sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Packaging querido

Ser pró e anti-packaging ao mesmo tempo é possível. O Aristóteles estava enganado com a cena da impossibilidade de ser e não ser ao mesmo tempo. É possível, por muito que qualquer frase que comece com "o aristóteles estava enganado..." seja absolutamente ridícula e nunca para levar a sério.
O que interessa neste caso é o packaging.
O packaging é o paradigma do design de produto. É o que mais directamente intervém com o consumidor e o que mais nos afecta. Em termos de comunicação, é um verdadeiro desafio. Em termos sociais (com a abrangência que isso significa), pode ter um impacto e uma força que outras expressões do design dificilmente terão. É muito nesse sentido que sou pró-packaging. Porque adoro ver bom packaging, porque é um desafio profissional e porque me puxa em termos sociais.
Os exemplos de bom packaging são muitos (tanto a nível estético-ergonómico, como social-sustentável). Os maus exemplos são quase todos - afinal esses muitos bons exemplos são minoritários.
E é talvez por isso que sou anti-packaging também. O mau packaging começa a meu ver quando é inútil. Os casos mais simples de todos são os mais flagrantes como, por exemplo, os sacos da fruta, os legumes pré-embalados (que não nos deixam escolher nem o produto nem a sua quantidade) ou grandes caixas para equipamentos pequenos (uma tendência felizmente a mudar). É puro desperdício, plástico e mais plástico para nada.
Hoje, um dos grandes desafios é a reutilização, o cuidado na escolha dos materiais, a inteligência do seu design para fazer uma embalagem nossa amiga. Mas, antes de tudo, hoje um produto deve perguntar-se (através dos seus engenheiros) se precisa de packaging. Depois disso, o consumidor pode fazer o seu papel escolhendo.
É uma cadeia em que os diferentes protagonistas vão mudando tendências, reinventando hábitos.
Partilho convosco um packaging que, em termos de comunicação, considero perfeito, sem considerar a sustentabilidade. E outro exemplo de renúncia ao packaging que integra essa ideia de que todos podemos ter um papel para diminuir o desperdício.
O primeiro caso é o "Clever healthy food packaging". Aqui, o packaging serve o objectivo da comunicação e fá-lo brilhantemente. Para levar as pessoas a ter uma alimentação saudável, pegaram em embalagens normalmente associadas a hábitos pouco saudáveis, como tabaco ou junk food, colocando dentro deles comidinha boa. Num certo sentido, é o reinventar dos cigarrinhos de chocolate, mas com cenourinhas.



O outro exemplo passa mais pela intervenção do cidadão comum: uma loja que não tem embalagens. A Unpackaged vende os seus produtos à antiga portuguesa, mas em Londres. Os clientes trazem as suas próprias embalagens de casa ou adquirem uma reutilizável no próprio local. Há escolha de produto, há sustentabilidade, mas acima de tudo há uma ideia mobilizadora, um conceito disruptivo, uma razão carismática para trazer lá mais gente e mudar velhos hábitos.


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