sexta-feira, 30 de outubro de 2009

amor pleno de imagens

O amor é dado a imagens. Imagens pessoais, como retratos imaginários que tiramos em determinado momento guardando-os para sempre, e imagens "universais", que o cinema e a cultura popular incrustou no imaginário colectivo.
É engraçado constatar que esse imaginário enriquece-nos, mesmo que possa toldar-nos na possibilidade de vivermos as nossas próprias imagens (na adolescência sobretudo).
O artista francês Ludéal (que nunca tinha ouvido falar até hoje) fez um teledisco brilhante com algumas cenas emblemáticas de filmes de amor, ou com amor. Além de ser muito bom, é um jogo muito divertido para identificação de cada um dos filmes. Eu já os sei todos com a contribuição aqui da equipa. É só perguntar.
Divirtam-se e amem entretanto.


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O mundo, esse duro paradoxo

Não há dúvida. O mundo é um lugar estranho. Deve ser das pessoas, sempre prontas para o melhor e para o pior.
Ontem, Obama assinou uma nova lei que transforma os crimes de ódio em crimes federais, dotando o sistema de mais ferramentas de protecção contra aqueles que atentam contra a diferença, seja ela de cor, de orientação sexual, de género, de religião ou de nacionalidade. Assim, enquanto numa parte do mundo se assina um compromisso com os direitos básicos de igualdade, dando um claro sinal que a violência de ódio não será tolerada, noutra parte do mundo tenta institucionalizar-se essa violência.
No Uganda, onde os homossexuais já sofrem a ameaça de pena de prisão perpétua, querem agora instituir a pena de morte para aqueles homossexuais "agravados". Como já penalizam a homossexualidade de uma forma brutal, qual seria a pena adequada o que chamam de homossexualidade agravada (actos homossexuais com menores, deficientes ou quando têm HIV)? Matá-los todos, é claro. Estranhamente não falam da heterossexualidade agravada, ou seja os que praticam actos heterossexuais nas mesmas condições.
É mesmo muito assustador o que este mundo contém e de tudo o que as pessoas são capazes.
Entretanto, viva o Obama!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Geografia do olhar e do sabor

Por muito que trilhemos Portugal, há sempre um ingrediente novo por descobrir. As terras estão sempre abertas a um novo olhar e a gastronomia disponível para um novo sabor. É assim que vejo Portugal de cada vez que o redescubro fora dos muros da minha cidade: saboreio-o.

Conforme a estação (o que neste momento não se aplica muito), as terras vão-nos dando novas cores, com uma luz diferente. Passear agora é um privilégio, porque as terras estão limpas de turistas, aparecem na sua frescura e na sua autenticidade (quando a têm, claro).
Este fim-de-semana, estive a passear e reencontrei lugares da minha infância e nada era bem igual. Porque, quando somos jovens e tolos, estamos interessados na geografia útil e, por outro lado, a das emoções e da memória. Não criamos empatias com a beleza, somos atraídos pela luz dos cromados e pela comodidade que a terra dá às nossas necessidades quotidianas. O sítio dos gelados, o cinema, as praias, os lugares onde brincamos e pouco mais. Redescobrir a beleza de um lugar conhecido na idade adulta é uma boa sensação.
Com a comida, é um pouco semelhante o processo. Aprendemos a gostar do que era intragável e a saborear cada um dos pratos das nossas terras. O cozido de Canal Caveira, por exemplo, era uma delícia para os adultos, mas eu ia sempre para o bitoque. Mas a riqueza fascinante da nossa comida acaba sempre por vencer e, na praia, passamos a preferir amêijoas em vez de hamburgueres.
Na nossa geografia natural, gastronómica e cultural, possuímos lugares únicos no mundo. Um dia apenas a contemplá-los pode trazer-nos o descanso e o deleite de umas férias completas.
Por isso, é bom voltar e descobrir esta notícia que nos anuncia que "Portugal surge em quarto lugar no ranking dos países com mais produtos agro-alimentares de excelência" no Qualigeo-Atlas. À nossa frente só Itália, França e Espanha, mas eles que se ponham a pau, porque não há comida como esta, como não há terra como esta.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

música para os meus ouvidos


Chegou o novo disco da Adriana Partimpim. Depois da viagem do primeiro disco, a cantora mais espectacular do Brasil traz-nos "Dois", com este primeiro single "Gatinha Manhosa". Ouçam...



É sempre tão bom levar com uma novidade destas. Derrete-me o coração ter uma das minhas artistas favoritas a fazer músicas a pensar nos pequenitos. E poder ouvi-las no carro, em casa, com os nossos pequenos grandes amores. Ir aos concertos e vê-los a saltar e a vibrar com as mesmas coisas que nós.

A inteligência musical de Adriana leva à expansão da imaginação e garante sempre novos horizontes musicais.
Conheçam o novo disco, pintem e divirtam-se no novo site. Adoro o "ringtone do amor", que ela já tinha apresentado nos concertos. Ui, vou já começar a pular!


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

é preciso ter lata

Muito se fala da nova comunicação do Pingo Doce e como é pirosa, pindérica, enjoativa, etc. Mas depois de ver hoje, pela primeira vez, a campanha da emel (essa grande empresa municipal com o maior índice de tentativas de atropelamento dos seus funcionários), venha daí a piroseira, pois é preferível à demagogia e populismo.

A campanha assenta em duas ideias falsas: a emel pode salvar-me a vida e facilitá-la até. Usando a imagem de um bloco operatório, em que médicos e enfermeiros fazem um ar entediado e expectante, o anúncio sugere que, por causa de um carro em segunda fila, há uma pessoa que não está a ser operada. Vejam.



Esta dramatização sensacionalista é chocante. Por várias razões. Primeiro, é mentira, já que a emel não tem nada a ver com carros estacionados em 2ªfila, isso é um assunto da polícia (ver correcção nos comentários). Depois, constrói uma situação absurda, negativa e dramática, para projectar-se de uma forma pouco digna ou que tenha sequer a ver com os benefícios directos da emel para a cidade.
Na verdade, ninguém gosta da emel. Nunca ouvi ninguém dizer "ah, a emel, grande empresa, grande trabalho". Eu entendo, a função deles é dura e pouco popular. A comunicação deve evidentemente combater essa percepção, mas não tentando criar uma nova percepção absolutamente desfasada da realidade.
A emel tem uma função importantíssima na cidade. Promove uma coisa imperativa na vida urbana quotidiana: dissuadir o uso de automóveis individuais. Pode ser desagradável, e é muito, mas é um mal necessário. As pessoas queixam-se mas, no fundo, sabem que é preciso. Este trabalho duro que alguém tem de fazer é meritório por si só, mas por favor não tentem que a população goste de vocês, porque isso não vai acontecer nunca.
Um polícia pode salvar-nos a vida, assim como um bombeiro, um paramédico, até um militar. Um senhor ou senhora da emel é apenas um revisor dos lugares concessionados.
Esta campanha parece-me um desejo absurdo de atenção, com uma promessa pouco credível, populista e garganeira (linguagem técnica refinada). Ofende todos os outros grupos profissionais que, realmente, contribuem para a manutenção da ordem e do bem estar nas nossas vidas. A emel fiscaliza e pouco mais. A sua função mais importante é existir e gerir, é um merceeiro de lugares pagos. Quem lhe deu a existência é que tem o mérito e a visão.
Ainda ontem, ao entrar num bairro histórico com entrada reservada a automóveis, vi a seguinte frase pintada nuns tapumes de obras: os moradores não gostam da emel.
Pudera, ninguém gosta.
E ainda gostaremos menos se nos tentarem atirar areia para os olhos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

o melhor e o pior

Resisti durante uns tempos ao Facebook, é um facto. Talvez por que o associasse a um certo diletantismo, superficialidade de relações, desperdício de tempo, partilhas desnecessárias, ou simplesmente porque não queria entrar num clube que me aceitasse como membro. Depois, finalmente, acabei por sucumbir e senti-me idiota durante 3/4 dias. Depois integrei a coisa e senti-me idiota durante 2/3 por me ter sentido idiota.
Na verdade, é uma boa ferramenta para muitas coisas: ter uma quinta animada, divulgar este blog, partilhar links e notícias e, principalmente, receber o que as pessoas (os ditos amigos) têm para partilhar. E pode ser uma excelente experiência, com coisas novas a acontecer e causas a conhecer...
O melhor do Facebook são as pessoas e essa rede que constroem de afectos, de ideias, de experiências, de gostos, de coisas.
Mas o pior do Facebook também são as pessoas. Não por aquilo que partilham, mas pela inacreditável capacidade que têm de aderir a coisas disparatadas (para não dizer parvas) e contaminar uns quantos outros. Ou seja, o processo é espectacular: partilha, disseminação descontrolada, mais partilha, mais disseminação. Tudo isto sem filtro. E é assim que deve ser. Afinal, uma rede é mesmo isso. Chegar às pessoas e elas serem o seu próprio filtro. Eu filtro o que quero e o que não quero do meu facebook.
O problema é quando o facebook se torna gerador de notícias. Quando o próprio facebook se torna notícia, transformando pequenas e insignificantes coisas em bizarras e mega notícias com consequências dificilmente válidas ou compreensíveis. É tudo uma questão de escala e com certeza haverá quem está a perder a sua noção.
Vejamos o caso da Maitê.
A actriz brasileira, evidentemente pouco dotada para a comédia, fez um vídeo disparatado que passou há DOIS anos no Brasil. E o que aconteceu agora? Polémica, polémica, gozou com Portugal e ergue-se um movimento, mais forte do que aquele que elegeu Salazar como o maior dos portugueses, a exigir desculpas. Saltando a parte óbvia do "MAS ESTÁ TUDO LOUCO?", aquilo que se torna evidente é que esta notícia não surgiu em nenhuma redacção atenta, mas obviamente numa rede social. Num dia, a coisa espalhou-se e chegou a jornais, televisões, até a embaixada prestou declarações e na imprensa do Brasil também deram visibilidade a esta não-notícia. Fez-se petição a exigir desculpas e elas lá chegaram. Sofreu ataque na página da wikipédia, eu sei lá, a mulher sofreu por não ter piada.
Alguém se lembrou de partilhar este vídeo e a coisa pegou de um modo inacreditável. E os nossos jornalistas, felizes e contentes, pegaram na notícia e fizeram-na sua, desencadeando este sucessivo rol de acontecimentos infelizes.
O caso do pingo doce também é paradigmático. Fez-se questionários a gozar, grupos contra, petições, tudo por causa de um anúncio. Que se tenha feito tudo isto, não me choca - afinal, haverá muita gente que pode questionar as minhas escolhas facebookescas. Mas que a Comunicação Social pegue nisto e o difunda como um assunto sério, é que é muito estranho.
Se as fontes do nosso jornalismo começarem a ser assim tão latas e tão permeáveis a efeitos virais, já não precisaremos de jornais.
Usem o vosso filtro, porque alguns de nós usarão seguramente.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

define maravilhosa

Nos últimos dias, tem havido excelentes notícias (sobre as más falarei para a semana). Não só o Obama foi Nobel da Paz, espantando meio mundo, como o Rio de Janeiro foi a cidade escolhida para as Olimpíadas de 2016. De repente, parece que estamos num mundo integrador, que promove a miscigenação, em que as instituições se tornam pioneiras em vez de seguirem caminhos trilhados.
Instituições pesadas a surpreender, para mim, são sempre boas notícias. De tal forma nos vamos habituando a que instituições simplesmente imponham procedimentos e o cumprimento correcto dos mesmos que, quando algo foge da norma e é pioneiro, nos rejubilamos. É mesmo assim e vá havendo coragem, é o que desejo.
No meio disto tudo, o Rio ser a cidade escolhida para os Jogos mais simbólicos dos tempos modernos e antigos encheu-me de alegria. Não só é a primeira cidade da América do Sul a recebê-los, como é a "cidade maravilhosa", com garotas de Ipanema, Caetano e Calcanhotto numa esquina, mais à frente aquela beleza natural misturada com a civilização e todo um restante imaginário fascinante, pelo menos para mim. Um verdadeiro show este, colocarem o mundo todo ali, numa grande festa do desporto, encontro entre povos, poesia, samba e língua portuguesa e por aí fora (beleza, cara). É assim que às vezes balança a minha cabeça, deixando-me guiar pela envolvimento das imagens, um imaginário desenhado por ficção e letras de MPB e das minhas palavras preferidas miscigenação.
Para ajudar, vejo o vídeo de apresentação da candidatura e, minha gente, vamos dançar que ali é o paraíso e por que ainda não estive lá, meu deus? Ei-lo, bem feito, a cativar o Comité e a colocar do lado da sua candidatura a verdade, a genuinidade, a paixão. Pois claro, se é Rio é verdadeiro, vamos lá, minha gente, outra vez.
Neste rodopio de alegria para o qual me arrastei, deparo-me com a notícia de que, por questões óbvias de segurança (favelas, meu irmão), vão ser construídos muros na cidade. Tudo para proteger os turistas que visitarão ainda mais a cidade durante os Jogos Olímpicos. Lá se foi o rodopio e a alegria. Lá se foi a miscigenação e lá veio a segregação. Lá se foi o progressista e veio o reaccionário.
É pela segurança, pois pois. Mas a ideia que nos guiava então, este gesto simbólico de colocar os Jogos ali e não noutro sítio mais seguro, para onde foi ela? Para onde foi essa cidade maravilhosa que o neguinho dança na rua, enquanto varre o chão? Será que até 2016 não arranjavam solução melhor? Será que por porem árvores, arbustos e flores a disfarçar os muros eles se tornam menos muros? Será que a arte que os pintar anunciará a liberdade em vez da prisão?
O Brasil ganhou, é um facto. Mas não se pode ser maravilhosa só dos muros para fora.


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ah sacanas

Quando os publicitários fazem coisas que eu adoro, como este anúncio que aqui vem, só me apetece chamar-lhes nomes. E isso quer dizer que fico chateada, feliz da vida, invejosa, encantada... Tal e qual como este anúncio, as palavras podem ser tanta coisa, tanta tanta. E eles aqui só revelam um bocadinho, mas uma pessoa prende-se pelas possibilidades.

No final não interessa nada qual é a marca ou o produto anunciado. Para mim, é a melhor publicidade, porque a ideia vai permanecer muito mais tempo assim. E a marca virá associada por arrasto.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

fractura aberta

A nação mais progressista é também a mais conservadora. Nos Estados Unidos da América, cabe lá tudo, um reaccionarismo bacoco e uma mentalidade muito mais à frente do que estaríamos dispostos a integrar aqui no nosso cantinho.

Mas, com eles, não há a velha desculpa das "questões fracturantes". Pode fracturar quem enfiar a carapuça, mas por lá faz-se o que é preciso para defender a sua posição ideológica, seja para o bem ou para o mal. Queremos acreditar nisso, agora que temos um Obama da Paz, personificação em si mesmo da união, da miscigenação, da integração, da não-discriminação, e a avaliar pela última notícia, parece que há boas razões para acreditar. A intenção de Obama em acabar com a discriminação dos gays no exército é uma excelente notícia, principalmente porque acaba com a política hipócrita do "don't ask, don't tell", que é como quem diz sê surdo e mudo o máximo tempo que conseguires e a gente deixa-te ir para a guerra. Toda a gente tem o direito a não perguntar e não dizer, mas essa não deve ser a política institucionalizada. Na verdade, penso que, às vezes, seria preferível que se perguntasse, acabando com a tirania do silêncio, imposta inconscientemente a tantos de nós, mas isso já é outra conversa.
Quem não tem papas na língua é a actriz norte-americana Cynthia Nixon (a Miranda do Sexo e a Cidade), que fez um discurso* excelente no National Equality March Rally, a marcha gay nacional dos EUA. A parte final, sobretudo, é uma grande defesa do direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, porque acentua uma problemática muito real desse paradigma ultra-conservador dos States: a discriminação sustentada pela recusa deste direito valida a constante perspectiva de que o diferente é menor e, como inferior que é, merece ser punido.
Vale a pena ver. E, para nós, portugueses, importa-nos ver como uma questão fracturante não é uma questão a evitar, pelo contrário, há que enfrentá-la para acabar com outro tipo de fracturas, bem mais danosas para todos.



*Obrigada, Cláudia, por partilhares.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Era bom, não foi!

Mais uma vez, Tarantino vem fazer das suas. Com muito sangue, crueldade, vingança e um humor fora do normal. Habituámo-nos a entrar no seu olhar cinematográfico que encena situações absolutamente inusitadas, muitas vezes absurdas, mas com um toque tão real e casual que temos de acreditar. Gangsters a discutir Madonna ou os nomes da McDonald's na Europa, assassinas mestres do kung-fu vestidas em fato-de-treino, miúdas giras e duplas a darem cabo de um serial killer, numa apoteose de violência incompreensível mas também absorvente, prendem-nos, fidelizam-nos e, a mim, deixam-me verdadeiramente banzada (este é mesmo o termo técnico). E tudo, sempre, mas sempre, regado com diálogos brilhantes. Diálogos reais e espirituosos, que me fazem babar de inveja pelo seu valor dramático despudorado, que fazem rir os espectadores, prendendo-os, suspendendo-os.

Os "Inglorious Basterds", desta vez, levam-nos ao martírio da suspensão, deixando-nos sem respirar e com o coração demasiado acelerado. Tudo é, mais uma vez, excessivo e carregado de momentos exasperantes, selvagens, cómicos e violentos. E no mais tenebroso dos cenários: a França nazi.
A violência, neste caso, é muito mais próxima, muito menos cómica, porque é reconhecível. Temos o imaginário cheio de histórias de nazis e, no fundo, odiamo-los tão profundamente que este filme nos enche as medidas também por isso. Tarantino oferece-nos um cenário "perfeito" de devastação nazi, com um fim excepcional, em que todos os grandes nazis morreriam à mão de si próprios e de uma judia. É delirante a fazê-lo, obviamente. Mas são sempre assim os filmes dele, um verdadeiro delírio que não é filmado como tal. É filmado contando-se de forma incrível a história.
Nesta demanda, Tarantino teve uma preciosidade, muito para além de Brad Pitt. O vilão Hans Landa (Chrishtoph Waltz) dá-nos os grandes momentos do filme, tornando-se inacreditavelmente o melhor do filme todo. As mulheres também voltam a cumprir o seu papel, mas não ocupam o mesmo lugar cimeiro que tiveram no Kill Bill ou no último Death Proof. Este bando de homens "sacanas sem lei" estão mais próximos dos Cães Danados. Seja como for, o brilhantismo volta a ser a marca de Tarantino, mesmo que, desta vez, ele ainda nos tenha massacrado nós. Mas, se não fosse assim, sem um bom massacre, não seria Tarantino.
Deixo-vos o trailler principal e um outro com o monólogo brilhante do nosso vilão copinho de leite.




quinta-feira, 8 de outubro de 2009

a necessária perspectiva global

Em tempos com o tempo estranho, não há como contornar a questão. Por aqui, a semana passada havia fogos, hoje (ontem) há mini-tufões. E não vale a pena fingir que é normal, que não tem nada a ver connosco.
Pessoalmente, gosto de poder estar na varanda, descalça, com um calor imenso e a chuva a cair a potes. É bonito, é poético, tem algo de reconfortante. Mas, na verdade, vendo a perspectiva global, é simplesmente aterrador.
As pessoas que ficaram com a casa "escangalhada" lá para os lados do Ferreira do Zézere acharam-no aterrador e não sabem bem quem ou o que amaldiçoar. Mas, perante outras catástrofes naturais que assolam este planeta, estes casos parecem pequenas anedotas.
E a gritante impotência perante tais cenários tem de ser substituída pela consciencialização que há algo que se pode fazer. Já, agora mesmo, em cada instante.
Como por exemplo? Reutilizar, reduzir, reciclar, como evidencia esta excelente campanha.




quarta-feira, 7 de outubro de 2009

colados para a vida

Muito se fala, estuda, analisa, comenta, idealiza, sistematiza, teoriza sobre o facto de haver casais que vivem juntos uma vida inteira. É claro que um certo cinismo, bem aplicado em determinados casos, pode apontar para factores externos oportunistas que levam casais a permanecer juntos. De qualquer modo, encontrando casos bem sucedidos, o enigma pode instalar-se, levando equipas a formar opiniões científicas de todos os ramos para sustentar teorias. Na verdade, isso pouco interessa, porque até hoje ninguém se tinha lembrado desta. É tudo uma questão da cola que se usa, como podemos constatar neste anúncio (se clicarem na imagem podem ler o copy: long lasting glue - cola com efeito prolongado).



Uma boa cola com efeito duradouro, como esta, pode fazer milagres. Esta campanha, com o sentido de humor bem apurado, levanta o véu desta questão, revelando essa ponta de cinismo que a nossa sociedade tão bem alimenta.
Mas o que gosto mais desta ideia é mesmo essa possibilidade de encontrarmos a cola certa. E aqui cola quer dizer tudo aquilo que colocamos entre nós que nos aproxima. Tudo aquilo que faz do dia-a-dia um motivo de proximidade, intimidade e cumplicidade. Não é à toa, parece-me, que todas estas palavras terminam com idade, como se a vida nos desse tempo para a absorvermos bem, para crescermos e enriquecermos com aquilo que ela nos dá.
Às vezes, não precisamos de pensar no efeito prolongado da "cola", podemos simplesmente aplicá-la e ver quão boa ela é, aproveitando a sua capacidade de nos fazer permanecer em contacto (muito próximo) com prazer.
Há anúncios que têm este condão de despertar reflexões, mesmo quando são tolos, cómicos e um pouco idiotas. Ou então é só dos olhos. De qualquer modo, sabe bem colar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

desenho de cidade, desenho meu

Em tempos de Autárquicas, uma pessoa põe-se a pensar naquilo que deseja para a sua cidade, naquilo que falta, naquilo que está bem e mal, naquilo que a pode tornar melhor. No meio desta eventual reflexão, depara-se ou não com uma evidência: a minha cidade é linda.
Lisboa é uma cidade linda. E talvez esta conclusão não tenha vindo das autárquicas (afinal, não preciso pensar muito relativamente a isso), mas sim desta oportunidade, que de vez em quando a cidade me dá, de achá-la absolutamente encantadora. Nem sempre nos concede isso, com os seus pequenos e grandes defeitos a espreitarem-nos os dias, mas quando o faz é impossível não nos atirarmos a ela com cânticos de amor e adoração.
Deparei-me com uma vista de telhados e Tejo... tudo imenso. E lá me fui lembrando de outras vistas bem presentes na minha vida toda, que nos arrancavam do lugar mesmo sendo banais. Talvez por que soubéssemos que não estariam lá sempre.
E, dessa vista, passei para a vida, para a permanente epopeia que Lisboa desenha. E, ao fim de quase dois meses, voltei a reconciliar-me com a minha cidade, deixando esse meu lado africano das paisagens imensas das férias descansar um pouco.
Assim nos vamos desenhando, com esta coisa que os espaços nos dão. Contornos, cheiros, possibilidades, sonhos e reencontros.


A cidade prepara-se agora para receber um novo inquilino* e fá-lo brilhante de orgulho, sempre bela, desejando o melhor.


* ou inquilina.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

o gesto global

As campanhas de sensibilização sobre as alterações climáticas necessitam combater, em primeiro lugar, as resistências do público, que cede quase sempre à sensação de impotência e frustração, anulando assim qualquer movimento ou acção. O público vê-se confinado a espectador, incapaz de fazer seja o que for para resolver. A verdade, segundo nos dizem, é que pequenas alterações nos nossos gestos quotidianos, multiplicados à escala global, podem fazer uma grande diferença.
Se pensarmos em questões sociais de uma forma global, a resistência está também lá. Ao depararmo-nos com problemas gigantescos, a tendência é assustarmo-nos, encolhermos os ombros, chorarmos, paralisarmos. Porque não sabemos qual é a solução e não temos a mínima ideia do que podemos fazer. Por isso, os donativos são uma benção para a maioria do público bem intencionado. Campanhas como a do Banco Alimentar contra a fome, nos supermercados, são um sucesso, porque as pessoas compreendem o gesto, materializam a sua ajuda e valorizam-na por isso.
Este é o desafio de toda a comunicação "solidária": levar as pessoas a entender o seu papel, a valorizá-lo, porque a maior parte das vezes é intangível, imaterializável e não quantificável. Ficamo-nos na abstracção.
E essa é, a meu ver, a única saída. Ou seja, individualmente sermos capazes de agir com a noção do global. Tornar a nossa acção concreta numa acção universal. Não é muito diferente de um ensinamento cristão, mas a diferença reside sobretudo no tipo de acções de que estou a falar. Não se trata de moral, nem sequer de ética, mas capacidade de reflectir sobre o impacto daquilo que fazemos numa escala nunca antes vista.

Este filme mostra-nos um pouco essa ideia de causalidade, numa excelente animação.