quarta-feira, 1 de julho de 2009

meio cheio meio vazio

Há uns dias atrás deparei-me com 3 garrafas antigas de Água da Bela Vista. Achei curioso que tivesse havido uma água proveniente do "famoso" bairro problemático de Setúbal, que há umas semanas atrás inundou os media. Não sendo uma conhecedora da história e da vida de Setúbal, tenho actualmente laços fortes à cidade e, daí, ter-me surpreendido ainda mais.

A problemática Bela Vista já me era teoricamente familiar e impressionou-me mais uma vez, na altura da exposição mediática, a forma como os meios de comunicação em geral se portam como abutres, indo buscar o que lhes interessa, como se o tivessem descoberto, para depois o abandonar quando já não lhes interessa.

Mas este post tem a ver com a água. A ideia de que neste bairro já existiu uma nascente de água capaz de produzir água de mesa é fascinante e impele-nos a questionar por que não se potencializa isso na "regeneração" do bairro. É claro que falo de cor (ou seja, do coração) e não faço a mínima ideia se tal ideia poderia ser aproveitada.

O que sei foi o que encontrei aqui e, ao que parece, a água era termal. Tinha efeitos terapêuticos reconhecidos, existindo casos e registos dos seus bons efeitos. Agora, a antiga zona de captação, marcada por uma torre, está ocupada por um supermercado e seu estacionamento. A água existiu até finais dos anos 60. Em 70, a Quinta da Bela Vista deixou de ser uma quinta para passar a ser uma urbanização social.

Às vezes, perguntamo-nos como é que tudo está às voltas, como é que as coisas chegam onde estão. E depois vamos reconhecendo os pequenos pontos no caminho e na falta de visão que nos impediu e impede tantas vezes de percorrê-lo no melhor sentido*. Seja como for, o que fazer com isto agora? Há-de haver algo.

Deixo então aqui uma imagem de uma garrafa da Água da Bela Vista. Esta um pouco ferrujenta e mais velha do que aquelas que encontrei, mas talvez mais fiel à visão actual do bairro.




*Enquanto andava às voltas à procura de coisas sobre esta água, deparei-me com um testemunho de uma professora da Escola Secundária da Bela Vista, que também cresceu no bairro. No texto, fala de quando ia buscar água à fonte, da escola em que andou e em que depois leccionou. Constata a sua mágoa pelo fim anunciado da escola, pois pelo que parece as escolas foram extintas/banidas do Bairro da Bela Vista. E mais uma vez vamos reconhecendo esses pontos de viragem decisivos.

1 comentário:

Kardo disse...

Quantas histórias escondidas debaixo dos nossos pés e nós sem querer saber.

Que bela garrafa! e que bela história que poderia se agarrar para re-começar de novo, com orgulho, a vida de uma zona quaisquer.