quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

post extremamente natalício

Andam renas a voar e trazem no focinho pequenas miniaturas do pai natal e algumas até do menino jesus. Um coro de crianças sorridentes e com as faces rosadas entoam cânticos natalícios, espalhando alegria e amor. Nas lojas dos chineses, há mais néon do que é costume e os cromados estão ainda mais brilhantes. Já neva em imensas partes do país e até os emigrantes se conformam porque vão a caminho da terra. Os bolos rei estão todos com uma massa gostosa e não há ponta de secura em nenhuma fatia, tendo todas mais frutos secos que frutas cristalizadas. E toda a gente já tem o presente perfeito, produto de comércio justo. E, melhor que tudo, todos sentem um quentinho no coração. A paz no mundo está a minutos de começar.

Agora a sério, não é bem bem assim (talvez nas lojas chinesas). Mas não há nada como tentar e ir acreditando. A minha proposta este ano é para reinventarem o Natal e fazerem dele o que mais vos aprouver, com tudo o que quiserem pendurado à janela.
Uma noite feliz, com alegria e um dia 25 especial, é o que vos desejo.
E, como vou de férias, vou desejar-vos também uma passagem de ano daquelas boas. Para 2010, um ano à medida em que cada dia valha por si e conte para todos.

post nada natalício, até um pouco apocalíptico

Antes de entrar no espírito do Natal, desejando a todos um Feliz Natal e um próspero Ano Novo, cá vai um balanço sobre o clima destes últimos dias. É mesmo sobre o clima.

Hoje o sol está forte em Lisboa, as pessoas estão contentes com isso. Entretanto, a meio da noite, telhados voaram com o vento e a chuva e a neve inundaram algumas partes de Portugal. As notícias dizem que, em Portugal, as temperaturas sobem mais e os efeitos do Aquecimento Global podem sentir-se acima da média mundial. Há poucos dias tivemos um terramoto. Felizmente, os nossos vulcões estão adormecidos.
Esta manhã, lembrava-me da história da humanidade, da origem dos mitos, dos primeiros homens e mulheres a temerem a poderosa Natureza, o irado Deus, a sacrificarem animais e a erguerem templos, a temerem represálias pelos seus pecados, a suplicarem perdão. Hoje temos razão para temer os nossos pecados, mas não haverá templos nem ladainhas que nos possam valer, apenas e só a mudança.
Hoje seria o tempo de olhar para os céus e cravar as mãos na terra, de medo. Mas há demasiadas coisas a ofuscar a nossa visão dos céus e a terra está tapada por alcatrão. E, mesmo com a vergonha de Copenhaga, alguma coisa temos de fazer.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

publicidade que sobressai

Anda para aí uma campanha muito inteligente de roupa interior masculina. Com piada, irreverência e simplicidade, a unno fez um mupi que funciona na perfeição. Confesso que, quando o vi pela primeira vez, pensei que havia para aí muito vandalismo à solta, mas afinal não.

Com um sugestivo copy, "Conforto que sobressai", temos uma comum foto de um modelo masculino em "trajes menores" mas com um excelente twist: o mupi está aparentemente estilhaçado na zona genital do homem.
Esta campanha consegue plenamente satisfazer os seus targets: os homens, porque percebem que podem parecer "avantajados", qualidade que muito estimam, e ao mesmo tempo sentirem-se confortáveis; e as mulheres heterossexuais, porque acham graça à ideia de oferecer uma "tanguinha" cuja diferença "salta" à vista.
Será brejeiro? Nada disso. É inteligente, apela a "valores" instituídos e enraizados, sem fazer mal a ninguém. Fala directamente ao "coração" de quem se destina.
O facto deste post estar cheio de aspas é significativo, claro. A campanha está carregada de um duplo sentido, totalmente óbvio, mas essencialmente brincalhão, como as pessoas gostam. Toda a gente adora fazer trocadilhos sexuais inofensivos, é uma espécie de paródia ensaiada de salão em que todos se sentem confortáveis com as insinuações.
Esta campanha é uma insinuação brincalhona, que não se "arma aos cucos" como a maior parte da comunicação de roupa interior. Ninguém está à espera de "sobressair" tanto, mas quase todos gostam de brincar sobre isso.
Até agora, parece-me a campanha de "Natal" (estas aspas são só para enganar) mais bem conseguida. Utilizam-se os meios convencionais de uma forma original e simples, sem medos que o produto "não se veja" ou que a mensagem não seja suficientemente "sexy". É inteligente e básica ao mesmo tempo, o que, a meu ver, é um talento.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

tremer é bom

A terra treme e, todos os especialistas são unânimes, isso é bom.
Esta madrugada, a terra tremeu, provocando um pequeno terramoto e, hoje durante o dia, deu-se o primeiro passo para o que vai ser um abanão na nossa terra. E esse é bom porque, tal como o primeiro, implica uma libertação de tensões.
Eu explico-me. Hoje foi aprovado em conselho de ministros a Proposta de Lei para a legalização dos casamentos homossexuais e, a partir daqui, falta pouco para tudo isto se tornar real: passa pela Assembleia, pelo PR (se não lhe der um amoque) e parece que em Abril do próximo ano poderá realizar-se o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sem discriminação, qualquer um de nós poderá realizar o seu casamento civil, constituindo assim uma união entre duas pessoas, perante o Estado.
É um grande passo, por muito que pareça tardio ou escasso. Mas é, efectivamente, um grande passo e, hoje, é tempo de celebrá-lo.
Ainda vivemos numa sociedade a múltiplas velocidades, com múltiplas facetas, recheada de nuances e de mentalidades díspares. Um passo em frente como este coincide com um passo atrás como o último do Bento XVI, em que decide proibir os casamentos entre católicos e não católicos.
Ao mesmo tempo, um tribunal em Portugal dá a custódia de uma criança a um homossexual, com a noção consciente que a guarda será exercida por um casal, assumindo publicamente que este tem melhores condições para cuidar da criança. Estes são os outros factos que são os mais importantes passos. Tão importantes como os legislativos, talvez até mais porque reflectem a um nível profundo a mudança real de mentalidades, que permite transformar realmente as coisas.
Ainda agora no café, um cliente e uma empregada brincavam com esta aprovação. Diziam coisas parvas, como "já não há homens a sério por isso é que tem de aprovar-se isto". A conversa era idiota, preconceituosa, até brejeira, mas houve uma nuance em que reparei e que me fez sorrir por dentro: usavam as palavras gay e lésbica. Não diziam paneleiro e fufa. Por muito ridículo que possa parecer, isto é mesmo uma coisa fenomenal. Esta nuance reflecte muito mais do que parece, reflecte que, mesmo no gozo idiota, há espaço para uma formulação não agressiva.
Portugal está mais do que preparado para isto. Essa história de não estar preparado sempre foi uma tolice. Pode tremer um pouco, mas nada vai cair. Antes se vão libertar tensões para construir novas coisas.
Hoje vou celebrar este passo, sabendo que ainda faltam outros passos para a realização efectiva desta medida. Vou celebrar o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo que se realize nesta terra. Vou, a par disso tudo, lutar por mais direitos, nomeadamente na questão fundamental da adopção. Mas sei, e essa é a maior vitória de todas, que este caminho já está ganho, porque não há marcha-atrás. Haverá sempre mais para conquistar porque existe, em todos nós, o sonho de uma "cidade" e é para esse que devemos caminhar.
Hoje é uma vitória, abra-se o caminho.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

estendido à janela

Uma pessoa vai para fora uns dias e quando volta está tudo mudado. De um momento para o outro, as janelas deixam de estar apinhadas com luzes psicadélicas e pais Natal alpinistas ou, numa recuperação do fervor do euro2004, algumas bandeiras de Portugal. Não, nada disso. Agora há uma nova moda, que alguns devem considerar menos pirosa e populeira, nas nossas janelas: o menino Jesus a velar por todos. São estandartes com uma imagem bem católica do menino em palhas deitado, em palhas estendido. Dizem eles, segundo as notícias, que é uma iniciativa para recuperar a essência cristã do Natal. Parte obviamente de famílias católicas (eles chamam-se a si mesmos cristãos, mas eu prefiro chamar-lhes o nome certo) que sentem necessidade de recuperar a dimensão religiosa do evento Natal.
Eu até os percebo. Na minha infância, sempre se falou do menino Jesus e nunca do Pai Natal. É uma invenção sem qualquer intenção religiosa e muitas intenções comerciais. É um senhor de barbas simpático que distribui prendas pelas criancinhas que se portam bem. Tudo o resto que as pessoas fazem, para encobrir o facto de o velho não mexer um dedinho para dar prendas a seja quem for, será ainda responsabilidade do Pai Natal? E que ideia bizarra é essa de o menino Jesus dar prendas. Então o nosso senhor menino dá prendas? Está tudo louco? Quem dá prendas são os Reis Magos.
Enfim. A questão essencial é, a meu ver, uma: são os senhores da moral católica, da igreja empoeirada, que nos querem impingir os seus valores numa estratégia de marketing, tão bem montada como as dos produtores de brinquedos. A intenção é cristã? Não me parece. Tem a ver com expressão, com imagem e, portanto, é uma questão de comunicação e marketing.
A mim, aborrece-me, porque não gosto de códigos visuais que me remetem para a Igreja Católica. Não gosto dos pais Natal nem das bandeiras, mas prefiro-os a isto. Os pais Natal são tolos. As bandeiras demonstram uma expressão de orgulho e de colectivo. Estes estandartes têm uma agenda, têm objectivos religiosos e, logo, noções sociais nas quais não me consigo rever.

Em Londres, vi um Homem-aranha pendurado numa janela. Não tem nada a ver com nada e isso agrada-me. Os pais Natal pendurados eram um pouco assim. Agora, podem tornar-se símbolos de resistência ateia, sabe-se lá.



quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

É natal, é natal! - Bravo e Buuu

Eu gosto muito do Natal. Tenho destas coisas, de apreciar as iluminações na rua, de gostar de fazer a árvore de Natal, dos embrulhos e até das prendas. Sei bem que já não tem metade da piada do que teve, por muitas e variadas razões, mas consigo reencontrar o sentido de uma outra forma. A excitação das prendas deu uma volta grande e, agora, sei que passa muito mais por dar do que por receber. Não me levem demasiado a sério as pessoas que me vão oferecer prenda, porque estou a contar convosco. Refiro-me mais às listas. Antes fazia listas do que queria receber, agora a lista é das prendas que vou dar. E o quadro é inevitável diferente, mas sabe maravilhosamente bem, mesmo quando é absolutamente stressante. O Natal tem qualquer coisa de advérbio de modo, mesmo. É alegremente, familiarmente, generosamente, sofregamente, singelamente, exageradamente que me entrego a este ritual, que se expande cada vez mais. Este ano, pela primeira vez, tenho já quase todas as prendas de Natal compradas e preparadas. Antecipei-me, mas não minimizei o stress. Afinal, tentar comprar todas as prendas antes dos outros começarem sequer a comprá-las pode tornar-se uma fasquia demasiado alta.
Insisto num ponto: não sou consumista. Mas consumo demais o Natal, é um facto.
Mas este post não é de auto-análise (ai que sono), mas sim sobre duas coisas: a iluminação de Natal do Camões, em Lisboa, e os brinquedos "concebidos para rapazes".
Bravo para a iluminação de Natal do Camões, assinada pela CML. Um coração suspenso, enorme, pleno de luz e cor, já era brilharete suficiente. Mas, além disso, tem um mupi associado, com um botão para as pessoas tocarem e mudarem a cor do "coração da cidade". É demais! É ver o coração mudar de cor pela interacção das pessoas, satisfeitas por poderem interferir directamente na iluminação do local. Num tempo de receios de pandemia, tem uma certa graça ver as pessoas simplesmente a quererem brincar.
Buu para a publicidade nos canais infantis. É insuportável, dói ver. Eu levo com os pandas, nickelodeons, disney channels, boomerangs da vida, o ano todo e nada é comparável ao que acontece na altura do Natal. É realmente obscena a quantidade de anúncios a brinquedos. Uns idiotas, outros absolutamente idiotas... mas todos demais. Um excesso incomparável que dá cabo da cabeça das crianças, por poderem achar imaginável sequer que aqueles brinquedos são alguma coisa de jeito. Enfim... ontem vi o meu preferido. Não me lembro que brinquedo era, o que é uma pena para o apelo ao boicote. Sei que eram carrinhos a descerem por rampas. No final, a voz off dizia aos pais, não fosse dar-se o caso de eles terem ideias estranhas, "concebido para rapazes". Assim tal e qual, sem tirar nem pôr: aquele brinquedo é "concebido para rapazes", por isso estão por vossa conta e risco se decidirem outra coisa qualquer. Um brinquedo é um brinquedo e pode ser concebido para quem eles quiserem, mas no final, haja esperança, nós é que decidimos que brinquedos queremos que os nossos filhos e as nossas filhas usem. Se calhar, mais valia começar a dedicarem-se a fazer brinquedos concebidos para brincar, mas talvez seja uma sugestão parva, porque depois os hipermercados não saberiam como arrumar a cangalhada nas suas prateleiras.
Adoro o Natal, é verdade. Mas prefiro as iluminações das Câmaras à publicidade.


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

escala essa montanha, irmã

Ando há uns dias a ouvir no carro a banda sonora da "Música no Coração". Não o faço simplesmente por adoraaaaar o filme, as canções, a Julie Andrews. Mas principalmente porque o miúdo anda com uma vontade compulsiva de ouvir o dito CD. É certo que há razões de compromisso escolar associadas - parece que a festa de Natal vai envolver parte das músicas - mas a verdade é que até foi ele que sugeriu isso à professora de Inglês.
Pois bem, depois da constante audição da banda sonora, ontem dedicámos parte do nosso tempo a rever o filme. E aquilo que já andava a pensar nestes dias confirmou-se: o filme é intemporal e conquista sempre as crianças. Não pelo conto de fadas da ama que casa com o pai de sete filhos (isso já é batido e está longe de ser a parte mais emocionante da história), mas sim porque existem 7 miúdos de idades diferentes a divertirem-se que nem loucos e ainda por cima fartam-se de cantar e correr em prados verdes. A Julia Andrews faz o que é preciso e fá-lo como ninguém. É impossível não adorar o lado absolutamente livre e endiabrado da Maria, a sua ternura com as crianças e aqueles agudos inigualáveis.
Eu sou fã, é verdade, acho que é um dos grandes filmes da história do cinema, que deve mesmo ser repetido todos os natais. Mas independentemente desse meu lado já rendido, o filme resulta. É claro que resulta, porque hoje, passadas não sei quantas décadas, continua a cativar fãs novos, sem o mínimo de esforço.
A seguir vamos para a Mary Poppins e, daqui a uns aninhos, para o "Victor Victoria" que é brilhante para o seu tempo. Para ver se os filmes mais emblemáticos da Julie Andrews continuam a resultar assim.

Para mim, uma das melhores cenas do filme é quando a Maria sai do convento para ir conhecer, pela primeira vez, aquela prole, com a canção "I have confidence in me" e era essa que queria partilhar convosco. No entretanto, encontrei esta montagem de um trailler falso que consegue transformar um dos filmes mais encantadores de todos os tempos num petrificante filme de terror. Muito bem feito e para rir.
Para quem nunca viu "Música no coração" (não sei se tal é possível), não se deixe enganar pelo trailler. É tudo maravilhoso no filme, excepto os nazis, é claro.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Protestar compensa

Hoje estou especialmente contente. A razão talvez seja pequena, mas na verdade sabe-me a grande. Uma palavra no dicionário mudou por minha causa. E estranhamente isso dá-me a sensação de influir na percepção de todos aqueles que, no futuro, consultem esta palavra que mudei. Mérito também para o Priberam, que aceitou a minha sugestão e reclamação, mudando o significado da palavra cavalona.
Se, agora, forem ver o link, além de encontrarem o significado de cavalão, verão o significado informal de cavalona como "mulher alta e corpulenta". Ontem, no entanto, não era esse o significado que estava estampado. O que era referido era que uma cavalona supostamente seria uma "mulher alta com andar e gestos impróprios do sexo". É claro que tive de me insurgir e enviei este email (cliquem para ver melhor).

Estou a partilhar isto por dois motivos:
1. Pelas razões apresentadas no email. O que será isso de "gestos impróprios do sexo"? Como se transforma algo tão subjectivo e estereotipado em algo objectivo como um significado de dicionário? Pelo erro crasso de confundir uma construção social (o género) com o sexo em si. Pelo acto irreflectido que um Dicionário não pode cometer.
2. Pelo resultado. Eles responderam-me e mudaram o significado, como podem ver no site. O que significa que estão atentos e dispostos a mudar se acharem pertinente. E, mais importante, significa que nós temos uma voz. Que cada um de nós deve falar, indignar-se, protestar, quando algo acontece à nossa frente, pelos nossos olhos adentro, que nos choca, ofende, magoa.

Acho que todos podemos fazer a nossa parte. Devagar ou aos poucos. Sem sequer saber que estamos a fazer a nossa parte, mas que estamos sim a deixar a nossa voz falar.
Por causa disto tudo fiquei com esta canção na cabeça, partilhando assim um pouco desta motivação em fazer algo pequeno que pode mudar as coisas, mesmo as mais insignificantes ou as cavalonas.



quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Corta!

Hoje é Dia da eliminação da Violência contra as Mulheres e nunca é demais puxar este assunto, porque infelizmente a luta ainda faz todo o sentido. Segundo dados da APAV, o número de crimes de Violência Doméstica aumentou 9% no 1º semestre de 2009 face ao de 2008. No entanto, isso não quer dizer necessariamente que os crimes aumentaram, antes reflecte uma maior consciência do problema e uma maior capacidade de denúncia.

Falar, intervir, não calar é desocultar este fenómeno, infelizmente demasiado comum em Portugal. Quantos e quantas de nós já testemunharam ou sabem de alguém que foi vítima? Quantas de nós poderão ainda esconder uma situação dessas nas suas vidas, passadas e presentes? A Violência contra as Mulheres é uma realidade demasiado evidente aqui, como mostram as notícias recentes, mesmo sendo crime. Noutros pontos do Mundo, nem sequer é crime, antes hábito instituído e aprovado pela sociedade.
Temos de fazer a nossa parte. Dizer basta! Nunca olhar para o lado, nunca esperar que passe. Por todas as mulheres que morreram, sofreram e sofrem. Por todas as mulheres, que vivem no permanente medo, desejando apenas a normalidade e o fim da constante ameaça. Por todas as mulheres que virão.
Hoje, há mulheres e homens no nosso país que fazem do seu trabalho uma luta diária contra estas situações, acompanhando vítimas e desocultando situações, prevenindo e mudando mentalidades. Elas e eles também merecem que os demais cidadãos façam a sua parte.

"Não é altura de dizer corta?" é como acaba este filme incrível de 2 minutos contra a Violência Doméstica. Protagonizado pela bem conhecida actriz Keira Knightley, o filme é brutal, não só pela Violência que transmite mas também pela angústia que a antecede. Aconselho a ver e os mais sensíveis que se cuidem, porque também eles serão eventualmente chamados a gritar Basta! Ninguém pode estar sozinho numa situação destas.



Noutros moldes totalmente diferentes, esta campanha dinamarquesa faz uma interessante chamada de atenção para os quadros bonitos que escondem a mais dura das verdades. Trabalho de pormenor e detalhe, totalmente diferente do filme inglês, é no entanto extremamente acutilante na abordagem. Cliquem nas imagens para verem bem.




E para não esquecermos que a Violência Doméstica não é apenas um problema dos casais heterossexuais, aqui fica uma imagem da campanha da APAV contra a violência entre pessoas do mesmo sexo, desenvolvida, com muito orgulho meu, pelo meu primo Rodrigo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Não tão lenta assim...

Pois que há coisa de um mês o meu carro foi assaltado. Usaram um método que gosto de chamar de abre-latas, que consiste em abrir a porta por cima, deixando uma abertura que pode ir dos 5 aos 15 cm. A minha abertura estava na ordem dos 20 cm, mas sabem como eu gosto de ser exagerada. Apesar do choque inicial de chegar ao carro e ver o meu carrinho violado, com CD espalhados pelo chão, o dano não foi grande. Aparentemente, os gatunos não têm o mesmo gosto musical que eu, mas gostam de mochilas de natação de miúdos de 8 anos, vai-se lá perceber. O meu seguro cobriu o dano. Para poder activá-lo, tive obviamente de me dirigir à Polícia e até não correu mal, tirando o facto do sistema informático estar com problemas e ter demorado por isso uma boa hora e meia no processo. Mas fiquei razoavelmente impressionada. Fui atendida por dois jovens e um deles até me falou de um caso de vandalismo a um veículo deles, quando foram atender um caso de Violência Doméstica. Pareciam estar do lado do bem no combate ao crime.

A dada altura, porém, depois de fazer o levantamento daquilo que tinha sido roubado (touca, chinelos, tanga e óculos numa mochila velha), o sôr agente perguntou-me se queria fazer uma queixa-crime. Não foi este o termo que ele utilizou, mas a pergunta consistia basicamente em querer saber se eu queria abrir um processo civil, dado o valor do roubo. Achei estranho, porque na verdade pensava que este tipo de crimes tinham de ser avaliados pelas forças da lei e não por mim. Disse que sim por descargo de consciência, mesmo não sabendo exactamente o que implicava, mas que percebo eu de leis e de quadros legais? Imaginei que eventualmente voltariam a chamar-me para depor, fazer um reconhecimento numa fila de suspeitos, eu sei lá, um ou dois episódios de uma série manhosa da Fox Crime.
É claro que eu sabia que era improvável, até porque, convenhamos, eles nem sequer viram o carro. O perito da Seguradora deve ser mais CSI que a nossa polícia. De qualquer modo, estava aberto o processo.
Há coisa de uma semana, recebi um postal (sim um postal) da PSP que dizia muito singelamente que o processo tinha sido arquivado. Assim, sem mais. Por falta de provas ou indícios para perpetuar a investigação. Pois. O papel que eu assinei deve ter entrado directamente nos processos para arquivar, é claro, e só por isso é que demorou 2 a 3 semanas a ser arquivado, pois teve de seguir os procedimentos.
Fiquei a pensar por que dizem que a Justiça é lenta em Portugal. Alguém quer mais rápido que isto? Abri o processo e eles rapidamente o fecharam. As Soon As Possible.
É verdade que: 1. eu pude fazer a queixa em qualquer esquadra (para quê informar a esquadra da zona que está a haver assaltos por ali?); 2. Nem me viram o carro (mas para quê se isso é coisa de peritos?); 3. Eu queria mesmo era o papel para a Seguradora (para quê utilizar os meios policiais para apanhar gatunos?).
Por mim, tudo bem. Não estava à espera que, sem qualquer investigação, se chegasse sequer a um suspeito. Mas soa estranho e é principalmente bizarro todo o processo. Talvez se me tivessem dito desde o início que era isto que ia acontecer (o que também cairia mal e provavelmente escreveria aqui mesmo sobre isso), talvez talvez eu pensasse no impacto ambiental da minha acção. Já que não ia ter impacto social, ao menos não se teria utilizado tanto papel.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

uma grande aventura

Este sábado, fui assistir ao espectáculo D. Afonso Henriques no Teatro Nacional D.Maria II. Esta revisitação ao repertório do Bando revelou-se um daqueles momentos de encontro perfeito de uma peça com o seu público. Reencenado vezes sem conta desde 1982, este espectáculo infanto-juvenil tem agora, na sua mais recente encenação, alguma da nata dos jovens actores "associados" ao Bando. Guilherme Noronha faz um espectacular Afonso Henriques, cómico e possante como só ele pode ser e todo o restante elenco (a minha Sara de Castro, Ana Brandão, Nicolas Brites e Miguel Jesus) contribui para uma festa de teatro, em que todos podemos entrar para passar um tempo de excelência e diversão.

Com inteligência, humor e um sentido apuradíssimo do que é um teatro envolvente e motivador para o público, João Brites consegue mais uma vez trazer-nos um espectáculo doce, violento, cómico, trágico, tudo num só trago, no formato mais feliz de todos: para crianças. Eu fui com duas e foi um fartote. A excitação foi tal que tivemos espadarias até à noite. Para maiores de seis, a partir daí é para todos, D. Afonso Henriques mistura a História "oficial" com memórias e relatos alternativos e com alguns perlimpimpins do improviso e gozo dos actores. Tudo com música, muita alegria e bravura.
A ver e a rever. Porque uma peça do Bando nunca termina de facto. Essa é uma das suas grandes virtudes.


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

mais uma vez... nuestros hermanos

As Secretarias de Estado da Educação e da Juventude da Estremadura lançaram uma campanha para os jovens que inclui um curso de educação sexual bastante explicativo para jovens dos 14 aos 17 anos. Entre uma das temáticas mais importantes está a questão da masturbação. O nome "El placer en tus manos" diz tudo. Pode ler-se mais, aqui em português, aqui ou aqui.


Os pais católicos, os professores conservadores e a Igreja insurgem-se é claro. Isto agora de estar a ensinar sobre sexo colaborando para práticas masturbatórias e incluindo até o uso de objectos eróticos nas aulinhas é demais para aguentar. Imagino que devem estar a pensar: quando é que vão parar de atentar contra a moral? Quando nos deixarão em paz com as ignorâncias e silêncios dos nossos filhos? Deixá-los, pensarão os decisores bem mais progressistas, tão pouco assustados.
Dizem-se orgulhosos de estarem a fomentar a masturbação e, nessa clareza e objectividade, são absolutamente progressistas. Enquanto noutros tempos ou noutros locais se tentaria mascarar esse objectivo para não chocar, para não "fracturar", hoje em Espanha assume-se. Assume-se, entre muitas outras coisas, que a masturbação não é um acto sujo, perigoso, pecaminoso, mas sim um acto que propicia uma vida sexual mais completa, mais consciente e mais conhecedora. Assume-se que é um acto bom. Abordar a sexualidade desta forma global, tratando de afectos, "técnicas" e complicações de saúde, é uma forma nova e equilibrada de encarar este tema, tão intrínseco à condição humana.
O que acho mais extraordinário em Espanha é que estas pessoas não têm medo nem pudor em afirmar as suas convicções, mesmo aquelas com que não concordo. Nesse aspecto, é extremamente admirável.
Não ter medo. ou vencê-lo, é a maior das liberdades.
É bom pensarmos que também podemos ser assim. Um bom exemplo é dado hoje por Miguel Vale de Almeida, em entrevista.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

exemplar único

Hoje vai haver um leilão no CCB dos objectos de António Variações. Que eu me lembre, é das primeiras vezes que isto acontece em Portugal com um artista pop, mas independentemente disso é um momento simbólico. Com bases de licitação que vão desde os €10 (boquilhas) aos €1000 (cassetes com as maquetes das canções - as que foram usadas para o trabalho dos Humanos), parece ser tudo possível para os verdadeiros fãs de António Variações.
O que eu acho mais extraordinário em tudo isto é que este é o artista português com quem um leilão mais parece combinar. Toda a sua persona inspira coleccionismo de objectos e extravagância. Ao mesmo tempo, é o chamado artista póstumo, porque foi demasiado maldito, demasiado mal-amado, "à frente do seu tempo", como dizem. Portanto, o leilão é adequado, mas injusto e frustrante. Porque merecia mais justiça e mais sorte em vida, enquanto artista. De qualquer modo, é interessante e dá-nos essa sensação boa de partilha.
Ouçam aqui a reportagem da TSF, não só sobre o leilão mas também em Fiscal, terra onde está enterrado, tem nome de rua e um busto. Veja-se como se comenta a estranheza que inspirava noutros tempos, assim como a menção a ser "homem sexual", misturada com esse respeito pelos mortos e orgulho de ser da terra. O presidente da Junta queria fazer um museu mas não há dinheiro. Na verdade, Variações não poderia ficar reduzido ou preso a um só local.
Que a parada fique bem alta, é o que desejo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

popota vs. leopoldina

Como se transformam duas mascotes desinteressantes e infantis em duas figuras de animação modernaças e poderosas? É melhor perguntar aos senhores da Sonae distribuição, porque eles parecem perceber do assunto.

Do lado do Modelo, temos uma Popota bomba, cruzando o flashdance com o tarantino, ao som dos Buraka. Do lado do Continente, a perua Leopoldina transformou-se numa versão animal da lara croft preparando-se para ajudar todas as crianças do mundo a invadirem um grande armazém de brinquedos.
De qualquer das formas, estas mascotes sofreram um upgrade brutal face a anos anteriores, colocando-se a anos luz do universo infantil do politicamente correcto. Popota e Leopoldina emanciparam-se, com vantagem, a meu ver, para a Popota, que tem uma auto-estima espectacular e está muito mais na dela. Vai dançando e conquistando as hostes. A Leopoldina por outro lado tornou-se uma espécie de perua mutante (ao estilo das tartarugas ninja), sem asas e com corpo de mulher, o que não está mal para o universo que estamos a falar, mas que não convence. Tem uma carinha demasiado inocente e brincalhona para se tornar uma verdadeira ninja no combate em prol das brincadeiras.
A Popota sai a ganhar, mas é uma evolução gigantesca para as duas mascotes!





Avisa-se que quem vai ao continente ou ao modelo comprar brinquedos, não há popota ou leopoldina que safe. Aquilo é mesmo a loucura e há que aguentar! Cerra os dentes que é Natal.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

todos e todas de pé

Existe a velha piada da criação em que Deus confrontou Adão e Eva com a seguinte proposta: (ler com voz divina) "Tenho duas aptidões especiais para distribuir por vocês, marcando assim o vosso sexo para toda a eternidade!" Adão e Eva aguardaram expectantes. Deus continuou: "Uma delas é o poder de mijar de pé...". Adão interrompeu-o logo, muito entusiasmado: "Eu quero essa, quero poder mijar de pé". Deus, sempre muito calmo e tolerante antes do surgimento das alterações climáticas, disse-lhe: "Mas, Adão, ainda não vos disse qual é a outra.". Adão não queria saber e insistiu ficar com essa habilidade extraordinária, antevendo já anos e anos de mijadelas para árvores, cantos e onde quer que lhe aprouvesse. Como a Eva não parecia muito preocupada com isso, Deus assentiu e deu a Adão o dito poder, para logo em seguida dizer: "Sendo assim, Eva, ficas tu com os orgasmos múltiplos".

Anedotas e mitos à parte, surge agora no mercado, trazido pelos americanos é claro, um novo produto que permite às Evas e às outras mijarem também de pé. Chama-se Go Girl e é um mecanismo (simples até) que permite a uma mulher fazer chichi sem ter de se preocupar em arranjar uma casa-de-banho. Supostamente muito prático e higiénico, o objecto é claramente mais um passo de emancipação. Mesmo que nos pareça supérfluo ou desnecessário, a verdade é que todo o conceito do produto assenta na ideia de autonomização da mulher. Com uma assinatura de produto que diz "Don't take life sitting down", que é algo como não leves a vida a sentar-te, este torna-se mais um veículo de empoderamento das mulheres. Tal como dizem, "You won’t be like a man. You’ll just pee like one.", ou seja, não haverá nada que não possas fazer como ele. Independentemente de querer ou não mijar de pé, poderei fazê-lo. O próprio nome é um sinal desse empoderamento.

Trata-se de um produto comercial e, nesse sentido, torna-se ainda mais fascinante, pois inevitavelmente sugere que o mercado está preparado para isto. As mulheres estão preparadas para isso. Já não aceitam simplesmente as "aptidões que Deus lhes deu" (mesmo que sejam muito boas) e vão à procura de novas, desafiando o que está convencionado e o que é "naturalmente" o seu limite.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

esse lugar mágico

Não foram bem coisas que me entraram pelos olhos adentro que me fizeram escrever este post. Nem sequer foram bem coisas. Foram mais sugestões do meio envolvente que me levaram para aqui, para o reconhecimento desse universo alternativo em que por vezes nos movemos.

Na verdade, isto não tem nada de esotérico ou de verdadeiramente místico, é mais uma assumpção desta coisa de sermos humanos, inteligentes e sensíveis de uma forma muito nossa.
Às vezes somos transportados para lugares que não são estes em que aparentemente estamos. É daquelas coisas que nos fazem realmente sermos o que somos. Temos uma habilidade (quase como quem sabe fazer malabarismo, sim) de nos afastarmos do nosso contexto real para nos projectarmos num outro lugar. Mais do que "simplesmente" pensar, refiro-me a esta constante "invenção", recriação e recreação de nós mesmos. Num simples acto automático, idealizamos o fim-de-semana, vemos as nossas crianças adultas, imaginamos a cara-metade no mesmo instante do outro lado do mundo. De uma forma simples, sem pensar, sem nenhum passo de mágica, tudo vem.

Mas aquilo que gosto mesmo é quando de repente partilhamos os lugares mágicos com a realidade. À semelhança do que acontece com os sonhos. Quando descobrimos segredos de nós próprios, da realidade, da história e dos outros, por nos transportarmos para outros lugares, sejam eles ficção, pensamentos, memórias ou sonhos.
Gostava de saber explicar melhor mas depois não teria tanta graça.


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Uma questão de género

Ontem, o programa Prós e Contras foi sobre a Gripe A. E, para destoar do que costumo ver, a primeira parte do programa foi razoável, sensata e calma (excepção feita aos amoques da senhora apresentadora que a malta já conhece). O resto não vi, não sei, mas, de um modo geral, pareceu-me bastante elucidativo.

Houve, no entanto, um momento daqueles únicos. Daqueles que ilustram o verdadeiro abismo que ainda existe entre a nossa e uma sociedade sem desequilíbrios inacreditáveis de género. O representante do Sindicato dos Enfermeiros estava a expor as dificuldades dos enfermeiros perante um cenário de gripe. Ora, um dos problemas é a falta de pessoal, que se agrava inevitavelmente num hipotético cenário pandémico. Primeiro, porque estão mais expostos à doença, podendo também adoecer, e segundo, porque têm de ir tomar conta dos filhos doentes. E porquê? Disse o senhor numa só frase: "porque esta ainda é uma profissão em que os profissionais são maioritariamente do sexo feminino". E seguiu em frente, atropelando o resto das palavras.
Ninguém reparou, o debate continuou. Ali ficava a ideia dominante de toda a sociedade: quando as crianças adoecem, são as mães que ficam com elas. É à mãe, à mulher, que compete esse papel. Se os enfermeiros fossem maioritariamente homens não haveria problema nenhum. Afinal, não é suposto os pais faltarem aos seus empregos para ficarem com os filhos doentes. Que disparate!
Podia repetir outra vez? Eu sei que o programa não é sobre questões de género, mas repita por favor. As mães é que ficam com os filhos doentes. Nem é preciso questionar, interrogarem-se porquê, é assim.
Não, não é. Não há nada na legislação que diga que são as mães, não há nada no bom senso que o diga - é apenas hábito, preconceito, estereótipo. Felizmente, há pais que faltam ao trabalho quando os seus filhos estão doentes e mães que vão trabalhar. Mesmo que a "sociedade" e o lugar comum nem sequer concebam esse cenário e que olhem de lado os "inovadores progressistas".
Os constantes aconchegos feitos, sem que ninguém se dê conta, a esta perpetuação do status quo da desigualdade de género têm de ser desmascarados, alguém tem de parar e dizer "desculpe, não entendi essa parte do seu raciocínio que supostamente era óbvia". Só assim se darão golpes visíveis a esta constante e enraizada desigualdade - a tal que "nem se nota".

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Diverte-te

A teoria é simples: a diversão muda o nosso comportamento, isto é, se algo nos diverte fazemo-lo com mais facilidade. Chama-se The fun theory e é uma iniciativa da Volkswagen.
Através de um conjunto de experiências, reúnem pequenas provas desta grande teoria. E, bem feitas como estão, é claro que só podiam resultar.
A iniciativa é mais que uma acção viral. Tem um concurso incluído (até 15 de Novembro, corram!) para ideias loucas e divertidas que ajudem a alterar comportamentos. E se forem delirantes ainda melhor.
A imaginação que esta equipa colocou nestes três exemplos que mostro em baixo podia ajudar-nos a salvar o mundo, parece-me. Com tempo e orçamento, nada como a diversão para pôr as pessoas a fazer o que é preciso. Haja alegria e boas ideias.
A Volkswagen, por outro lado, consegue notoriedade e aumenta a boa onda do consumidor em relação à marca. Admiro sempre o arrojo de certas iniciativas que, no final, se revelam absolutamente redondinhas, cativantes, fascinantes e, quem sabe, alteradoras de comportamentos. Uma grande ideia gera gozo e mais potencial criativo. E aquilo que acontece em Estocolmo passa a ter repercussões globais. Todos podemos partilhar enfim o fascínio pela brincadeira e pela simplicidade.








sexta-feira, 30 de outubro de 2009

amor pleno de imagens

O amor é dado a imagens. Imagens pessoais, como retratos imaginários que tiramos em determinado momento guardando-os para sempre, e imagens "universais", que o cinema e a cultura popular incrustou no imaginário colectivo.
É engraçado constatar que esse imaginário enriquece-nos, mesmo que possa toldar-nos na possibilidade de vivermos as nossas próprias imagens (na adolescência sobretudo).
O artista francês Ludéal (que nunca tinha ouvido falar até hoje) fez um teledisco brilhante com algumas cenas emblemáticas de filmes de amor, ou com amor. Além de ser muito bom, é um jogo muito divertido para identificação de cada um dos filmes. Eu já os sei todos com a contribuição aqui da equipa. É só perguntar.
Divirtam-se e amem entretanto.


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O mundo, esse duro paradoxo

Não há dúvida. O mundo é um lugar estranho. Deve ser das pessoas, sempre prontas para o melhor e para o pior.
Ontem, Obama assinou uma nova lei que transforma os crimes de ódio em crimes federais, dotando o sistema de mais ferramentas de protecção contra aqueles que atentam contra a diferença, seja ela de cor, de orientação sexual, de género, de religião ou de nacionalidade. Assim, enquanto numa parte do mundo se assina um compromisso com os direitos básicos de igualdade, dando um claro sinal que a violência de ódio não será tolerada, noutra parte do mundo tenta institucionalizar-se essa violência.
No Uganda, onde os homossexuais já sofrem a ameaça de pena de prisão perpétua, querem agora instituir a pena de morte para aqueles homossexuais "agravados". Como já penalizam a homossexualidade de uma forma brutal, qual seria a pena adequada o que chamam de homossexualidade agravada (actos homossexuais com menores, deficientes ou quando têm HIV)? Matá-los todos, é claro. Estranhamente não falam da heterossexualidade agravada, ou seja os que praticam actos heterossexuais nas mesmas condições.
É mesmo muito assustador o que este mundo contém e de tudo o que as pessoas são capazes.
Entretanto, viva o Obama!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Geografia do olhar e do sabor

Por muito que trilhemos Portugal, há sempre um ingrediente novo por descobrir. As terras estão sempre abertas a um novo olhar e a gastronomia disponível para um novo sabor. É assim que vejo Portugal de cada vez que o redescubro fora dos muros da minha cidade: saboreio-o.

Conforme a estação (o que neste momento não se aplica muito), as terras vão-nos dando novas cores, com uma luz diferente. Passear agora é um privilégio, porque as terras estão limpas de turistas, aparecem na sua frescura e na sua autenticidade (quando a têm, claro).
Este fim-de-semana, estive a passear e reencontrei lugares da minha infância e nada era bem igual. Porque, quando somos jovens e tolos, estamos interessados na geografia útil e, por outro lado, a das emoções e da memória. Não criamos empatias com a beleza, somos atraídos pela luz dos cromados e pela comodidade que a terra dá às nossas necessidades quotidianas. O sítio dos gelados, o cinema, as praias, os lugares onde brincamos e pouco mais. Redescobrir a beleza de um lugar conhecido na idade adulta é uma boa sensação.
Com a comida, é um pouco semelhante o processo. Aprendemos a gostar do que era intragável e a saborear cada um dos pratos das nossas terras. O cozido de Canal Caveira, por exemplo, era uma delícia para os adultos, mas eu ia sempre para o bitoque. Mas a riqueza fascinante da nossa comida acaba sempre por vencer e, na praia, passamos a preferir amêijoas em vez de hamburgueres.
Na nossa geografia natural, gastronómica e cultural, possuímos lugares únicos no mundo. Um dia apenas a contemplá-los pode trazer-nos o descanso e o deleite de umas férias completas.
Por isso, é bom voltar e descobrir esta notícia que nos anuncia que "Portugal surge em quarto lugar no ranking dos países com mais produtos agro-alimentares de excelência" no Qualigeo-Atlas. À nossa frente só Itália, França e Espanha, mas eles que se ponham a pau, porque não há comida como esta, como não há terra como esta.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

música para os meus ouvidos


Chegou o novo disco da Adriana Partimpim. Depois da viagem do primeiro disco, a cantora mais espectacular do Brasil traz-nos "Dois", com este primeiro single "Gatinha Manhosa". Ouçam...



É sempre tão bom levar com uma novidade destas. Derrete-me o coração ter uma das minhas artistas favoritas a fazer músicas a pensar nos pequenitos. E poder ouvi-las no carro, em casa, com os nossos pequenos grandes amores. Ir aos concertos e vê-los a saltar e a vibrar com as mesmas coisas que nós.

A inteligência musical de Adriana leva à expansão da imaginação e garante sempre novos horizontes musicais.
Conheçam o novo disco, pintem e divirtam-se no novo site. Adoro o "ringtone do amor", que ela já tinha apresentado nos concertos. Ui, vou já começar a pular!


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

é preciso ter lata

Muito se fala da nova comunicação do Pingo Doce e como é pirosa, pindérica, enjoativa, etc. Mas depois de ver hoje, pela primeira vez, a campanha da emel (essa grande empresa municipal com o maior índice de tentativas de atropelamento dos seus funcionários), venha daí a piroseira, pois é preferível à demagogia e populismo.

A campanha assenta em duas ideias falsas: a emel pode salvar-me a vida e facilitá-la até. Usando a imagem de um bloco operatório, em que médicos e enfermeiros fazem um ar entediado e expectante, o anúncio sugere que, por causa de um carro em segunda fila, há uma pessoa que não está a ser operada. Vejam.



Esta dramatização sensacionalista é chocante. Por várias razões. Primeiro, é mentira, já que a emel não tem nada a ver com carros estacionados em 2ªfila, isso é um assunto da polícia (ver correcção nos comentários). Depois, constrói uma situação absurda, negativa e dramática, para projectar-se de uma forma pouco digna ou que tenha sequer a ver com os benefícios directos da emel para a cidade.
Na verdade, ninguém gosta da emel. Nunca ouvi ninguém dizer "ah, a emel, grande empresa, grande trabalho". Eu entendo, a função deles é dura e pouco popular. A comunicação deve evidentemente combater essa percepção, mas não tentando criar uma nova percepção absolutamente desfasada da realidade.
A emel tem uma função importantíssima na cidade. Promove uma coisa imperativa na vida urbana quotidiana: dissuadir o uso de automóveis individuais. Pode ser desagradável, e é muito, mas é um mal necessário. As pessoas queixam-se mas, no fundo, sabem que é preciso. Este trabalho duro que alguém tem de fazer é meritório por si só, mas por favor não tentem que a população goste de vocês, porque isso não vai acontecer nunca.
Um polícia pode salvar-nos a vida, assim como um bombeiro, um paramédico, até um militar. Um senhor ou senhora da emel é apenas um revisor dos lugares concessionados.
Esta campanha parece-me um desejo absurdo de atenção, com uma promessa pouco credível, populista e garganeira (linguagem técnica refinada). Ofende todos os outros grupos profissionais que, realmente, contribuem para a manutenção da ordem e do bem estar nas nossas vidas. A emel fiscaliza e pouco mais. A sua função mais importante é existir e gerir, é um merceeiro de lugares pagos. Quem lhe deu a existência é que tem o mérito e a visão.
Ainda ontem, ao entrar num bairro histórico com entrada reservada a automóveis, vi a seguinte frase pintada nuns tapumes de obras: os moradores não gostam da emel.
Pudera, ninguém gosta.
E ainda gostaremos menos se nos tentarem atirar areia para os olhos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

o melhor e o pior

Resisti durante uns tempos ao Facebook, é um facto. Talvez por que o associasse a um certo diletantismo, superficialidade de relações, desperdício de tempo, partilhas desnecessárias, ou simplesmente porque não queria entrar num clube que me aceitasse como membro. Depois, finalmente, acabei por sucumbir e senti-me idiota durante 3/4 dias. Depois integrei a coisa e senti-me idiota durante 2/3 por me ter sentido idiota.
Na verdade, é uma boa ferramenta para muitas coisas: ter uma quinta animada, divulgar este blog, partilhar links e notícias e, principalmente, receber o que as pessoas (os ditos amigos) têm para partilhar. E pode ser uma excelente experiência, com coisas novas a acontecer e causas a conhecer...
O melhor do Facebook são as pessoas e essa rede que constroem de afectos, de ideias, de experiências, de gostos, de coisas.
Mas o pior do Facebook também são as pessoas. Não por aquilo que partilham, mas pela inacreditável capacidade que têm de aderir a coisas disparatadas (para não dizer parvas) e contaminar uns quantos outros. Ou seja, o processo é espectacular: partilha, disseminação descontrolada, mais partilha, mais disseminação. Tudo isto sem filtro. E é assim que deve ser. Afinal, uma rede é mesmo isso. Chegar às pessoas e elas serem o seu próprio filtro. Eu filtro o que quero e o que não quero do meu facebook.
O problema é quando o facebook se torna gerador de notícias. Quando o próprio facebook se torna notícia, transformando pequenas e insignificantes coisas em bizarras e mega notícias com consequências dificilmente válidas ou compreensíveis. É tudo uma questão de escala e com certeza haverá quem está a perder a sua noção.
Vejamos o caso da Maitê.
A actriz brasileira, evidentemente pouco dotada para a comédia, fez um vídeo disparatado que passou há DOIS anos no Brasil. E o que aconteceu agora? Polémica, polémica, gozou com Portugal e ergue-se um movimento, mais forte do que aquele que elegeu Salazar como o maior dos portugueses, a exigir desculpas. Saltando a parte óbvia do "MAS ESTÁ TUDO LOUCO?", aquilo que se torna evidente é que esta notícia não surgiu em nenhuma redacção atenta, mas obviamente numa rede social. Num dia, a coisa espalhou-se e chegou a jornais, televisões, até a embaixada prestou declarações e na imprensa do Brasil também deram visibilidade a esta não-notícia. Fez-se petição a exigir desculpas e elas lá chegaram. Sofreu ataque na página da wikipédia, eu sei lá, a mulher sofreu por não ter piada.
Alguém se lembrou de partilhar este vídeo e a coisa pegou de um modo inacreditável. E os nossos jornalistas, felizes e contentes, pegaram na notícia e fizeram-na sua, desencadeando este sucessivo rol de acontecimentos infelizes.
O caso do pingo doce também é paradigmático. Fez-se questionários a gozar, grupos contra, petições, tudo por causa de um anúncio. Que se tenha feito tudo isto, não me choca - afinal, haverá muita gente que pode questionar as minhas escolhas facebookescas. Mas que a Comunicação Social pegue nisto e o difunda como um assunto sério, é que é muito estranho.
Se as fontes do nosso jornalismo começarem a ser assim tão latas e tão permeáveis a efeitos virais, já não precisaremos de jornais.
Usem o vosso filtro, porque alguns de nós usarão seguramente.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

define maravilhosa

Nos últimos dias, tem havido excelentes notícias (sobre as más falarei para a semana). Não só o Obama foi Nobel da Paz, espantando meio mundo, como o Rio de Janeiro foi a cidade escolhida para as Olimpíadas de 2016. De repente, parece que estamos num mundo integrador, que promove a miscigenação, em que as instituições se tornam pioneiras em vez de seguirem caminhos trilhados.
Instituições pesadas a surpreender, para mim, são sempre boas notícias. De tal forma nos vamos habituando a que instituições simplesmente imponham procedimentos e o cumprimento correcto dos mesmos que, quando algo foge da norma e é pioneiro, nos rejubilamos. É mesmo assim e vá havendo coragem, é o que desejo.
No meio disto tudo, o Rio ser a cidade escolhida para os Jogos mais simbólicos dos tempos modernos e antigos encheu-me de alegria. Não só é a primeira cidade da América do Sul a recebê-los, como é a "cidade maravilhosa", com garotas de Ipanema, Caetano e Calcanhotto numa esquina, mais à frente aquela beleza natural misturada com a civilização e todo um restante imaginário fascinante, pelo menos para mim. Um verdadeiro show este, colocarem o mundo todo ali, numa grande festa do desporto, encontro entre povos, poesia, samba e língua portuguesa e por aí fora (beleza, cara). É assim que às vezes balança a minha cabeça, deixando-me guiar pela envolvimento das imagens, um imaginário desenhado por ficção e letras de MPB e das minhas palavras preferidas miscigenação.
Para ajudar, vejo o vídeo de apresentação da candidatura e, minha gente, vamos dançar que ali é o paraíso e por que ainda não estive lá, meu deus? Ei-lo, bem feito, a cativar o Comité e a colocar do lado da sua candidatura a verdade, a genuinidade, a paixão. Pois claro, se é Rio é verdadeiro, vamos lá, minha gente, outra vez.
Neste rodopio de alegria para o qual me arrastei, deparo-me com a notícia de que, por questões óbvias de segurança (favelas, meu irmão), vão ser construídos muros na cidade. Tudo para proteger os turistas que visitarão ainda mais a cidade durante os Jogos Olímpicos. Lá se foi o rodopio e a alegria. Lá se foi a miscigenação e lá veio a segregação. Lá se foi o progressista e veio o reaccionário.
É pela segurança, pois pois. Mas a ideia que nos guiava então, este gesto simbólico de colocar os Jogos ali e não noutro sítio mais seguro, para onde foi ela? Para onde foi essa cidade maravilhosa que o neguinho dança na rua, enquanto varre o chão? Será que até 2016 não arranjavam solução melhor? Será que por porem árvores, arbustos e flores a disfarçar os muros eles se tornam menos muros? Será que a arte que os pintar anunciará a liberdade em vez da prisão?
O Brasil ganhou, é um facto. Mas não se pode ser maravilhosa só dos muros para fora.


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ah sacanas

Quando os publicitários fazem coisas que eu adoro, como este anúncio que aqui vem, só me apetece chamar-lhes nomes. E isso quer dizer que fico chateada, feliz da vida, invejosa, encantada... Tal e qual como este anúncio, as palavras podem ser tanta coisa, tanta tanta. E eles aqui só revelam um bocadinho, mas uma pessoa prende-se pelas possibilidades.

No final não interessa nada qual é a marca ou o produto anunciado. Para mim, é a melhor publicidade, porque a ideia vai permanecer muito mais tempo assim. E a marca virá associada por arrasto.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

fractura aberta

A nação mais progressista é também a mais conservadora. Nos Estados Unidos da América, cabe lá tudo, um reaccionarismo bacoco e uma mentalidade muito mais à frente do que estaríamos dispostos a integrar aqui no nosso cantinho.

Mas, com eles, não há a velha desculpa das "questões fracturantes". Pode fracturar quem enfiar a carapuça, mas por lá faz-se o que é preciso para defender a sua posição ideológica, seja para o bem ou para o mal. Queremos acreditar nisso, agora que temos um Obama da Paz, personificação em si mesmo da união, da miscigenação, da integração, da não-discriminação, e a avaliar pela última notícia, parece que há boas razões para acreditar. A intenção de Obama em acabar com a discriminação dos gays no exército é uma excelente notícia, principalmente porque acaba com a política hipócrita do "don't ask, don't tell", que é como quem diz sê surdo e mudo o máximo tempo que conseguires e a gente deixa-te ir para a guerra. Toda a gente tem o direito a não perguntar e não dizer, mas essa não deve ser a política institucionalizada. Na verdade, penso que, às vezes, seria preferível que se perguntasse, acabando com a tirania do silêncio, imposta inconscientemente a tantos de nós, mas isso já é outra conversa.
Quem não tem papas na língua é a actriz norte-americana Cynthia Nixon (a Miranda do Sexo e a Cidade), que fez um discurso* excelente no National Equality March Rally, a marcha gay nacional dos EUA. A parte final, sobretudo, é uma grande defesa do direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, porque acentua uma problemática muito real desse paradigma ultra-conservador dos States: a discriminação sustentada pela recusa deste direito valida a constante perspectiva de que o diferente é menor e, como inferior que é, merece ser punido.
Vale a pena ver. E, para nós, portugueses, importa-nos ver como uma questão fracturante não é uma questão a evitar, pelo contrário, há que enfrentá-la para acabar com outro tipo de fracturas, bem mais danosas para todos.



*Obrigada, Cláudia, por partilhares.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Era bom, não foi!

Mais uma vez, Tarantino vem fazer das suas. Com muito sangue, crueldade, vingança e um humor fora do normal. Habituámo-nos a entrar no seu olhar cinematográfico que encena situações absolutamente inusitadas, muitas vezes absurdas, mas com um toque tão real e casual que temos de acreditar. Gangsters a discutir Madonna ou os nomes da McDonald's na Europa, assassinas mestres do kung-fu vestidas em fato-de-treino, miúdas giras e duplas a darem cabo de um serial killer, numa apoteose de violência incompreensível mas também absorvente, prendem-nos, fidelizam-nos e, a mim, deixam-me verdadeiramente banzada (este é mesmo o termo técnico). E tudo, sempre, mas sempre, regado com diálogos brilhantes. Diálogos reais e espirituosos, que me fazem babar de inveja pelo seu valor dramático despudorado, que fazem rir os espectadores, prendendo-os, suspendendo-os.

Os "Inglorious Basterds", desta vez, levam-nos ao martírio da suspensão, deixando-nos sem respirar e com o coração demasiado acelerado. Tudo é, mais uma vez, excessivo e carregado de momentos exasperantes, selvagens, cómicos e violentos. E no mais tenebroso dos cenários: a França nazi.
A violência, neste caso, é muito mais próxima, muito menos cómica, porque é reconhecível. Temos o imaginário cheio de histórias de nazis e, no fundo, odiamo-los tão profundamente que este filme nos enche as medidas também por isso. Tarantino oferece-nos um cenário "perfeito" de devastação nazi, com um fim excepcional, em que todos os grandes nazis morreriam à mão de si próprios e de uma judia. É delirante a fazê-lo, obviamente. Mas são sempre assim os filmes dele, um verdadeiro delírio que não é filmado como tal. É filmado contando-se de forma incrível a história.
Nesta demanda, Tarantino teve uma preciosidade, muito para além de Brad Pitt. O vilão Hans Landa (Chrishtoph Waltz) dá-nos os grandes momentos do filme, tornando-se inacreditavelmente o melhor do filme todo. As mulheres também voltam a cumprir o seu papel, mas não ocupam o mesmo lugar cimeiro que tiveram no Kill Bill ou no último Death Proof. Este bando de homens "sacanas sem lei" estão mais próximos dos Cães Danados. Seja como for, o brilhantismo volta a ser a marca de Tarantino, mesmo que, desta vez, ele ainda nos tenha massacrado nós. Mas, se não fosse assim, sem um bom massacre, não seria Tarantino.
Deixo-vos o trailler principal e um outro com o monólogo brilhante do nosso vilão copinho de leite.




quinta-feira, 8 de outubro de 2009

a necessária perspectiva global

Em tempos com o tempo estranho, não há como contornar a questão. Por aqui, a semana passada havia fogos, hoje (ontem) há mini-tufões. E não vale a pena fingir que é normal, que não tem nada a ver connosco.
Pessoalmente, gosto de poder estar na varanda, descalça, com um calor imenso e a chuva a cair a potes. É bonito, é poético, tem algo de reconfortante. Mas, na verdade, vendo a perspectiva global, é simplesmente aterrador.
As pessoas que ficaram com a casa "escangalhada" lá para os lados do Ferreira do Zézere acharam-no aterrador e não sabem bem quem ou o que amaldiçoar. Mas, perante outras catástrofes naturais que assolam este planeta, estes casos parecem pequenas anedotas.
E a gritante impotência perante tais cenários tem de ser substituída pela consciencialização que há algo que se pode fazer. Já, agora mesmo, em cada instante.
Como por exemplo? Reutilizar, reduzir, reciclar, como evidencia esta excelente campanha.




quarta-feira, 7 de outubro de 2009

colados para a vida

Muito se fala, estuda, analisa, comenta, idealiza, sistematiza, teoriza sobre o facto de haver casais que vivem juntos uma vida inteira. É claro que um certo cinismo, bem aplicado em determinados casos, pode apontar para factores externos oportunistas que levam casais a permanecer juntos. De qualquer modo, encontrando casos bem sucedidos, o enigma pode instalar-se, levando equipas a formar opiniões científicas de todos os ramos para sustentar teorias. Na verdade, isso pouco interessa, porque até hoje ninguém se tinha lembrado desta. É tudo uma questão da cola que se usa, como podemos constatar neste anúncio (se clicarem na imagem podem ler o copy: long lasting glue - cola com efeito prolongado).



Uma boa cola com efeito duradouro, como esta, pode fazer milagres. Esta campanha, com o sentido de humor bem apurado, levanta o véu desta questão, revelando essa ponta de cinismo que a nossa sociedade tão bem alimenta.
Mas o que gosto mais desta ideia é mesmo essa possibilidade de encontrarmos a cola certa. E aqui cola quer dizer tudo aquilo que colocamos entre nós que nos aproxima. Tudo aquilo que faz do dia-a-dia um motivo de proximidade, intimidade e cumplicidade. Não é à toa, parece-me, que todas estas palavras terminam com idade, como se a vida nos desse tempo para a absorvermos bem, para crescermos e enriquecermos com aquilo que ela nos dá.
Às vezes, não precisamos de pensar no efeito prolongado da "cola", podemos simplesmente aplicá-la e ver quão boa ela é, aproveitando a sua capacidade de nos fazer permanecer em contacto (muito próximo) com prazer.
Há anúncios que têm este condão de despertar reflexões, mesmo quando são tolos, cómicos e um pouco idiotas. Ou então é só dos olhos. De qualquer modo, sabe bem colar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

desenho de cidade, desenho meu

Em tempos de Autárquicas, uma pessoa põe-se a pensar naquilo que deseja para a sua cidade, naquilo que falta, naquilo que está bem e mal, naquilo que a pode tornar melhor. No meio desta eventual reflexão, depara-se ou não com uma evidência: a minha cidade é linda.
Lisboa é uma cidade linda. E talvez esta conclusão não tenha vindo das autárquicas (afinal, não preciso pensar muito relativamente a isso), mas sim desta oportunidade, que de vez em quando a cidade me dá, de achá-la absolutamente encantadora. Nem sempre nos concede isso, com os seus pequenos e grandes defeitos a espreitarem-nos os dias, mas quando o faz é impossível não nos atirarmos a ela com cânticos de amor e adoração.
Deparei-me com uma vista de telhados e Tejo... tudo imenso. E lá me fui lembrando de outras vistas bem presentes na minha vida toda, que nos arrancavam do lugar mesmo sendo banais. Talvez por que soubéssemos que não estariam lá sempre.
E, dessa vista, passei para a vida, para a permanente epopeia que Lisboa desenha. E, ao fim de quase dois meses, voltei a reconciliar-me com a minha cidade, deixando esse meu lado africano das paisagens imensas das férias descansar um pouco.
Assim nos vamos desenhando, com esta coisa que os espaços nos dão. Contornos, cheiros, possibilidades, sonhos e reencontros.


A cidade prepara-se agora para receber um novo inquilino* e fá-lo brilhante de orgulho, sempre bela, desejando o melhor.


* ou inquilina.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

o gesto global

As campanhas de sensibilização sobre as alterações climáticas necessitam combater, em primeiro lugar, as resistências do público, que cede quase sempre à sensação de impotência e frustração, anulando assim qualquer movimento ou acção. O público vê-se confinado a espectador, incapaz de fazer seja o que for para resolver. A verdade, segundo nos dizem, é que pequenas alterações nos nossos gestos quotidianos, multiplicados à escala global, podem fazer uma grande diferença.
Se pensarmos em questões sociais de uma forma global, a resistência está também lá. Ao depararmo-nos com problemas gigantescos, a tendência é assustarmo-nos, encolhermos os ombros, chorarmos, paralisarmos. Porque não sabemos qual é a solução e não temos a mínima ideia do que podemos fazer. Por isso, os donativos são uma benção para a maioria do público bem intencionado. Campanhas como a do Banco Alimentar contra a fome, nos supermercados, são um sucesso, porque as pessoas compreendem o gesto, materializam a sua ajuda e valorizam-na por isso.
Este é o desafio de toda a comunicação "solidária": levar as pessoas a entender o seu papel, a valorizá-lo, porque a maior parte das vezes é intangível, imaterializável e não quantificável. Ficamo-nos na abstracção.
E essa é, a meu ver, a única saída. Ou seja, individualmente sermos capazes de agir com a noção do global. Tornar a nossa acção concreta numa acção universal. Não é muito diferente de um ensinamento cristão, mas a diferença reside sobretudo no tipo de acções de que estou a falar. Não se trata de moral, nem sequer de ética, mas capacidade de reflectir sobre o impacto daquilo que fazemos numa escala nunca antes vista.

Este filme mostra-nos um pouco essa ideia de causalidade, numa excelente animação.


terça-feira, 29 de setembro de 2009

vida em par

Depois desta campanha de prevenção do Cancro da Mama, deparei-me com esta outra, de uma revista holandesa chamada Pink Ribbon, também contra a doença.

A outra subvertia os padrões associados à doença, veiculando a mensagem de que as mamas são para se gostar e para se cuidar, e esta volta a recolocar o cerne da questão, propondo uma abordagem diferente. Não tão bem humorada e cómica, mas igualmente original.
Gosto sobretudo desta ideia de humanizar as mamas, como se fossem um par que deve viver inseparavelmente, trazendo consigo memórias comuns e histórias que só elas podem contar. Além disso, a campanha (principalmente a parte gráfica) está visualmente muito bem feita. Sem ser tão disruptiva como a primeira, é no entanto muito eficaz a transmitir esse valor insubstituível das mamas.






segunda-feira, 28 de setembro de 2009

um novo cenário

Após esta noite eleitoral, desenha-se um cenário diferente para Portugal. Deixa-nos curiosos, expectantes e até esperançosos. Só não dá para estar mais devido à infeliz subida para 3ºlugar do nosso rapaz das feiras. De qualquer modo, é algo substancialmente diferente do que temos vivido nos últimos tempos e, até ver, a coisa promete.
Entretanto, os analistas políticos já fizeram as suas coligações virtuais, os prós e contras, e não vou maçar-vos com isso.
Ontem foi uma noite histórica por muitas razões. Para além das já anunciadas, resta sublinhar uma outra muito importante: Miguel Vale de Almeida foi eleito pelo PS como independente, tornando-se, do que sei, o primeiro gay assumido a ser eleito para a Assembleia da República. Não é um gay qualquer, é um activista e, pela qualidade da sua acção política e cívica, será com certeza uma grande aquisição para a equipa dos deputados.
Sobre isso, importa também falar das imagens mais formidáveis da noite eleitoral de ontem. Sem correr quaisquer riscos de favoritismo partidário (pois não votei PS), foi maravilhoso assistir à cartologia dos apoiantes do PS depois da vitória. Viam-se as habituais bandeiras do Partido, as de campanha e depois as do Arco-Íris, símbolo do movimento gay em todo o mundo. Foi a primeira vez que as vi num contexto partidário destes, numa noite de eleição, mostrando claramente como a defesa dos direitos dos homossexuais dá os seus frutos e como a luta e a visibilidade compensam.
Para um toque ainda mais saboroso para o partido vencedor, e para mim (porque me dá esperança neste novo PS que terá de governar), havia, entre os apoiantes, muitos negros, muita cor.
Foram as imagens da noite, porque permitiram-me a mim ver um Portugal mais plural, mais rico, mais progressista e isso já soube a vitória.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

quase quase a reflectir, os vencedores são...

Acho que não sou a única a sentir que estas eleições estão mais acesas do que o habitual. Por um lado, existe o efeito Sócrates que parece despertar em muita gente uma raiva espumosa que move e desperta opiniões e convicções profundas. Depois há este clima de suspense, quem é que vai ganhar? E quem se irá coligar? Isso levanta medos e inseguranças em muita gente, surgindo novas e destemidas opiniões para sossegar outros.
Entretanto, os portugueses têm vindo a desenvolver algum espírito cívico, ainda efeito, a meu ver, do último referendo, o que tem ajudado.
Não foram tanto as ideias em causa, mas mais todo o circo à volta e o sentimento profundo anti-sócrates e ferreira leite que foram motor desta campanha.
Mantendo este nível de análise, acho que há três cartazes vencedores de campanha.



Bem feito, quentinho, cheio de esperança e garra, o último outdoor do Sócrates ultrapassa todos os outros que lançou durante a campanha. É uma peça de comunicação eficaz e motivadora como devem ser as de campanha.


O último do BE é o derradeiro passo para o poder. Finalmente atingiram a maturidade e querem mostrá-lo. Inspiram a confiança de mostrar a cara, colocando-se à frente da causa e responsabilizando-se pelo seu trabalho. Eles dizem que não vão fazer coligação, mas era capaz de nos dar muito jeito.



A pedra no charco que só alguns podem dar (antes era o BE), um desabafo universal presente no consciente de muita gente (mesmo que não seja no voto), a gargalhada anti-sistema, é assim o outdoor do MMS, que andou a campanha toda a queixar-se da comunicação social, deixando logo de ter graça.