sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

um livro sussurro

Todos (ou não) sabemos como ler um livro se tornou uma conquista. A coisa deve-se principalmente àquilo que se convencionou chamar estilo de vida. Por isso, não há muito a acrescentar para além do lugar comum. Não temos tempo e, quando temos, não possuímos energia e, quando possuímos energia, preferimos dedicá-la a outra coisa. As frases repetem-se: só leio nas férias, nunca mais li, etc. Salvam-se as pessoas que não têm televisão ou que andam de transportes públicos.
Saltando a generalização vamos ao que interessa: a minha última conquista - que é como quem diz o meu último livro - Melodia ao anoitecer, de Siddharth Dhanvant Shanghvi.
Sim, é indiano, trazendo consigo por isso uma magia e uma sensualidade dificilmente imitáveis. Pungente, com uma história trágica, dramática e avassaladora, manda-nos com uma filosofia de vida de serenidade e aceitação verdadeiramente desejáveis. Porque toda a inquietação gerada exige uma resolução e a única possível é mesmo a da aceitação. A tristeza, a doçura, o encantamento e o amor, revistos à luz de uma verdade em crescimento.
De tal modo este livro me encantou que houve, pelo menos, dois momentos em que tive de parar. Parar de lê-lo durante uma larga temporada. Há coisas que têm uma brutalidade difícil de suportar até em livro. E, quando estão escritas assim, até podem ser ficção, mas não são estatística.


Este livro é fascinante.


P.S: e está à venda por 5 euros. Incrível.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Packaging querido

Ser pró e anti-packaging ao mesmo tempo é possível. O Aristóteles estava enganado com a cena da impossibilidade de ser e não ser ao mesmo tempo. É possível, por muito que qualquer frase que comece com "o aristóteles estava enganado..." seja absolutamente ridícula e nunca para levar a sério.
O que interessa neste caso é o packaging.
O packaging é o paradigma do design de produto. É o que mais directamente intervém com o consumidor e o que mais nos afecta. Em termos de comunicação, é um verdadeiro desafio. Em termos sociais (com a abrangência que isso significa), pode ter um impacto e uma força que outras expressões do design dificilmente terão. É muito nesse sentido que sou pró-packaging. Porque adoro ver bom packaging, porque é um desafio profissional e porque me puxa em termos sociais.
Os exemplos de bom packaging são muitos (tanto a nível estético-ergonómico, como social-sustentável). Os maus exemplos são quase todos - afinal esses muitos bons exemplos são minoritários.
E é talvez por isso que sou anti-packaging também. O mau packaging começa a meu ver quando é inútil. Os casos mais simples de todos são os mais flagrantes como, por exemplo, os sacos da fruta, os legumes pré-embalados (que não nos deixam escolher nem o produto nem a sua quantidade) ou grandes caixas para equipamentos pequenos (uma tendência felizmente a mudar). É puro desperdício, plástico e mais plástico para nada.
Hoje, um dos grandes desafios é a reutilização, o cuidado na escolha dos materiais, a inteligência do seu design para fazer uma embalagem nossa amiga. Mas, antes de tudo, hoje um produto deve perguntar-se (através dos seus engenheiros) se precisa de packaging. Depois disso, o consumidor pode fazer o seu papel escolhendo.
É uma cadeia em que os diferentes protagonistas vão mudando tendências, reinventando hábitos.
Partilho convosco um packaging que, em termos de comunicação, considero perfeito, sem considerar a sustentabilidade. E outro exemplo de renúncia ao packaging que integra essa ideia de que todos podemos ter um papel para diminuir o desperdício.
O primeiro caso é o "Clever healthy food packaging". Aqui, o packaging serve o objectivo da comunicação e fá-lo brilhantemente. Para levar as pessoas a ter uma alimentação saudável, pegaram em embalagens normalmente associadas a hábitos pouco saudáveis, como tabaco ou junk food, colocando dentro deles comidinha boa. Num certo sentido, é o reinventar dos cigarrinhos de chocolate, mas com cenourinhas.



O outro exemplo passa mais pela intervenção do cidadão comum: uma loja que não tem embalagens. A Unpackaged vende os seus produtos à antiga portuguesa, mas em Londres. Os clientes trazem as suas próprias embalagens de casa ou adquirem uma reutilizável no próprio local. Há escolha de produto, há sustentabilidade, mas acima de tudo há uma ideia mobilizadora, um conceito disruptivo, uma razão carismática para trazer lá mais gente e mudar velhos hábitos.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Wireless e três cavalos

Portugal é exímio em situações caricatas, inusitadas, estranhas e pitorescas. É recorrente aquela sensação de que temos de olhar duas vezes, esfregar os olhos, arrebitá-los e conferir e voltar a conferir. É assim nas coisas boas e nas coisas más.
Mas nas boas, é mais giro. Reflecte-nos melhor, dá-nos um verdadeiro ar de graça, um carácter único insubstituível.
Dois exemplos.
Há um tascoso, bem tascoso, tão tascoso que eu até nem espreito com medo que o cheiro a fritos e a vinho tinto se impregne pelos olhos, aqui em Santos que tem a seguinte "comunicação":



Estes senhores têm visão. E demonstra que o wireless, assim como outras novas tecnologias, já não são tabu para os nossos comerciantes. No Verão, há caracóis. No inverno cozido. Wireless todo o ano. O meu conselho? Comer um cozido por €5, beber 3 Cergal por €2 e twittar "estou no tascoso a comer uma bela farinheira", entre o enchido e a couve.
O outro exemplo não está documentado, mas é igualmente inusitado, se não mais. No domingo passado, estavam 3 cavalos a pastar numa rotunda mesmo ao pé da Morais Soares. Três cavalos à solta, bem perto do tráfego, mastigando e fazendo a sua vida de lazeira. "Olha ali um cavalo" é o que costumamos dizer quando passamos de carro pelas nossas povoações. Por Lisboa, também.
Na verdade, tudo é possível nesta paisagem. Estamos no tempo do wireless nas tascas e dos cavalos nas rotundas. A nossa cidade é verdadeiramente múltipla, não por ser simplesmente cosmopolita (como outras capitais europeias), mas por manter algo da ruralidade das suas gentes.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

The macho is here

O Wall Street Institute já nos tem brindado com algumas campanhas publicitárias bastante interessantes, normalmente apimentadas com humor (esta ou esta são bons exemplos). Desta vez, foram buscar o Zezé Camarinha, o expoente máximo do nosso macho latino, o pintas do pintas, e satirizam sobre o seu inglês.
Supostamente apreciado pelas nossas turistas bifas, o Zezé parece-me o embaixador perfeito para ilustrar o "bem falante" de inglês.

Esta campanha é desconcertante. Colocar o Zezé encarnando-se a si mesmo, expondo os seus dotes de de galã e de inglês, é uma tirada arrojada e cada vez mais rara. O risco de fazer publicidade cómica, sem ser com os Gato Fedorento, é falhar o alvo, ser brejeiro, básico ou pouco feliz. Neste caso e a meu ver, o WSI ganhou a cartada. Dá-nos um espelho, ainda que deformado, de nós próprios e pisca um olho a todos os que gostam de aportuguesar a língua inglesa. Depois de Lauro Dérmio, tudo é possível e ficamos com mais um bom exemplo.
Com este nível de publicidade, dificilmente o WSI terá concorrência à altura no ensino de inglês para adultos. Coisas destas não passam despercebidas e constroem uma percepção forte de uma marca, para durar por algum tempo.

Numa palavra, this stuff cativates à brave.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

tempo para jogar

Sou uma verdadeira fã de jogos de "salão". Desde cartas, damas, xadrez até aos jogos de tabuleiro, sem deixar de passar pelos de computador (mesmo não perdendo grande tempo nem dinheiro com estes), não há nada que à partida não me atraia.
Recentemente, pude jogar à versão mais actualizada do Monopólio, um dos meus jogos favoritos de todos os tempos. Jogo Monopólio desde catraia e, até agora, duvido que haja um jogo que alie de forma tão perfeita o prazer da competição, a necessidade estratégica, o poder da negociação e a noção social capitalista. Esta última parte era dispensável, bem sei, mas a verdade é que, desde de tenra idade, sonho com a possibilidade de viver de rendas.
O Monopólio actual tem algumas das propriedades do meu tempo, mas foi actualizado. Já não há Avenida Luísa Todi (lamento Setúbal), mas há ruas do Parque das Nações. Os escudos foram-se embora e o dinheiro não é em euros, mas o seu valor remete para aí. A estrutura continua a mesma, assim como as regras, mantendo qualquer antigo jogador como um jogador apto para os dias de hoje.


Gosto do jogo e estou sempre disponível para jogar. Mas, agora, o que me apetece jogar é outro.
Foi criado, por "We are sailing Board Games" com design da "Hello Monday", o Copenhagen Board Game. O jogo inspira-se em jogos como o Monopólio, mas o seu objectivo é bastante melhor: pegar na nossa bicicleta e tentar fazer uma Copenhaga mais sustentável. Com um design especial e com uma missão deveras responsável e pedagógica, parece-me ser o jogo perfeito para espalhar pelo mundo.
Gostaria bastante de o ver nas mãos, de jogar com as crianças e, já agora, ganhar - que tem também muita piada.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

prendas de Natal VI - o embrulho

Para terminar esta série e mandar definitivamente o Natal para 2009, fica um último post sobre as prendas inimagináveis e megalómanas, contrariando a tendência apresentada no post "prendas de Natal IV"
Todos nós, ou pelo menos alguns de nós, temos desejos "superlativos" e fantasiosos de mega-prendas. Alguns de nós, ou deles melhor dizendo, conseguem realizar esses desejos. Nós contentamo-nos, e bem, em realizar pequenos desejos, com intenções generosas de amor.
Mas os outros desejos existem, tal como as fantasias de "o que é que farias se ganhasses o euromilhões".
Pegando nisso, a Mini fez uma campanha pós-natal absolutamente fabulosa. Atacando mais uma vez a rua, intervindo directamente no quotidiano das pessoas, colocaram perto dos caixotes do lixo uma "embalagem" de um Mini, como se tivesse sido desembrulhada na noite de Natal. O impacto de um caixote de papel gigante no meio da rua é incontornável, provocando tanto estranheza como curiosidade. Podem ver o filme e mais imagens aqui.

prendas de Natal V - Yeah!

Este não era um presente previsto na minha série, mas é graaaaaaaande! Pelo que cá vai.

Foi hoje aprovada a proposta do casamento entre pessoas do mesmo sexo!
É a nossa melhor prenda para o futuro. Mais livre, com mais igualdade e, caramba, mais feliz!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

prendas de Natal IV - as puras

O Natal é aquela época da partilha, da dádiva, da generosidade. Mas muitas vezes, deixamo-nos simplesmente levar pelo entusiasmo das prendas. Isto é um grande lugar comum, não há dúvida. Mas, na verdade, o espírito de Natal é algo que está pendurado entre a árvore e as luzes, o bolo rei e as filhoses, o comprar presentes e o fazer a lista, a família e os amigos,... algo que se vive transversalmente, que se sente bem ou mal, que se gosta ou se detesta, tem dias.
Como estamos a falar de presentes esta semana, há que ressalvar aqueles presentes que buscam o lado mais genuíno do Natal. Por serem especiais, únicos, pensados para dar. Sem desdenhar daqueles que são comprados especialmente para alguém (esses são normalmente muito bons de dar e de receber), há os outros que são "feitos" para a época. Não precisam de ser realmente construídos, basta que sejam sobre o "dar".
Eu vi e recebi alguns este Natal. Houve o origami especial do Natal, o presente feito para o "sobrinho" que ainda está debaixo da árvore de Natal, a agenda com capa personalizada pelo afilhado, os pinheiros oferecidos à comunidade para plantar e reinventar a verdadeira árvore de Natal, os doces cozinhados em família para distribuir frascos pela família e amigos, ou, ainda, rifar um bolo feito pelos miúdos para, com o dinheiro recebido no Natal, ir a uma instituição de solidariedade social entregá-lo.
São pequenas coisas que devolvem alguma pureza e espírito desinteressado ao Natal. Principalmente porque quase sempre passam pelas crianças, garantindo-lhes algum contrabalanço ao desembrulhar, por vezes bem excessivo e frenético, de prendas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

prendas de Natal III - envelopes personalizados

A estratégia do envelope como presente apurou-se e hoje o "envelope" pode ser uma prenda ainda mais espectacular. A verdade é que o acto de oferecer dinheiro segue acompanhado de alguns constrangimentos. À partida, quem recebe gosta, mas, normalmente, quem dá receia que possa ser pouco personalizado ou indiciar falta de interesse. Talvez por isso, é uma prenda que associamos aos avós, pois o reconhecimento da diferença geracional é positivo e oferecer um envelope indicia preocupação, "compra alguma coisa que gostes". O envelope, durante anos, foi o presente que nunca falha, mas sem nunca ser "quentinho". Ainda continua a ser, mas agora há um novo mundo de possibilidades em presentes que nunca falham: os vouchers.
Dêem-me um voucher e ficarei feliz, é o meu mote.
Tudo começou com os cheques-disco, cheques-prenda, mas hoje a palavra voucher carrega mundos, em vez de vales. É um presente que garante a quem dá e a quem recebe a mais pura e desejada sensação de presente: a satisfação. Quem dá, imagina que está a dar um fim-de-semana, uma massagem, uma experiência radical - algo real e que se vislumbra concretizável especificamente para aquela pessoa. E quem recebe, vê-se com algo nas mãos à partida totalmente desejável, com a antecipação da felicidade, a expectativa crescente sobre o momento da realização. Parece publicidade ao conceito, mas na verdade não é. É mais o reconhecimento do sucesso e eficácia da ideia. Pois, o acto de dar e receber resulta no momento - não é escasso e envergonhado como no envelope, em que há pudor de ver o interior à vista de terceiros e que o resultado final (para que servirá o dinheiro) ainda não está definido. Com o voucher, mesmo que não seja efectivado, o acto de presentear resulta por si mesmo.
O conceito, obviamente, tem sofrido multiplicações e mutações. Hoje, o mercado dos vouchers é competitivo e busca inovações muitas vezes inesperadas e, ao primeiro olhar, despropositadas.
No final, compensa. Pois um presente é também a doce expectativa de o gozar e, neste caso, funciona na perfeição.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

prendas de Natal II - Rosa Maria

A cozinheira das cozinheiras não é um livro de receitas comum. É um livro tipo, diria até típico, com receitas e tabelas que interessam a quem gosta de cozinha. Mas mais importante, é um livro marcante a nível cultural e antropológico, porque se dirige às "donas de casa" e porque tem uma marca única de autoria, não culinária mas moral. Não é à toa que está à venda na loja A Vida Portuguesa. Não é apenas o design retro que está em causa, mas a mentalidade retro.
Adorei esta prenda, refira-se. Porque me dá boas receitas, ao mesmo tempo que me garante excelentes momentos de humor.
Segundo a Bertrand, a primeira edição é de de 1998, mas isso não faz qualquer sentido. Não pode fazer, porque não quero acreditar que há 12 anos ainda se escrevia assim, embora se pudesse ainda pensar. A edição que tenho neste momento é a 32ª, o que faz da obra um verdadeiro best-seller.
Rosa Maria, a nossa guia pela cozinha das cozinhas, abre o seu livro com um elucidativo prefácio, entitulado "Às senhoras que dirigem a vida do lar". Lemos atentamente.
"Minhas Senhoras:
Ao apresentar uma série de receitas da arte de cozinhar e de fazer doces, tive a preocupação de somente pôr neste livro receitas práticas, facilitando às donas de casa a direcção mais importante do 'ménage', a alimentação."
Assim se inicia, com o primor dos primores, a obra das obras, com a autora das autoras, enfim A cozinheira das cozinheiras.
Prontos para a ménage?
Rosa Maria é a mais bem intencionada das senhoras que se dirigem às senhoras do lar. Há uma preocupação e ternura pela alimentação da família, que comove os leitores, abrindo-lhes o apetite. Continuemos pela leitura. Quando fala da alimentação das pessoas adultas, Rosa Maria faz uma distinção fundamental da nossa sociedade, e que deve evidentemente reflectir-se na alimentação: o labor da cidade e o labor do campo. Pois, como nos explica, a vida da mulher da cidade é "menos laboriosa do que a da mulher que trabalha no campo" e "não lhe dá grandes perdas de forças" - logo, deve "adoptar um regímen mais vegetal". Mas, atenção, Rosa Maria não anda distraída e recomenda que não se abuse desse regímen (???) "de um modo tão irracional como se está vendo frequentemente, e que tem sido a origem de inúmeros casos de anemias e de outras enfermidades gravíssimas." A autora das autoras adora superlativos, é uma cozinheiríssima.
Atentos, ou melhor atentas (como boas senhoras do lar), prosseguimos e, mais à frente, descobrimos o verdadeiro inimigo de Rosa Maria: as Bebidas Brancas. É certo que já tinha embirrado com o vinho, dizendo "Do abuso do vinho têm resultado terríveis enfermidades, como o delirium tremens, a loucura, doenças do fígado, etc., e não menor número de desordens e desgraças de ordem moral, que têm levado muitos homens ao degredo, à penitenciária e ao patíbulo." A mulher tem toda a razão, mas atentem a linguagem - que beleza, quantos de nós usam a palavra patíbulo? Talvez seja porque não há por cá pena de morte, mas adiante. Nada disto se compara ao repúdio pelas bebidas brancas, pois que, no caso do vinho, uma pinga até faz bem "unicamente à hora das refeições". Neste caso terei de transcrever todo o trecho, porque é pungente.
"Se o vinho, bebido em condenável excesso, pode e tem produzido frutos desgraçados de ordem física e moral, as bebidas brancas, por seu turno, têm dado aos hospitais, aos cemitérios e às prisões um contingente horroroso.
A bebida branca, inimiga implacável da economia animal [o que raio quer ela dizer?], é, contudo, às vezes proveitosa: - no mar, por exemplo, ou depois de um aguaceiro em que o vestuário não pode ser imediatamente substituído; mas toda a bebida redundará em prejuízo, quando o uso que dela se fizer for imoderado.
Repetimos: a bebida branca é um veneno, que todos os homens de dignidade devem repelir, pois que o uso desmedido dela serve apenas para enriquecer os hospitais de doidos, os obituários e as prisões."
Depois disso quem se atreverá a beber uma gota mais de gin tónico? Eu teria medo, não fosse dar-se o caso de não gostar de bebidas brancas.
A cozinheira das cozinheiras é o presente dos presentes, o superlativo absoluto que une história das mentalidades à arte de bem comer. Uma boa mesa pode não fazer um bom lar, mas ajuda à boa vida.



segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

prendas de natal I - modelos a seguir

De regresso à realidade dos horários e das obrigações laborais, decidi manter um pouco do espírito iniciando uma pequena série sobre presentes de natal. Meus e outros que vi por aí. É só uma semaninha para ir voltando aos poucos, pois cada vez parece mais difícil.

Para primeiro post, queria falar de um fenómeno extraordinário, associado aos telemóveis.
Contexto: recebi um telemóvel novo no Natal. Lindo, LG, slide... sofisticadíssimo com aquela parte para cima e para baixo. Um must! Ao fim de dois dias, aconteceu algo bizarro: o teclado ficou esquisóide. Não é coisa que se veja muitas vezes, o desaparecimento das teclas 2, 5, 8 e 0, sem paradeiro à vista. Obviamente, fomos trocá-lo. E que aventura foi. Pois um pequeno risco ia comprometendo tudo. Mas, com muitas voltas, a coisa resolveu-se e, ao fim de 2h30 consegui sair do estabelecimento comercial de grande superfície. Feliz ou infelizmente, não fui capaz de trazer o mesmo modelo (havia um trauma para superar) e optei por um Nokia que, apesar da menor sofisticação e de não ter nenhuma parte a movimentar-se, me oferece uma sensação de segurança e, ao mesmo tempo, a possibilidade de ter muitas e muitas músicas.
Fim de contexto.
O fenómeno sobre o qual me queria debruçar tem a ver com aquela parte do menu das mensagens pré-definidas. Aquelas que dizem, por exemplo, "Estou atrasado. Chego às...", "Estou em reunião", "Vejo-o às...", "Reunião cancelada". São modelos de mensagem que o utilizador poderá usar perdendo o mínimo de tempo possível. Ora, há telemóveis, como o meu, que decidem facilitar todo o tipo de mensagem. Já tinha tido um que tinha um modelo com o seguinte texto "Amo-te". Mas este que tenho agora é mais adequado, em vez de dizer isso directamente, diz "Também te amo", o que me parece bastante mais honesto, dentro da desonestidade de enviar um modelo pré-definido com uma mensagem de amor. Sempre facilita mais as coisas a quem não sabe bem o que há-de responder a uma declaração de amor. Oh merda, o que é que se diz numa situação destas? Hum... não é "Estou atrasado", nem "Estou em reunião", isso eu sei... Hum... "Também te amo" parece-me bem. Lá está, facilita e descomplica o uso de SMS românticas.
O meu telemóvel também tem dois outros modelos mais no tom pessoal, o "Obrigado" e o "Parabéns", revelando igualmente como se pode ajudar à espontaneidade dos sentimentos. Mas nada, a meu ver, bate o "Também te amo".
Não percebo como ainda não têm outras opções como "Feliz Natal", "Bom Ano Novo", "Os meus Pêsames", "Tenho muito orgulho em ti, filho", "Odeio-te", "Não me ligues mais", "Desejo-te", "Ontem à noite foi maravilhoso", "Só penso em ti", "Tenho saudades"... São tantas as possibilidades, pensem nisso, e depois gravem um modelo no vosso telemóvel. A banalização pode ajudar.