sexta-feira, 30 de abril de 2010

o nosso tempo

Sempre adorei música de outros tempos, especialmente a dos anos 80 cativa-me. Não deixei, por isso, de ouvir música actual, nem decidi fazer uma permanente.
Nos últimos tempos, tenho-me aborrecido um pouco com este revivalismo exacerbado. Já passámos pelos hippies, pelos punks, mas agora esta febre dos 80 está a cansar-me um pouco devo confessar. Os penteados e as roupas estão a ficar demais. Vai-se à zara ou à h&m e há tigrezas, zebras, folhos e chumaços por todo o lado.
Não dá! Ontem, depois de ver isto, disse BASTA!
Cansada do psicadélico barroco, assumi os anúncios do Citroën DS3 como meus. Adoro o conceito Anti-retro e aderi a esta "causa". Eles conseguiram com esta campanha fazer uma coisa excelente: pegaram num sentimento que deve ser comum (este cansaço das décadas passadas) verbalizando-o nos ícones dessas mesmas décadas. Acho muito engraçado por isso. Mas gosto fundamentalmente desta formalização tão fechadinha: anti-retro.
Gosto do antigo, não me percebam mal. Gosto da história e da cultura pop, adoro ABBA e Bee Gees, mas já não aguento ver o mau gosto ressurgir como se fosse uma coisa com pinta.


uma noite destas

Vão até ao GTIST descobrir o novo espectáculo "Intervalo para dançar". E, entretanto, vejam o teaser.


a arrogância prepotente

Há uns tempos atrás, falei aqui da acção das holandesas numas eleições recentes, em que colocaram lenços na cabeça em solidariedade com as mulheres muçulmanas e contra o partido de extrema-direita. A subtileza do gesto individual não diminui em nada o impacto e a dimensão do acto colectivo, tornando-se mesmo um verdadeiro símbolo daquilo que é uma sociedade múltipla, capaz de se construir inter-culturas.
Hoje, o dia é diferente. A Bélgica aprovou a proibição do uso de burqa ou o niqab no espaço público, revelando um profundo desprezo pela liberdade, atentando contra valores tão altos como os que a burqa atenta.
Eu não sei o que esperam os senhores legisladores. Que, por obra e graça da sua lei, essas mulheres e seus respectivos maridos e famílias, passem a abraçar os hábitos ocidentais ou que, simplesmente, deixem de incomodar os restantes transeuntes lembrando-lhes de uma realidade demasiado próxima?
Estas mulheres, com burqa ou sem ela, vivem na sociedade belga, fazem parte dela - há que saber lidar com isso, não esperando que a resposta mais fácil seja a melhor para a sociedade.
Há quem diga "Em Roma, sê romano", argumentando assim que as mulheres de burqa não têm lugar nesta "Roma" que o ocidente criou. Discordo. Na minha "Roma", há lugar para a diferença, para crescermos juntos com as nossas diferenças. A cultura ocidental está longe de ser perfeita, desenganemo-nos, está longe dos valores humanistas que hipocritamente defende. A Bélgica hoje não é definitivamente a minha Roma. Lutarei por essa e pelos direitos da mulher de burqa, cuja ambição não tem de ser necessariamente a mini-saia.
A liberdade não tem um conteúdo consensual. Mas, na essência, é o contrário do que esta lei impõe. Conseguiremos viver com a ambiguidade e, assim, preservar a liberdade ou estaremos prontos a abdicar dela em nome do nosso conceito de homogeneidade?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

objecto vs. sujeito

Muito se falou da campanha da SuperBock Mini Stout. O "É só puxar", associado a um corpo acéfalo de mulher meio nu, caiu mal a muita gente. Achei a campanha gráfica bem fraquinha, básica, sem graça e obviamente infeliz. Não por pudor, ver maminhas roliças não tem nada de mal, mas sim pela objectificação desnecessária. A campanha de TV falava de prazer e tinha um SPA ideal para apreciadores de Stout. Também tinha as "gajas boas", mas elas não eram o centro. O problema foi desviar o objecto do prazer, na campanha de mupis. Em vez do prazer da cerveja, veio outro prazer. Num entanto, esse prazer sexual continuava a ser exclusivo do apreciador de cerveja - "O prazer é todo seu". O "É só puxar" dava-lhe esse lado de dispor como se quer e apetece, e nem por sombras alguém pensava em puxar a tampa da cerveja.


Em anos e anos de campanhas de Marcas de cerveja, o que houve mais foi objectificação da mulher. A Sagres sempre foi exímia na introdução da gaja boa como motor de vendas. Chegou inclusive a comparar as cores da cerveja com a cor de cabelo e de pele das actrizes brasileiras.
É algo a que estamos habituadas/os. Não acrescenta, não valoriza, mas o pessoal da publicidade (das próprias empresas) deve achar que é isso que atrai o consumidor da cerveja.
A meu ver, é porque não valorizam suficientemente o produto. Há grandes anúncios de cerveja. Basta ver os da Heineken, por exemplo. E depois há os outros.
Tudo isto a propósito de um pack desenvolvido por uma Marca holandesa de cerveja, a Bavaria, destinada a mulheres. Este passo "desviante", inédito em Portugal, assemelha-se, por exemplo, à crescente aproximação dos clubes de futebol às mulheres adeptas, numa renovação do estereótipo habitual. Se falo sobre futebol, não é por acaso, porque o que a Bavaria fez foi colocar no pack um vestido/camisola, desenhado por uma estilista holandesa, para apoiar a selecção laranja no Mundial. O que é que os senhores das cervejas pensaram? É óbvio que não precisamos vender cervejas aos homens durante o Mundial (eles fá-lo-ão "naturalmente"), mas e se as puxarmos a elas? Parece-me um óptimo mote. Sem sair das ideias feitas de moda e de "feminilidade", conseguiram ampliar o conceito, conferindo-lhe dois valores habitualmente associados aos homens: cerveja e futebol.


Não fazia mal aos nossos Senhores da Cerveja olharem para estas coisas e perceberem que há um grande potencial de consumidoras a conquistar.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

o utilizador feminino

Hoje passei por uma "Bluestore", que é como quem diz uma loja tmn cheia de tralhas, entre as quais telemóveis, acesso à internet, pacotes de tv, eu sei lá. No meio da panóplia e já quando estava a pagar, descobri algo interessante, deveras interessante. Um stand-up de balcão a publicitar um telemóvel (cujo modelo se chama Diva e a marca começa por S, acaba em G e tem AMSUN no meio - só para despistar). Um dos pontos de venda era, nada mais nada menos, que "Interface de utilizador feminino". Fiquei espantada, intrigada. Nem sequer era um "ideal para mulheres" ou "o modelo mais feminino de todos os tempos", nada disso. É um novo conceito totalmente disruptivo: o utilizador feminino.
Note-se uma vez mais em português: não é a utilizadora - é o utilizador feminino.
Bom... fui tentar perceber o que era isso do utilizador feminino. Estou interessada nestas matérias. Fui ao site da tmn, fui ao site da marca e fiquei com algumas pistas.
Li as "Características diferenciadoras" do telemóvel e passo a citar as que eu acho que se referem aos atributos do utilizador feminino.
Cá está:
. Beauty Effect é uma funcionalidade que permite "fotos com uma luminosidade própria de uma revista de moda";
. depois há o Lomo Shot, que torna as "cores mais vivas e brilhantes", e que ainda permite trabalhar as fotografias "de uma forma artística e original";
. a Wish list, uma Lista de Compras com organização e categorização de compras de "forma apelativa";
. esta é das minhas preferidas, a Fake Call, para receber chamadas falsas quando o utilizador feminino "está numa situação embaraçosa/aborrecida";
. e outras coisas relativas à Internet e às redes sociais.
O que descobrimos nesta viagem?
O utilizador feminino consome obviamente moda, adora cor, quer ter fotos luminosas e tem beauty a sair-lhe pelos poros; é fanático por compras é claro; tem propensão a situações sociais incómodas, talvez por causa do problema dos poros e, claro está, evita o conflito, prefere arranjar uma desculpa.
Se tivesse de pensar muito iria descobrir um ou dois utilizadores femininos nos meus conhecimentos. Mas com este requinte, garanto que seria difícil. Isto é uma versão optimizada da dondoca. E, claro está, o interface de utilizador feminino não tem características diferenciadoras do género "conciliar reuniões com horas de mamadas" ou passatempos para identificar estereótipos do feminino. Mas talvez fosse boa ideia. É que o utilizador feminino não é uma mulher, é uma diva, como o próprio nome indica.
Já para não falar de todos os homens (já não dá para escrever utillizadora masculina - que espanto) que se interessam por moda, cores garridas, compras e fugir com uma péssima desculpa. Esses homens não são destinatários deste produto.
Agora a sério: eu sei que há produtos feitos para mulheres. Pensos e tampões, gogirl, roupa, carros, etc... eu sei disso tudo. Mas há que saber distinguir o que é diferenciador ou exclusivo nos produtos e vendê-los como tal. O verdadeiro utilizador feminino (ou seja, gaja com telemóvel) pode usar qualquer tipo de telemóvel. E há utilizadores, em geral, que prefeririam este modelo - mas isso não faz deles mais femininos. Nada contra a escolha.
Tudo contra a mensagem e o preconceito inerente.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um livro bolha-cósmico


Lucía Etxebarría é uma autora com visão do mundo. Uma visão que me agrada. Desde a desconfiança inicial que senti com um dos seus primeiros livros Amor, Curiosidade, Prozac e Dúvidas - os best-sellers têm esse efeito em mim - rapidamente me cativou assim que me dispus a abrir um livro dela e lê-lo. As suas reflexões sobre as mulheres, o seu feminismo moderno, descomplicado e directo, a sua ausência de preconceitos face à cultura "pop", da qual no fundo faz parte, o seu humor, foram algumas das qualidades que me conquistaram nesta espanhola com nome difícil de dizer.
Há uns sete/oito anos cruzei-me com ela numa fnac. Havia uma daquelas sessões de autógrafos e apresentação de livro (já não me lembro qual), mas devido a um erro no horário na agenda, não apareceu ninguém. Ela lá estava, rodeada com a agente e algumas pessoas da fnac, sentada numa das cadeiras do público a fazer colares de missangas. Na altura, fascinou-me a figura dela, o ar meio desalentado que tinha mas igualmente resignado e disposta a passar por aquilo fazendo mais um colar. Era cómico e doce, lá está. Assinou-me uns livros, trocámos umas palavras e falámos sobre o Caetano Veloso, concerto a que eu assistira na véspera e que ela gostaria de poder ver no concerto do mesmo dia. Enquanto falava comigo mantinha as missangas na mão. De algum modo, aquilo que ali aconteceu tinha tudo a ver com ela. Uma espécie de poesia do dia-a-dia sem grande charme, sem grande cosmética, muito real.
Diz-se realista. Há pouco, encontrei uma entrevista dela porque estava intrigada com este Cosmofobia, que me pareceu demasiado real, mas que depois me esclareceu sobre os seus fundamentos. Na entrevista, Etxebarría fala do seu realismo, daquilo que quer para o seu país, da sua filha e, agora, da sua incursão pela literatura infantil - acho que é uma tentação irresistível para os escritores que têm crianças na sua vida. E às tantas diz "Me gusta muchísimo bailar, creo que es lo que más me gusta en el mundo junto con escribir y hacer el amor." - e eu adoro estas coisas, porque unem a liberdade, a verdade e a alegria. Gosto deste seu realismo real em vez de negro ou simplesmente prosaico.
Etxebarría também é poeta, embora só conheça a sua poesia em castelhano, já que não há nenhuma poesia dela publicada em Portugal. Lembro-me que, até há pouco tempo, os seus livros vinham com uma manga com umas declarações dela numa entrevista em que dizia algo como "sou um ser absolutamente sexual". Acho que foi sempre nesse prisma que a tentaram vender por cá. Aborda a sexualidade de forma directa e fá-lo bem. Mas há muito mais que isso.
Bom, e agora o livro, não?
Não foi o livro que mais gostei dela, mas não deixa de ser cativante. A autora discorre sobre as histórias do seu bairro madrileno, Lavapiés, um "melting pot", em que só existe multiculturalidade e pouca interculturalidade. Com histórias cruzadas, que muitas vezes confundem o leitor, a obra no final marca esse ponto - o de mantas de retalhos em que poucas vezes as ligações são reconhecidas, pelos próprios actores da narrativa. Estamos todos ligados e todos ausentes e auto-excluídos dessa ligação.
O livro tem momentos muito fortes e leva-nos para a torrente das emoções humanas, para as dificuldades de viver e de nos relacionarmos. Como ela diz, na entrevista citada, são personagens que não encontram o seu lugar no mundo, que não se integram. À brutalidade de certas situações junta a magia do invisível noutras.
É isso que gosto nela, essa visão tão clara sobre o mundo, mas tão pouco dogmática e tão aberta a ele.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dia de vitórias

Hoje passei o dia a dormir.
E, quando acordei, as notícias eram as melhores: O Tribunal Constitucional deu luz verde ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e foi aprovada a lei que acaba com a absurda discriminação de os gays não poderem dar sangue.
São duas vitórias num só dia.
Vitórias que fazem deste país mais livre.
É bom acordar com notícias assim.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

gato por lebre

Por estes dias, tenho-me deliciado algumas vezes com os programas do Jamie Oliver, desde o Jamie's American Road Trip ou o mais antigo Ministry of Food. Encanta-me sempre a postura, a atitude perante a comida e perante a vida. Há quem diga que, como chef, não é assim grande coisa, mas não há dúvidas que o homem tem um talento nato para mover. Envolve, cativa, inspira. Sempre com a comida, e com toda a cultura associada, à frente (ia dizer atrás mas é mesmo à frente, a meu ver).
Num desses dias de programa, no intervalo deparo-me com a nova campanha da Knorr, com o chef Henrique Sá Pessoa. Segundo dizem é um grande chef e não duvido. Gostava muito do conceito do seu programa televisivo e, de fonte segura, o seu restaurante parece que é um achado.
O anúncio está bem feito, é giro, tem graça. A Knorr deve estar delirante. Quanto ao chef, já não posso dizer o mesmo. Na verdade, a mim não me chateia nada que um chef faça publicidade a cervejas ou a azeite. Encanta-me muito menos que faça campanha por um aditivo alimentar, independentemente da sua qualidade. Ou seja, dizerem-me a mim que posso ser uma Sá Pessoa se acrescentar um pouquinho de um caldo em pacote, faz-me duvidar se quero lá chegar. É como se tivesse de fazer batota.
Para o produto? É excelente, sem dúvida alguma. Representa notoriedade, credibilidade e genuinidade. Para o chef? A meu ver, tira-lhe isso tudo.
Não deixo de querer ir experimentar o seu restaurante, mas acho que levarei alguma desconfiança no palato.
Há associações publicitárias que nem sempre correm bem para as partes. E até as caras mais credíveis se podem tornar num verdadeiro embaraço para uma marca (por exemplo, o Carlos Cruz). Neste caso, o dano vai mais para o chef. Mas isso sou só eu.


terça-feira, 30 de março de 2010

Mostrar vs. Espreitar

É já amanhã que inaugura a exposição "Coisas que que me entram pelos olhos adentro", organizada pelo projecto Bem-me-quero, da SEIES, no âmbito do Março Mulher, e sobre a qual já vos falei aqui.
Entretanto, tive acesso a algumas fotografias das molduras, antevendo aquilo que poderá ser a exposição. E, a partir delas, surgiram-me algumas reflexões, que vos deixo agora. Talvez sejam mais dúvidas para apontar um caminho possível.
Quando as vi, deparei-me de imediato com várias. Quanto de nós cabe numa moldura? Como tornar a identidade visível e percepcionada? Num certo sentido, esta é uma pergunta com que o espectador se poderá confrontar: como seria a minha moldura? Logo, como seria a minha identidade visível, o meu eu escondido revelado ou o meu eu conhecido exacerbado? Aquilo que queremos mostrar aos outros nem sempre pode ter esse carácter de construído. E nessa moldura cabe o construído que quero ser, o que quero que vejam ou o que sou realmente? Nestas dúvidas, compreendo que as fronteiras são invisíveis, que não há paredes estanques, nem divisórias entre eus vividos, eus sonhados e eus pensados. Que tudo é eu, mesmo aquilo que não conheço, principalmente o que não conheço, diriam alguns.
Enquanto isso, olhei cada uma das fotos em busca do significado de cada uma, esperando alcançar o eu de outra pessoa, através do seu olhar. Na verdade, perante as molduras, resta-nos espreitar. Espreitar fisicamente, ostensivamente, como não podemos espreitar ninguém, a vida de ninguém.
Neste duplo movimento de hipotética autora e hipotética espectadora, dei-me conta desta acção constante de nós com os outros. Aquilo que mostramos, aquilo que espreitamos - aquilo que se deixa espreitar e aqui que é inevitável que espreitemos. Na vida principalmente. A grande construção social da relação com os outros, da relação connosco próprios, de todas estas identidades que se misturam de uma forma tão pouco, ou tão muito, "emoldurável".
Escrevo este texto, perdendo-me um pouco em considerações vagas e teóricas, mas pensando sobretudo nestas molduras (que são vidas que nunca conhecerei) e em vidas (que são molduras que nunca conheceremos).
Resta espreitar com cuidado.

quinta-feira, 11 de março de 2010

um livro viagem

Quando me falavam de literatura de viagem, não percebia muito bem. Um género indistinto para o meu olhar, ainda ignorante sobre essas coisas. Por agora, continua ignorante. Mas, agora, começo a imaginar se toda a literatura de viagem será como este livro soberbo, o Caderno Afegão, de Alexandra Lucas Coelho.


Duvido, no entanto, que seja realmente o mesmo, porque este livro é inequivocamente especial. Alexandra Lucas Coelho foi um mês para o Afeganistão em 2008 e traz-nos o seu diário de viagem de uma forma totalmente cativante. O local, obviamente, contribui para o interesse da viagem, mas é pela autora, pelo que viveu, viu e como o escreve, que ficamos agarrados.
Por onde começar? Pela coragem, sim. Acho que é a coragem do gesto, de tudo o que nos é relatado, que me impressiona em primeira mão. Uma mulher ocidental dispor-se a ir um mês para o Afeganistão, como jornalista e, portanto, com necessidade de "reportar" e andar lá pelo meio, é algo admirável. Não consigo pôr de outro modo, porque é mesmo isso que se sente ao ler o livro, o risco de cada passo. E, ao mesmo tempo (e é nesse sentido que o livro é tão bom), esse risco transforma-se em proximidade, em familiaridade, em reconhecimento.
O "lá para o meio" transforma-se muitas vezes em cenário com que empatizamos. Aquilo que ALC nos conta traz-nos um pouco do que viu para dentro de nós. As pessoas, os lugares e as atmosferas vêm para nós em sentimentos confusos. Porque ela consegue fazer algo incrível, uma excelência documental diria mesmo, que é dar-nos a vivência do lugar, garantindo a vivência dela e do seu olhar forte sobre a realidade, sem nunca se perder num enredo demasiado pessoal.
Eu estou-lhe grata por este livro. Porque me mostrou algo que nenhum jornal, tv ou rádio me poderiam dar assim. É certo que quando esteve lá, foi correspondente do Público e da Antena 1, mas este formato é ímpar. Esta é uma obra inestimável, cheia de fronteiras para reflectirmos, cheia de tiros às ideias absolutas sobre aquela parte do mundo, aquela cultura, aquela civilização. Caderno Afegão coloca-nos lá, envolve-nos, compromete-nos - não há uma resposta simples ou definitiva.
A Tinta da China (editora cada vez melhor) tem um site com as fotos desta viagem. Ainda não as vi todas, guardei-as para quando acabasse o livro. Depois de lê-lo, cada foto vale muito mais.

segunda-feira, 8 de março de 2010

hoje é o dia

O Dia Internacional da Mulher é hoje. A sociedade portuguesa continua um pouco indiferente a este dia, insistindo numa percepção desfocada da realidade e da necessidade desse dia. O preconceito pela causa feminista persiste, confundindo-se feminismo com uma ameaça letal para os homens, às donas de casa e à família tradicional. O feminismo deve ser compreendido como um movimento a favor da sociedade, em prol da igualdade de géneros, da liberdade, por uma sociedade mais justa, mais equilibrada, mais livre. A noção de que o feminismo é contra o status quo não é errada, pois a mudança é necessária - a incapacidade de reconhecermos que o mundo, no que diz respeito às mulheres, precisa de mudar impede-nos de sermos melhores. A violência, a doença, a desigualdade, o desrespeito continuam a fazer parte da condição da mulher. E não é só nos países ditos de 3ºmundo. É aqui mesmo, à porta de casa, dentro de casa. De cada vez que se luta a favor da prevenção da violência doméstica, dos cuidados de saúde, dos direitos parentais, da educação sexual, da despenalização do aborto, dos direitos de trabalho, do acesso à educação, luta-se em feminismo. A geografia social e cultural é diversificada, múltipla neste planeta, mas uma coisa existe em comum: as mulheres continuam a ser as mais prejudicadas, sob todos os domínios.
Enquanto sacudimos a capota como se não se tratasse de um problema nosso, por sermos para aqui umas privilegiadas, continuamos a esquecer-nos da questão essencial. A questão de género, a problemática do que é ser mulher, os atributos e as características associadas, os padrões de conduta, de beleza, de sociabilidade e até de empregabilidade. E essas questões não se esgotam na mulher, expandem-se para o homem, com os mesmos problemas associados, apenas com uma excepção: não são eles os mais prejudicados, os mais mortos, os mais desrespeitados. Mas esta é uma luta conjunta.
Enquanto sacudimos a capota, a sociedade capitalista ocidental tenta apropriar-se deste Dia da Mulher como se apropriou do da Mãe, do do Pai, do de São Valentim, do das Bruxas, deturpando-o para vender um estado de Mulher, adquirível em qualquer produto ou serviço. E, à medida que o conquistam com a lógica mercantilista, mais facilmente se aniquila o espírito fundador deste dia. Não há nada de mal em aproveitar o dia para homenagear as mulheres da nossa vida, mas este é um dia de luta e é importante não o esquecer - foi para isso que foi criado.
É nesse sentido que escrevo este post, para homenagear as mulheres, homenageando também a sua luta. Ser humano é uma luta, ser mulher é uma luta a dobrar. Em certos sítios é a triplicar, noutros é um pouco melhor, porque já foi uma luta maior. No início do século XX, fazia mais sentido esta luta? Pois, na América do Norte onde começou, fazia. No Afeganistão, hoje, ainda nem sequer faz. E são estes abismos que é importante sobrepor.
As nossas conquistas, enquanto ocidentais hoje, passam pela 1ªvitória ontem de uma Mulher na categoria de melhor realização nos Óscares, pela possibilidade de serem rockeiras, por condições melhores de trabalho e de maternidade. Mas esta é uma luta global, muito mais vasta, muito mais extremada, muito mais fatal, muito mais urgente do que aparenta. É por isso que se assinala o Dia, é por isso que não se pode ser indiferente.

sexta-feira, 5 de março de 2010

cada olhar, muitas coisas

Há já 17 anos que a Seies organiza o Março Mulher, uma iniciativa realizada em Setúbal em parceria com a Câmara Municipal durante o mês de Março. Composto por um conjunto de actividades, o Março Mulher assinala o Dia Internacional da Mulher, convocando o público a usufruir, durante um mês, de uma diferente vivência das questões de género. Múltipla e abrangente, esta iniciativa tem uma componente social, lúdica e cultural, dinamizando a cidade.
Este ano o tema é "Repensar Setúbal. As vidas na cidade no feminino e no masculino", convidando, como se pode ler no programa, "mulheres e homens de todas as idades a recriar formas de se viver melhor na cidade, conjugando a vida pessoal, familiar, social e profissional".




No âmbito do Março Mulher, o projecto Bem me Quero, que se centra na prevenção e desocultação da violência doméstica, irá realizar uma exposição com trabalhos de mulheres que pertencem a um grupo de desenvolvimento pessoal e social dinamizado pelo Projecto.

A mostra terá o nome de "Coisas que me entram pelos olhos adentro", o que muito me orgulha. A equipa do Bem me Quero lançou-me o desafio de participar com eles neste momento e aqui estou eu a começar.
O mote para o trabalho a desenvolver por estas mulheres é mostrar essas "coisas" que lhes entram pelos olhos adentro. Como? Através de uma moldura-caixa, em que construirão um pequeno mundo dessas suas coisas, daquilo que lhes invade o quotidiano e que funda e altera a sua posição, o seu olhar.
Este nome que nos une neste momento é, também, o reconhecimento comum dessa dimensão incontornável da importância das "coisas" e do olhar na definição de quem somos.
Eu, na verdade, mal posso esperar.
O princípio que funda esta exposição é o de que, cada olhar, cada pessoa, cada mulher possui não só um mundo único, como também pode criar um mundo único. A materialização daquilo que nos "entra adentro" é uma expressão absoluta de individualidade, de auto-conhecimento, de reconhecimento de poder de criação e mudança.
Quando reconstruímos o nosso mundo, quando o transformamos, quando o colocamos à escala, é possível ampliar a nossa própria presença, a consciência da nossa posição e a possibilidade de alterá-la.


Por agora, estou expectante. Para ver, para ir partilhando por aqui e preparando também a minha pequena contribuição para a construção destes pequenos grandes mundos.

Mais informações sobre a programação do Março Mulher, e outros eventos a decorrer em Setúbal, encontram-se aqui.

quinta-feira, 4 de março de 2010

subtil, poderoso

Na Holanda, as mulheres tiveram um grande gesto de cidadania, nas eleições autárquicas. Em protesto contra as posições do partido de extrema-direita face ao islamismo, basicamente dizem combater a "islamização da Holanda", foram votar de lenço na cabeça seguindo a tradição muçulmana (menos ortodoxa).



Esta imagem, retirada hoje do jornal oje, mostra quão impactante pode ser um gesto tão subtil, quando combinado em colectivo.
Este gesto nobre de aceitação, de abraço por uma cultura muito diferente da sua, martirizante de diferente, violenta e demolidora por vezes, mostra ao mundo, aos outros, quão singular pode ser uma cultura se for múltipla. Aqui, o problema não é o islamismo, é a extrema-direita, e daí a grande nobreza do gesto. Porque é fácil apontar tudo o que está "errado" na tradição islâmica. Mais difícil é conseguir entender que fazem parte de nós. As mulheres muçulmanas que vivem na Holanda são privilegiadas, em face daquelas que vivem no Afeganistão por exemplo. Têm limitações, por certo incomportáveis para uma mulher ocidental emancipada, mas não há uma escala absoluta de emancipação. É sempre relativa. Até a violência pode ser relativa, mesmo quando é absoluta.
Em Londres, vi mulheres muçulmanas de lenço a fumar cigarros com os seus amigos de todas as cores, vi mulheres de lenço a atender na GAP. Não me chocou, achei maravilhoso. Não me choca que uma mulher decida usar um lenço por escolha sua, mesmo que eu não entenda os pressupostos disso.
Entendo as holandesas ocidentais que usaram lenço em forma de protesto. Faria o mesmo! Por que não hei-de entender que uma mulher use lenço por qualquer coisa em que acredita?
Obviamente, o elogio aqui é mais pelo gesto ocidental do que pelo gesto muçulmano, até porque não conseguiria elogiá-lo, não faz parte de mim. O gesto ocidental de pôr o lenço na cabeça é uma manifestação da utopia que queremos. Uma utopia que vai contra a visão da extrema-direita e, com certeza, de algum do mundo islâmico. Uma utopia de liberdade, de integração, de diferença.
Ando por estes dias a ler um grande livro, Caderno afegão, da Alexandra Lucas Coelho, sobre o qual gostaria de falar quando terminasse. Coloca muitas destas questões em evidência, num mundo tão diferente, mas que é nosso também. Não é possível expulsá-lo, não é possível "ajudá-lo" numa atitude condescendente e de superioridade cultural, é necessário vivê-lo, é necessário colocar o lenço na cabeça. Para mostrar que estamos todo aqui e que o queremos.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

conversa de homem?

A publicidade dirigida a homens tem vindo a adaptar-se aos novos tempos. O homem continua à procura de uma redefinição de si próprio, enquanto género, e no meio da confusão a publicidade tenta acompanhar. Nem sempre com os melhores resultados. Para as mentalidades, para os produtos, para os destinatários.

Tudo isto a propósito da nova campanha da Dove, do produto Dove Men Care, que procura enfatizar a ideia de que um homem que se sente confortável com o homem que é, deve sentir igualmente uma pele confortável. "Sinta-se confortável na sua pele" é o mote com o duplo sentido que move a campanha.
No papel, parece-me um bom princípio. Há de facto um novo homem a surgir, que se reinventa todos os dias, que se adapta (bem ou mal) aos novos tempos, tentando não ser esmagado pelos estereótipos fundados. Começa a pouco a pouco o seu processo de emancipação.
No entanto, não gosto da concretização que vejo nos anúncios de TV a passarem actualmente em Portugal. Porque insistem na dicotomia, sempre na mesma eterna dicotomia, aqui materializada em força e cuidado, como se fosse estranho ou pouco credível as duas coisas coexistirem. No fundo, não consegue superar o que está a querer superar. E, no final, fica uma sensação estranha de que a marca está a querer sossegar os homens da sua virilidade - por amor de Deus, o homem que aparece a usar o produto até tem barba! A Dove parece estar a dizer "não vão ser menos homens por cuidarem da pele" - o que é verdade, mas que assenta num falso paradigma: a do homem a sério ser bruto e das "cavernas". Aqui fica o tal anúncio, infelizmente na versão português do Brasil, mas exactamente igual à nossa.





No entanto, como a Dove não anda de todo a dormir, como se sabe pelas campanhas que tem para mulheres, está a fazer evoluir o conceito e, no Super Bowl, já mostrou um novo anúncio bem mais interessante, porque brinca com as necessidades e as expectativas criadas em torno do que é ser homem.



Dentro deste imaginário, a Old Spice fez uma campanha que, a meu ver, é mais eficaz. Porque brinca com o estereótipo. Eventualmente, pode gerar mais anticorpos nalguns espectadores, mas eu acredito que o humor, o exagero e a ironia contribuem para uma superação do estereótipo e do preconceito. Aqui fica e podem encontrar mais aqui.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

paixão com prazer

Há muito tempo que os cadernos Moleskine se tornaram um objecto de culto. Hoje, não existe um tipo de caderno ou agenda, existem dezenas de possibilidades para usar uma Moleskine. Para escrever, para desenhar, para pintar, para fazer o planeamento semanal, para pôr os contactos, para registar viagens, para fazer storyboards, cadernos japoneses, lisos, quadriculados, pautados, A4, A5, A6... um mundo inesgotável.

O detalhe, a atenção pelo consumidor e a lenda tornam qualquer Moleskine irresistível.
Agora lançaram uma nova colecção: Moleskine Passions. Os cadernos das paixões dividem-se em Livros, Filmes, Vinhos, Receitas, Música e Bem-estar.


Mais uma ideia brilhante para cativar a malta. Porque alia o carácter emblemático da Marca às paixões de cada um, tornando o objecto ainda mais irresistível.
Os vídeos de apresentação também são uma delícia. Deixo-vos aqui o dos livros e podem ver os outros por aqui.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

mudar

Já está no ar (em mupis e na tv) a campanha da ILGA que se foca na questão da homossexualidade na paternidade e maternidade.
Vi primeiro o mupi e agradou-me o levantar da questão. "Se a tua mãe fosse lésbica, mudava alguma coisa?". É uma pergunta, exige uma resposta. De forma imediata, diríamos sim, não, talvez. Mas o melhor de tudo é que a pergunta está feita de um modo que exige o essencial. Podia mudar tudo, mas não mudaria o essencial. Nem o amor, nem a dádiva, nem o compromisso.




Acho fantástico que haja uma campanha (pro bono e bem feita pela Lowe) sobre este tema. Mas o que acho ainda mais notável é que seja uma campanha envolvente e não afirmativa, que seja inclusiva e não exclusiva. Todos podemos rever-nos neste registo.
Obviamente que há outra tónica dominante: o conceito inverte o habitual. E nisso o spot de tv é realmente eficaz, criando um desfecho inesperado para a maior parte do público.



Pessoalmente, acho que esta dimensão familiar é fundamental para reenquadrar a questão, libertando-nos de certos vícios que uma sociedade normalizada impõe, mas que também um certo activismo propõe. Gosto deste activismo, acho-o honesto, acho-o integrador, acho-o generoso para aqueles que nos rodeiam, que nos amam, para nós próprios.

Parabéns ILGA (obviamente por tudo) e Lowe (pelo que não é óbvio no pro bono).

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

fica bem na moldura

A Cruz Vermelha espanhola (Cruz Roja) fez uma acção em frente ao Museu Rainha Sofia, em Madrid, provando mais uma vez que a simplicidade de uma ideia pode ter um poder impressionante. Como tornar visível o que é ou se tornou invisível é uma questão fulcral no trabalho social. A indiferença instalada, o preconceito, a incapacidade de agir fundada muitas vezes no sentimento de impotência e frustração, têm de ser desmontadas. Como? Desocultando, criando novas e diferentes formas de olhar para um problema, confrontando o outro com a questão de um modo que não dê para respostas automáticas. Numa palavra, impossibilitar o virar de olhos. É uma excelente acção, muito simples mas, de certeza, com um impacto certeiro naqueles que a receberam.


Cruz Roja - Vagabundo from Javier Iñiguez de Onzoño on Vimeo.


Num outro registo, totalmente distinto e bem mais leve, chegou-me aos olhos este filme, em que a "moral da história" é que, realmente, não olhamos uns para os outros. Não prestamos atenção.

Dizem que lá fora é uma selva, mas na selva precisamos estar atentos para ver, o que não acontece realmente.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

um livro sussurro

Todos (ou não) sabemos como ler um livro se tornou uma conquista. A coisa deve-se principalmente àquilo que se convencionou chamar estilo de vida. Por isso, não há muito a acrescentar para além do lugar comum. Não temos tempo e, quando temos, não possuímos energia e, quando possuímos energia, preferimos dedicá-la a outra coisa. As frases repetem-se: só leio nas férias, nunca mais li, etc. Salvam-se as pessoas que não têm televisão ou que andam de transportes públicos.
Saltando a generalização vamos ao que interessa: a minha última conquista - que é como quem diz o meu último livro - Melodia ao anoitecer, de Siddharth Dhanvant Shanghvi.
Sim, é indiano, trazendo consigo por isso uma magia e uma sensualidade dificilmente imitáveis. Pungente, com uma história trágica, dramática e avassaladora, manda-nos com uma filosofia de vida de serenidade e aceitação verdadeiramente desejáveis. Porque toda a inquietação gerada exige uma resolução e a única possível é mesmo a da aceitação. A tristeza, a doçura, o encantamento e o amor, revistos à luz de uma verdade em crescimento.
De tal modo este livro me encantou que houve, pelo menos, dois momentos em que tive de parar. Parar de lê-lo durante uma larga temporada. Há coisas que têm uma brutalidade difícil de suportar até em livro. E, quando estão escritas assim, até podem ser ficção, mas não são estatística.


Este livro é fascinante.


P.S: e está à venda por 5 euros. Incrível.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Packaging querido

Ser pró e anti-packaging ao mesmo tempo é possível. O Aristóteles estava enganado com a cena da impossibilidade de ser e não ser ao mesmo tempo. É possível, por muito que qualquer frase que comece com "o aristóteles estava enganado..." seja absolutamente ridícula e nunca para levar a sério.
O que interessa neste caso é o packaging.
O packaging é o paradigma do design de produto. É o que mais directamente intervém com o consumidor e o que mais nos afecta. Em termos de comunicação, é um verdadeiro desafio. Em termos sociais (com a abrangência que isso significa), pode ter um impacto e uma força que outras expressões do design dificilmente terão. É muito nesse sentido que sou pró-packaging. Porque adoro ver bom packaging, porque é um desafio profissional e porque me puxa em termos sociais.
Os exemplos de bom packaging são muitos (tanto a nível estético-ergonómico, como social-sustentável). Os maus exemplos são quase todos - afinal esses muitos bons exemplos são minoritários.
E é talvez por isso que sou anti-packaging também. O mau packaging começa a meu ver quando é inútil. Os casos mais simples de todos são os mais flagrantes como, por exemplo, os sacos da fruta, os legumes pré-embalados (que não nos deixam escolher nem o produto nem a sua quantidade) ou grandes caixas para equipamentos pequenos (uma tendência felizmente a mudar). É puro desperdício, plástico e mais plástico para nada.
Hoje, um dos grandes desafios é a reutilização, o cuidado na escolha dos materiais, a inteligência do seu design para fazer uma embalagem nossa amiga. Mas, antes de tudo, hoje um produto deve perguntar-se (através dos seus engenheiros) se precisa de packaging. Depois disso, o consumidor pode fazer o seu papel escolhendo.
É uma cadeia em que os diferentes protagonistas vão mudando tendências, reinventando hábitos.
Partilho convosco um packaging que, em termos de comunicação, considero perfeito, sem considerar a sustentabilidade. E outro exemplo de renúncia ao packaging que integra essa ideia de que todos podemos ter um papel para diminuir o desperdício.
O primeiro caso é o "Clever healthy food packaging". Aqui, o packaging serve o objectivo da comunicação e fá-lo brilhantemente. Para levar as pessoas a ter uma alimentação saudável, pegaram em embalagens normalmente associadas a hábitos pouco saudáveis, como tabaco ou junk food, colocando dentro deles comidinha boa. Num certo sentido, é o reinventar dos cigarrinhos de chocolate, mas com cenourinhas.



O outro exemplo passa mais pela intervenção do cidadão comum: uma loja que não tem embalagens. A Unpackaged vende os seus produtos à antiga portuguesa, mas em Londres. Os clientes trazem as suas próprias embalagens de casa ou adquirem uma reutilizável no próprio local. Há escolha de produto, há sustentabilidade, mas acima de tudo há uma ideia mobilizadora, um conceito disruptivo, uma razão carismática para trazer lá mais gente e mudar velhos hábitos.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Wireless e três cavalos

Portugal é exímio em situações caricatas, inusitadas, estranhas e pitorescas. É recorrente aquela sensação de que temos de olhar duas vezes, esfregar os olhos, arrebitá-los e conferir e voltar a conferir. É assim nas coisas boas e nas coisas más.
Mas nas boas, é mais giro. Reflecte-nos melhor, dá-nos um verdadeiro ar de graça, um carácter único insubstituível.
Dois exemplos.
Há um tascoso, bem tascoso, tão tascoso que eu até nem espreito com medo que o cheiro a fritos e a vinho tinto se impregne pelos olhos, aqui em Santos que tem a seguinte "comunicação":



Estes senhores têm visão. E demonstra que o wireless, assim como outras novas tecnologias, já não são tabu para os nossos comerciantes. No Verão, há caracóis. No inverno cozido. Wireless todo o ano. O meu conselho? Comer um cozido por €5, beber 3 Cergal por €2 e twittar "estou no tascoso a comer uma bela farinheira", entre o enchido e a couve.
O outro exemplo não está documentado, mas é igualmente inusitado, se não mais. No domingo passado, estavam 3 cavalos a pastar numa rotunda mesmo ao pé da Morais Soares. Três cavalos à solta, bem perto do tráfego, mastigando e fazendo a sua vida de lazeira. "Olha ali um cavalo" é o que costumamos dizer quando passamos de carro pelas nossas povoações. Por Lisboa, também.
Na verdade, tudo é possível nesta paisagem. Estamos no tempo do wireless nas tascas e dos cavalos nas rotundas. A nossa cidade é verdadeiramente múltipla, não por ser simplesmente cosmopolita (como outras capitais europeias), mas por manter algo da ruralidade das suas gentes.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

The macho is here

O Wall Street Institute já nos tem brindado com algumas campanhas publicitárias bastante interessantes, normalmente apimentadas com humor (esta ou esta são bons exemplos). Desta vez, foram buscar o Zezé Camarinha, o expoente máximo do nosso macho latino, o pintas do pintas, e satirizam sobre o seu inglês.
Supostamente apreciado pelas nossas turistas bifas, o Zezé parece-me o embaixador perfeito para ilustrar o "bem falante" de inglês.

Esta campanha é desconcertante. Colocar o Zezé encarnando-se a si mesmo, expondo os seus dotes de de galã e de inglês, é uma tirada arrojada e cada vez mais rara. O risco de fazer publicidade cómica, sem ser com os Gato Fedorento, é falhar o alvo, ser brejeiro, básico ou pouco feliz. Neste caso e a meu ver, o WSI ganhou a cartada. Dá-nos um espelho, ainda que deformado, de nós próprios e pisca um olho a todos os que gostam de aportuguesar a língua inglesa. Depois de Lauro Dérmio, tudo é possível e ficamos com mais um bom exemplo.
Com este nível de publicidade, dificilmente o WSI terá concorrência à altura no ensino de inglês para adultos. Coisas destas não passam despercebidas e constroem uma percepção forte de uma marca, para durar por algum tempo.

Numa palavra, this stuff cativates à brave.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

tempo para jogar

Sou uma verdadeira fã de jogos de "salão". Desde cartas, damas, xadrez até aos jogos de tabuleiro, sem deixar de passar pelos de computador (mesmo não perdendo grande tempo nem dinheiro com estes), não há nada que à partida não me atraia.
Recentemente, pude jogar à versão mais actualizada do Monopólio, um dos meus jogos favoritos de todos os tempos. Jogo Monopólio desde catraia e, até agora, duvido que haja um jogo que alie de forma tão perfeita o prazer da competição, a necessidade estratégica, o poder da negociação e a noção social capitalista. Esta última parte era dispensável, bem sei, mas a verdade é que, desde de tenra idade, sonho com a possibilidade de viver de rendas.
O Monopólio actual tem algumas das propriedades do meu tempo, mas foi actualizado. Já não há Avenida Luísa Todi (lamento Setúbal), mas há ruas do Parque das Nações. Os escudos foram-se embora e o dinheiro não é em euros, mas o seu valor remete para aí. A estrutura continua a mesma, assim como as regras, mantendo qualquer antigo jogador como um jogador apto para os dias de hoje.


Gosto do jogo e estou sempre disponível para jogar. Mas, agora, o que me apetece jogar é outro.
Foi criado, por "We are sailing Board Games" com design da "Hello Monday", o Copenhagen Board Game. O jogo inspira-se em jogos como o Monopólio, mas o seu objectivo é bastante melhor: pegar na nossa bicicleta e tentar fazer uma Copenhaga mais sustentável. Com um design especial e com uma missão deveras responsável e pedagógica, parece-me ser o jogo perfeito para espalhar pelo mundo.
Gostaria bastante de o ver nas mãos, de jogar com as crianças e, já agora, ganhar - que tem também muita piada.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

prendas de Natal VI - o embrulho

Para terminar esta série e mandar definitivamente o Natal para 2009, fica um último post sobre as prendas inimagináveis e megalómanas, contrariando a tendência apresentada no post "prendas de Natal IV"
Todos nós, ou pelo menos alguns de nós, temos desejos "superlativos" e fantasiosos de mega-prendas. Alguns de nós, ou deles melhor dizendo, conseguem realizar esses desejos. Nós contentamo-nos, e bem, em realizar pequenos desejos, com intenções generosas de amor.
Mas os outros desejos existem, tal como as fantasias de "o que é que farias se ganhasses o euromilhões".
Pegando nisso, a Mini fez uma campanha pós-natal absolutamente fabulosa. Atacando mais uma vez a rua, intervindo directamente no quotidiano das pessoas, colocaram perto dos caixotes do lixo uma "embalagem" de um Mini, como se tivesse sido desembrulhada na noite de Natal. O impacto de um caixote de papel gigante no meio da rua é incontornável, provocando tanto estranheza como curiosidade. Podem ver o filme e mais imagens aqui.

prendas de Natal V - Yeah!

Este não era um presente previsto na minha série, mas é graaaaaaaande! Pelo que cá vai.

Foi hoje aprovada a proposta do casamento entre pessoas do mesmo sexo!
É a nossa melhor prenda para o futuro. Mais livre, com mais igualdade e, caramba, mais feliz!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

prendas de Natal IV - as puras

O Natal é aquela época da partilha, da dádiva, da generosidade. Mas muitas vezes, deixamo-nos simplesmente levar pelo entusiasmo das prendas. Isto é um grande lugar comum, não há dúvida. Mas, na verdade, o espírito de Natal é algo que está pendurado entre a árvore e as luzes, o bolo rei e as filhoses, o comprar presentes e o fazer a lista, a família e os amigos,... algo que se vive transversalmente, que se sente bem ou mal, que se gosta ou se detesta, tem dias.
Como estamos a falar de presentes esta semana, há que ressalvar aqueles presentes que buscam o lado mais genuíno do Natal. Por serem especiais, únicos, pensados para dar. Sem desdenhar daqueles que são comprados especialmente para alguém (esses são normalmente muito bons de dar e de receber), há os outros que são "feitos" para a época. Não precisam de ser realmente construídos, basta que sejam sobre o "dar".
Eu vi e recebi alguns este Natal. Houve o origami especial do Natal, o presente feito para o "sobrinho" que ainda está debaixo da árvore de Natal, a agenda com capa personalizada pelo afilhado, os pinheiros oferecidos à comunidade para plantar e reinventar a verdadeira árvore de Natal, os doces cozinhados em família para distribuir frascos pela família e amigos, ou, ainda, rifar um bolo feito pelos miúdos para, com o dinheiro recebido no Natal, ir a uma instituição de solidariedade social entregá-lo.
São pequenas coisas que devolvem alguma pureza e espírito desinteressado ao Natal. Principalmente porque quase sempre passam pelas crianças, garantindo-lhes algum contrabalanço ao desembrulhar, por vezes bem excessivo e frenético, de prendas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

prendas de Natal III - envelopes personalizados

A estratégia do envelope como presente apurou-se e hoje o "envelope" pode ser uma prenda ainda mais espectacular. A verdade é que o acto de oferecer dinheiro segue acompanhado de alguns constrangimentos. À partida, quem recebe gosta, mas, normalmente, quem dá receia que possa ser pouco personalizado ou indiciar falta de interesse. Talvez por isso, é uma prenda que associamos aos avós, pois o reconhecimento da diferença geracional é positivo e oferecer um envelope indicia preocupação, "compra alguma coisa que gostes". O envelope, durante anos, foi o presente que nunca falha, mas sem nunca ser "quentinho". Ainda continua a ser, mas agora há um novo mundo de possibilidades em presentes que nunca falham: os vouchers.
Dêem-me um voucher e ficarei feliz, é o meu mote.
Tudo começou com os cheques-disco, cheques-prenda, mas hoje a palavra voucher carrega mundos, em vez de vales. É um presente que garante a quem dá e a quem recebe a mais pura e desejada sensação de presente: a satisfação. Quem dá, imagina que está a dar um fim-de-semana, uma massagem, uma experiência radical - algo real e que se vislumbra concretizável especificamente para aquela pessoa. E quem recebe, vê-se com algo nas mãos à partida totalmente desejável, com a antecipação da felicidade, a expectativa crescente sobre o momento da realização. Parece publicidade ao conceito, mas na verdade não é. É mais o reconhecimento do sucesso e eficácia da ideia. Pois, o acto de dar e receber resulta no momento - não é escasso e envergonhado como no envelope, em que há pudor de ver o interior à vista de terceiros e que o resultado final (para que servirá o dinheiro) ainda não está definido. Com o voucher, mesmo que não seja efectivado, o acto de presentear resulta por si mesmo.
O conceito, obviamente, tem sofrido multiplicações e mutações. Hoje, o mercado dos vouchers é competitivo e busca inovações muitas vezes inesperadas e, ao primeiro olhar, despropositadas.
No final, compensa. Pois um presente é também a doce expectativa de o gozar e, neste caso, funciona na perfeição.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

prendas de Natal II - Rosa Maria

A cozinheira das cozinheiras não é um livro de receitas comum. É um livro tipo, diria até típico, com receitas e tabelas que interessam a quem gosta de cozinha. Mas mais importante, é um livro marcante a nível cultural e antropológico, porque se dirige às "donas de casa" e porque tem uma marca única de autoria, não culinária mas moral. Não é à toa que está à venda na loja A Vida Portuguesa. Não é apenas o design retro que está em causa, mas a mentalidade retro.
Adorei esta prenda, refira-se. Porque me dá boas receitas, ao mesmo tempo que me garante excelentes momentos de humor.
Segundo a Bertrand, a primeira edição é de de 1998, mas isso não faz qualquer sentido. Não pode fazer, porque não quero acreditar que há 12 anos ainda se escrevia assim, embora se pudesse ainda pensar. A edição que tenho neste momento é a 32ª, o que faz da obra um verdadeiro best-seller.
Rosa Maria, a nossa guia pela cozinha das cozinhas, abre o seu livro com um elucidativo prefácio, entitulado "Às senhoras que dirigem a vida do lar". Lemos atentamente.
"Minhas Senhoras:
Ao apresentar uma série de receitas da arte de cozinhar e de fazer doces, tive a preocupação de somente pôr neste livro receitas práticas, facilitando às donas de casa a direcção mais importante do 'ménage', a alimentação."
Assim se inicia, com o primor dos primores, a obra das obras, com a autora das autoras, enfim A cozinheira das cozinheiras.
Prontos para a ménage?
Rosa Maria é a mais bem intencionada das senhoras que se dirigem às senhoras do lar. Há uma preocupação e ternura pela alimentação da família, que comove os leitores, abrindo-lhes o apetite. Continuemos pela leitura. Quando fala da alimentação das pessoas adultas, Rosa Maria faz uma distinção fundamental da nossa sociedade, e que deve evidentemente reflectir-se na alimentação: o labor da cidade e o labor do campo. Pois, como nos explica, a vida da mulher da cidade é "menos laboriosa do que a da mulher que trabalha no campo" e "não lhe dá grandes perdas de forças" - logo, deve "adoptar um regímen mais vegetal". Mas, atenção, Rosa Maria não anda distraída e recomenda que não se abuse desse regímen (???) "de um modo tão irracional como se está vendo frequentemente, e que tem sido a origem de inúmeros casos de anemias e de outras enfermidades gravíssimas." A autora das autoras adora superlativos, é uma cozinheiríssima.
Atentos, ou melhor atentas (como boas senhoras do lar), prosseguimos e, mais à frente, descobrimos o verdadeiro inimigo de Rosa Maria: as Bebidas Brancas. É certo que já tinha embirrado com o vinho, dizendo "Do abuso do vinho têm resultado terríveis enfermidades, como o delirium tremens, a loucura, doenças do fígado, etc., e não menor número de desordens e desgraças de ordem moral, que têm levado muitos homens ao degredo, à penitenciária e ao patíbulo." A mulher tem toda a razão, mas atentem a linguagem - que beleza, quantos de nós usam a palavra patíbulo? Talvez seja porque não há por cá pena de morte, mas adiante. Nada disto se compara ao repúdio pelas bebidas brancas, pois que, no caso do vinho, uma pinga até faz bem "unicamente à hora das refeições". Neste caso terei de transcrever todo o trecho, porque é pungente.
"Se o vinho, bebido em condenável excesso, pode e tem produzido frutos desgraçados de ordem física e moral, as bebidas brancas, por seu turno, têm dado aos hospitais, aos cemitérios e às prisões um contingente horroroso.
A bebida branca, inimiga implacável da economia animal [o que raio quer ela dizer?], é, contudo, às vezes proveitosa: - no mar, por exemplo, ou depois de um aguaceiro em que o vestuário não pode ser imediatamente substituído; mas toda a bebida redundará em prejuízo, quando o uso que dela se fizer for imoderado.
Repetimos: a bebida branca é um veneno, que todos os homens de dignidade devem repelir, pois que o uso desmedido dela serve apenas para enriquecer os hospitais de doidos, os obituários e as prisões."
Depois disso quem se atreverá a beber uma gota mais de gin tónico? Eu teria medo, não fosse dar-se o caso de não gostar de bebidas brancas.
A cozinheira das cozinheiras é o presente dos presentes, o superlativo absoluto que une história das mentalidades à arte de bem comer. Uma boa mesa pode não fazer um bom lar, mas ajuda à boa vida.



segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

prendas de natal I - modelos a seguir

De regresso à realidade dos horários e das obrigações laborais, decidi manter um pouco do espírito iniciando uma pequena série sobre presentes de natal. Meus e outros que vi por aí. É só uma semaninha para ir voltando aos poucos, pois cada vez parece mais difícil.

Para primeiro post, queria falar de um fenómeno extraordinário, associado aos telemóveis.
Contexto: recebi um telemóvel novo no Natal. Lindo, LG, slide... sofisticadíssimo com aquela parte para cima e para baixo. Um must! Ao fim de dois dias, aconteceu algo bizarro: o teclado ficou esquisóide. Não é coisa que se veja muitas vezes, o desaparecimento das teclas 2, 5, 8 e 0, sem paradeiro à vista. Obviamente, fomos trocá-lo. E que aventura foi. Pois um pequeno risco ia comprometendo tudo. Mas, com muitas voltas, a coisa resolveu-se e, ao fim de 2h30 consegui sair do estabelecimento comercial de grande superfície. Feliz ou infelizmente, não fui capaz de trazer o mesmo modelo (havia um trauma para superar) e optei por um Nokia que, apesar da menor sofisticação e de não ter nenhuma parte a movimentar-se, me oferece uma sensação de segurança e, ao mesmo tempo, a possibilidade de ter muitas e muitas músicas.
Fim de contexto.
O fenómeno sobre o qual me queria debruçar tem a ver com aquela parte do menu das mensagens pré-definidas. Aquelas que dizem, por exemplo, "Estou atrasado. Chego às...", "Estou em reunião", "Vejo-o às...", "Reunião cancelada". São modelos de mensagem que o utilizador poderá usar perdendo o mínimo de tempo possível. Ora, há telemóveis, como o meu, que decidem facilitar todo o tipo de mensagem. Já tinha tido um que tinha um modelo com o seguinte texto "Amo-te". Mas este que tenho agora é mais adequado, em vez de dizer isso directamente, diz "Também te amo", o que me parece bastante mais honesto, dentro da desonestidade de enviar um modelo pré-definido com uma mensagem de amor. Sempre facilita mais as coisas a quem não sabe bem o que há-de responder a uma declaração de amor. Oh merda, o que é que se diz numa situação destas? Hum... não é "Estou atrasado", nem "Estou em reunião", isso eu sei... Hum... "Também te amo" parece-me bem. Lá está, facilita e descomplica o uso de SMS românticas.
O meu telemóvel também tem dois outros modelos mais no tom pessoal, o "Obrigado" e o "Parabéns", revelando igualmente como se pode ajudar à espontaneidade dos sentimentos. Mas nada, a meu ver, bate o "Também te amo".
Não percebo como ainda não têm outras opções como "Feliz Natal", "Bom Ano Novo", "Os meus Pêsames", "Tenho muito orgulho em ti, filho", "Odeio-te", "Não me ligues mais", "Desejo-te", "Ontem à noite foi maravilhoso", "Só penso em ti", "Tenho saudades"... São tantas as possibilidades, pensem nisso, e depois gravem um modelo no vosso telemóvel. A banalização pode ajudar.