. Elas e eles também merecem que os demais cidadãos façam a sua parte.

"Não é altura de dizer corta?" é como acaba este filme incrível de 2 minutos contra a Violência Doméstica. Protagonizado pela bem conhecida actriz Keira Knightley, o filme é brutal, não só pela Violência que transmite mas também pela angústia que a antecede. Aconselho a ver e os mais sensíveis que se cuidem, porque também eles serão eventualmente chamados a gritar Basta! Ninguém pode estar sozinho numa situação destas.



Noutros moldes totalmente diferentes, esta campanha dinamarquesa faz uma interessante chamada de atenção para os quadros bonitos que escondem a mais dura das verdades. Trabalho de pormenor e detalhe, totalmente diferente do filme inglês, é no entanto extremamente acutilante na abordagem. Cliquem nas imagens para verem bem.




E para não esquecermos que a Violência Doméstica não é apenas um problema dos casais heterossexuais, aqui fica uma imagem da campanha da APAV contra a violência entre pessoas do mesmo sexo, desenvolvida, com muito orgulho meu, pelo meu primo Rodrigo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Não tão lenta assim...

Pois que há coisa de um mês o meu carro foi assaltado. Usaram um método que gosto de chamar de abre-latas, que consiste em abrir a porta por cima, deixando uma abertura que pode ir dos 5 aos 15 cm. A minha abertura estava na ordem dos 20 cm, mas sabem como eu gosto de ser exagerada. Apesar do choque inicial de chegar ao carro e ver o meu carrinho violado, com CD espalhados pelo chão, o dano não foi grande. Aparentemente, os gatunos não têm o mesmo gosto musical que eu, mas gostam de mochilas de natação de miúdos de 8 anos, vai-se lá perceber. O meu seguro cobriu o dano. Para poder activá-lo, tive obviamente de me dirigir à Polícia e até não correu mal, tirando o facto do sistema informático estar com problemas e ter demorado por isso uma boa hora e meia no processo. Mas fiquei razoavelmente impressionada. Fui atendida por dois jovens e um deles até me falou de um caso de vandalismo a um veículo deles, quando foram atender um caso de Violência Doméstica. Pareciam estar do lado do bem no combate ao crime.

A dada altura, porém, depois de fazer o levantamento daquilo que tinha sido roubado (touca, chinelos, tanga e óculos numa mochila velha), o sôr agente perguntou-me se queria fazer uma queixa-crime. Não foi este o termo que ele utilizou, mas a pergunta consistia basicamente em querer saber se eu queria abrir um processo civil, dado o valor do roubo. Achei estranho, porque na verdade pensava que este tipo de crimes tinham de ser avaliados pelas forças da lei e não por mim. Disse que sim por descargo de consciência, mesmo não sabendo exactamente o que implicava, mas que percebo eu de leis e de quadros legais? Imaginei que eventualmente voltariam a chamar-me para depor, fazer um reconhecimento numa fila de suspeitos, eu sei lá, um ou dois episódios de uma série manhosa da Fox Crime.
É claro que eu sabia que era improvável, até porque, convenhamos, eles nem sequer viram o carro. O perito da Seguradora deve ser mais CSI que a nossa polícia. De qualquer modo, estava aberto o processo.
Há coisa de uma semana, recebi um postal (sim um postal) da PSP que dizia muito singelamente que o processo tinha sido arquivado. Assim, sem mais. Por falta de provas ou indícios para perpetuar a investigação. Pois. O papel que eu assinei deve ter entrado directamente nos processos para arquivar, é claro, e só por isso é que demorou 2 a 3 semanas a ser arquivado, pois teve de seguir os procedimentos.
Fiquei a pensar por que dizem que a Justiça é lenta em Portugal. Alguém quer mais rápido que isto? Abri o processo e eles rapidamente o fecharam. As Soon As Possible.
É verdade que: 1. eu pude fazer a queixa em qualquer esquadra (para quê informar a esquadra da zona que está a haver assaltos por ali?); 2. Nem me viram o carro (mas para quê se isso é coisa de peritos?); 3. Eu queria mesmo era o papel para a Seguradora (para quê utilizar os meios policiais para apanhar gatunos?).
Por mim, tudo bem. Não estava à espera que, sem qualquer investigação, se chegasse sequer a um suspeito. Mas soa estranho e é principalmente bizarro todo o processo. Talvez se me tivessem dito desde o início que era isto que ia acontecer (o que também cairia mal e provavelmente escreveria aqui mesmo sobre isso), talvez talvez eu pensasse no impacto ambiental da minha acção. Já que não ia ter impacto social, ao menos não se teria utilizado tanto papel.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

uma grande aventura

Este sábado, fui assistir ao espectáculo D. Afonso Henriques no Teatro Nacional D.Maria II. Esta revisitação ao repertório do Bando revelou-se um daqueles momentos de encontro perfeito de uma peça com o seu público. Reencenado vezes sem conta desde 1982, este espectáculo infanto-juvenil tem agora, na sua mais recente encenação, alguma da nata dos jovens actores "associados" ao Bando. Guilherme Noronha faz um espectacular Afonso Henriques, cómico e possante como só ele pode ser e todo o restante elenco (a minha Sara de Castro, Ana Brandão, Nicolas Brites e Miguel Jesus) contribui para uma festa de teatro, em que todos podemos entrar para passar um tempo de excelência e diversão.

Com inteligência, humor e um sentido apuradíssimo do que é um teatro envolvente e motivador para o público, João Brites consegue mais uma vez trazer-nos um espectáculo doce, violento, cómico, trágico, tudo num só trago, no formato mais feliz de todos: para crianças. Eu fui com duas e foi um fartote. A excitação foi tal que tivemos espadarias até à noite. Para maiores de seis, a partir daí é para todos, D. Afonso Henriques mistura a História "oficial" com memórias e relatos alternativos e com alguns perlimpimpins do improviso e gozo dos actores. Tudo com música, muita alegria e bravura.
A ver e a rever. Porque uma peça do Bando nunca termina de facto. Essa é uma das suas grandes virtudes.


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

mais uma vez... nuestros hermanos

As Secretarias de Estado da Educação e da Juventude da Estremadura lançaram uma campanha para os jovens que inclui um curso de educação sexual bastante explicativo para jovens dos 14 aos 17 anos. Entre uma das temáticas mais importantes está a questão da masturbação. O nome "El placer en tus manos" diz tudo. Pode ler-se mais, aqui em português, aqui ou aqui.


Os pais católicos, os professores conservadores e a Igreja insurgem-se é claro. Isto agora de estar a ensinar sobre sexo colaborando para práticas masturbatórias e incluindo até o uso de objectos eróticos nas aulinhas é demais para aguentar. Imagino que devem estar a pensar: quando é que vão parar de atentar contra a moral? Quando nos deixarão em paz com as ignorâncias e silêncios dos nossos filhos? Deixá-los, pensarão os decisores bem mais progressistas, tão pouco assustados.
Dizem-se orgulhosos de estarem a fomentar a masturbação e, nessa clareza e objectividade, são absolutamente progressistas. Enquanto noutros tempos ou noutros locais se tentaria mascarar esse objectivo para não chocar, para não "fracturar", hoje em Espanha assume-se. Assume-se, entre muitas outras coisas, que a masturbação não é um acto sujo, perigoso, pecaminoso, mas sim um acto que propicia uma vida sexual mais completa, mais consciente e mais conhecedora. Assume-se que é um acto bom. Abordar a sexualidade desta forma global, tratando de afectos, "técnicas" e complicações de saúde, é uma forma nova e equilibrada de encarar este tema, tão intrínseco à condição humana.
O que acho mais extraordinário em Espanha é que estas pessoas não têm medo nem pudor em afirmar as suas convicções, mesmo aquelas com que não concordo. Nesse aspecto, é extremamente admirável.
Não ter medo. ou vencê-lo, é a maior das liberdades.
É bom pensarmos que também podemos ser assim. Um bom exemplo é dado hoje por Miguel Vale de Almeida, em entrevista.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

exemplar único

Hoje vai haver um leilão no CCB dos objectos de António Variações. Que eu me lembre, é das primeiras vezes que isto acontece em Portugal com um artista pop, mas independentemente disso é um momento simbólico. Com bases de licitação que vão desde os €10 (boquilhas) aos €1000 (cassetes com as maquetes das canções - as que foram usadas para o trabalho dos Humanos), parece ser tudo possível para os verdadeiros fãs de António Variações.
O que eu acho mais extraordinário em tudo isto é que este é o artista português com quem um leilão mais parece combinar. Toda a sua persona inspira coleccionismo de objectos e extravagância. Ao mesmo tempo, é o chamado artista póstumo, porque foi demasiado maldito, demasiado mal-amado, "à frente do seu tempo", como dizem. Portanto, o leilão é adequado, mas injusto e frustrante. Porque merecia mais justiça e mais sorte em vida, enquanto artista. De qualquer modo, é interessante e dá-nos essa sensação boa de partilha.
Ouçam aqui a reportagem da TSF, não só sobre o leilão mas também em Fiscal, terra onde está enterrado, tem nome de rua e um busto. Veja-se como se comenta a estranheza que inspirava noutros tempos, assim como a menção a ser "homem sexual", misturada com esse respeito pelos mortos e orgulho de ser da terra. O presidente da Junta queria fazer um museu mas não há dinheiro. Na verdade, Variações não poderia ficar reduzido ou preso a um só local.
Que a parada fique bem alta, é o que desejo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

popota vs. leopoldina

Como se transformam duas mascotes desinteressantes e infantis em duas figuras de animação modernaças e poderosas? É melhor perguntar aos senhores da Sonae distribuição, porque eles parecem perceber do assunto.

Do lado do Modelo, temos uma Popota bomba, cruzando o flashdance com o tarantino, ao som dos Buraka. Do lado do Continente, a perua Leopoldina transformou-se numa versão animal da lara croft preparando-se para ajudar todas as crianças do mundo a invadirem um grande armazém de brinquedos.
De qualquer das formas, estas mascotes sofreram um upgrade brutal face a anos anteriores, colocando-se a anos luz do universo infantil do politicamente correcto. Popota e Leopoldina emanciparam-se, com vantagem, a meu ver, para a Popota, que tem uma auto-estima espectacular e está muito mais na dela. Vai dançando e conquistando as hostes. A Leopoldina por outro lado tornou-se uma espécie de perua mutante (ao estilo das tartarugas ninja), sem asas e com corpo de mulher, o que não está mal para o universo que estamos a falar, mas que não convence. Tem uma carinha demasiado inocente e brincalhona para se tornar uma verdadeira ninja no combate em prol das brincadeiras.
A Popota sai a ganhar, mas é uma evolução gigantesca para as duas mascotes!





Avisa-se que quem vai ao continente ou ao modelo comprar brinquedos, não há popota ou leopoldina que safe. Aquilo é mesmo a loucura e há que aguentar! Cerra os dentes que é Natal.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

todos e todas de pé

Existe a velha piada da criação em que Deus confrontou Adão e Eva com a seguinte proposta: (ler com voz divina) "Tenho duas aptidões especiais para distribuir por vocês, marcando assim o vosso sexo para toda a eternidade!" Adão e Eva aguardaram expectantes. Deus continuou: "Uma delas é o poder de mijar de pé...". Adão interrompeu-o logo, muito entusiasmado: "Eu quero essa, quero poder mijar de pé". Deus, sempre muito calmo e tolerante antes do surgimento das alterações climáticas, disse-lhe: "Mas, Adão, ainda não vos disse qual é a outra.". Adão não queria saber e insistiu ficar com essa habilidade extraordinária, antevendo já anos e anos de mijadelas para árvores, cantos e onde quer que lhe aprouvesse. Como a Eva não parecia muito preocupada com isso, Deus assentiu e deu a Adão o dito poder, para logo em seguida dizer: "Sendo assim, Eva, ficas tu com os orgasmos múltiplos".

Anedotas e mitos à parte, surge agora no mercado, trazido pelos americanos é claro, um novo produto que permite às Evas e às outras mijarem também de pé. Chama-se Go Girl e é um mecanismo (simples até) que permite a uma mulher fazer chichi sem ter de se preocupar em arranjar uma casa-de-banho. Supostamente muito prático e higiénico, o objecto é claramente mais um passo de emancipação. Mesmo que nos pareça supérfluo ou desnecessário, a verdade é que todo o conceito do produto assenta na ideia de autonomização da mulher. Com uma assinatura de produto que diz "Don't take life sitting down", que é algo como não leves a vida a sentar-te, este torna-se mais um veículo de empoderamento das mulheres. Tal como dizem, "You won’t be like a man. You’ll just pee like one.", ou seja, não haverá nada que não possas fazer como ele. Independentemente de querer ou não mijar de pé, poderei fazê-lo. O próprio nome é um sinal desse empoderamento.

Trata-se de um produto comercial e, nesse sentido, torna-se ainda mais fascinante, pois inevitavelmente sugere que o mercado está preparado para isto. As mulheres estão preparadas para isso. Já não aceitam simplesmente as "aptidões que Deus lhes deu" (mesmo que sejam muito boas) e vão à procura de novas, desafiando o que está convencionado e o que é "naturalmente" o seu limite.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

esse lugar mágico

Não foram bem coisas que me entraram pelos olhos adentro que me fizeram escrever este post. Nem sequer foram bem coisas. Foram mais sugestões do meio envolvente que me levaram para aqui, para o reconhecimento desse universo alternativo em que por vezes nos movemos.

Na verdade, isto não tem nada de esotérico ou de verdadeiramente místico, é mais uma assumpção desta coisa de sermos humanos, inteligentes e sensíveis de uma forma muito nossa.
Às vezes somos transportados para lugares que não são estes em que aparentemente estamos. É daquelas coisas que nos fazem realmente sermos o que somos. Temos uma habilidade (quase como quem sabe fazer malabarismo, sim) de nos afastarmos do nosso contexto real para nos projectarmos num outro lugar. Mais do que "simplesmente" pensar, refiro-me a esta constante "invenção", recriação e recreação de nós mesmos. Num simples acto automático, idealizamos o fim-de-semana, vemos as nossas crianças adultas, imaginamos a cara-metade no mesmo instante do outro lado do mundo. De uma forma simples, sem pensar, sem nenhum passo de mágica, tudo vem.

Mas aquilo que gosto mesmo é quando de repente partilhamos os lugares mágicos com a realidade. À semelhança do que acontece com os sonhos. Quando descobrimos segredos de nós próprios, da realidade, da história e dos outros, por nos transportarmos para outros lugares, sejam eles ficção, pensamentos, memórias ou sonhos.
Gostava de saber explicar melhor mas depois não teria tanta graça.


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Uma questão de género

Ontem, o programa Prós e Contras foi sobre a Gripe A. E, para destoar do que costumo ver, a primeira parte do programa foi razoável, sensata e calma (excepção feita aos amoques da senhora apresentadora que a malta já conhece). O resto não vi, não sei, mas, de um modo geral, pareceu-me bastante elucidativo.

Houve, no entanto, um momento daqueles únicos. Daqueles que ilustram o verdadeiro abismo que ainda existe entre a nossa e uma sociedade sem desequilíbrios inacreditáveis de género. O representante do Sindicato dos Enfermeiros estava a expor as dificuldades dos enfermeiros perante um cenário de gripe. Ora, um dos problemas é a falta de pessoal, que se agrava inevitavelmente num hipotético cenário pandémico. Primeiro, porque estão mais expostos à doença, podendo também adoecer, e segundo, porque têm de ir tomar conta dos filhos doentes. E porquê? Disse o senhor numa só frase: "porque esta ainda é uma profissão em que os profissionais são maioritariamente do sexo feminino". E seguiu em frente, atropelando o resto das palavras.
Ninguém reparou, o debate continuou. Ali ficava a ideia dominante de toda a sociedade: quando as crianças adoecem, são as mães que ficam com elas. É à mãe, à mulher, que compete esse papel. Se os enfermeiros fossem maioritariamente homens não haveria problema nenhum. Afinal, não é suposto os pais faltarem aos seus empregos para ficarem com os filhos doentes. Que disparate!
Podia repetir outra vez? Eu sei que o programa não é sobre questões de género, mas repita por favor. As mães é que ficam com os filhos doentes. Nem é preciso questionar, interrogarem-se porquê, é assim.
Não, não é. Não há nada na legislação que diga que são as mães, não há nada no bom senso que o diga - é apenas hábito, preconceito, estereótipo. Felizmente, há pais que faltam ao trabalho quando os seus filhos estão doentes e mães que vão trabalhar. Mesmo que a "sociedade" e o lugar comum nem sequer concebam esse cenário e que olhem de lado os "inovadores progressistas".
Os constantes aconchegos feitos, sem que ninguém se dê conta, a esta perpetuação do status quo da desigualdade de género têm de ser desmascarados, alguém tem de parar e dizer "desculpe, não entendi essa parte do seu raciocínio que supostamente era óbvia". Só assim se darão golpes visíveis a esta constante e enraizada desigualdade - a tal que "nem se nota".

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Diverte-te

A teoria é simples: a diversão muda o nosso comportamento, isto é, se algo nos diverte fazemo-lo com mais facilidade. Chama-se The fun theory e é uma iniciativa da Volkswagen.
Através de um conjunto de experiências, reúnem pequenas provas desta grande teoria. E, bem feitas como estão, é claro que só podiam resultar.
A iniciativa é mais que uma acção viral. Tem um concurso incluído (até 15 de Novembro, corram!) para ideias loucas e divertidas que ajudem a alterar comportamentos. E se forem delirantes ainda melhor.
A imaginação que esta equipa colocou nestes três exemplos que mostro em baixo podia ajudar-nos a salvar o mundo, parece-me. Com tempo e orçamento, nada como a diversão para pôr as pessoas a fazer o que é preciso. Haja alegria e boas ideias.
A Volkswagen, por outro lado, consegue notoriedade e aumenta a boa onda do consumidor em relação à marca. Admiro sempre o arrojo de certas iniciativas que, no final, se revelam absolutamente redondinhas, cativantes, fascinantes e, quem sabe, alteradoras de comportamentos. Uma grande ideia gera gozo e mais potencial criativo. E aquilo que acontece em Estocolmo passa a ter repercussões globais. Todos podemos partilhar enfim o fascínio pela brincadeira e pela simplicidade.