terça-feira, 27 de outubro de 2009

Geografia do olhar e do sabor

Por muito que trilhemos Portugal, há sempre um ingrediente novo por descobrir. As terras estão sempre abertas a um novo olhar e a gastronomia disponível para um novo sabor. É assim que vejo Portugal de cada vez que o redescubro fora dos muros da minha cidade: saboreio-o.

Conforme a estação (o que neste momento não se aplica muito), as terras vão-nos dando novas cores, com uma luz diferente. Passear agora é um privilégio, porque as terras estão limpas de turistas, aparecem na sua frescura e na sua autenticidade (quando a têm, claro).
Este fim-de-semana, estive a passear e reencontrei lugares da minha infância e nada era bem igual. Porque, quando somos jovens e tolos, estamos interessados na geografia útil e, por outro lado, a das emoções e da memória. Não criamos empatias com a beleza, somos atraídos pela luz dos cromados e pela comodidade que a terra dá às nossas necessidades quotidianas. O sítio dos gelados, o cinema, as praias, os lugares onde brincamos e pouco mais. Redescobrir a beleza de um lugar conhecido na idade adulta é uma boa sensação.
Com a comida, é um pouco semelhante o processo. Aprendemos a gostar do que era intragável e a saborear cada um dos pratos das nossas terras. O cozido de Canal Caveira, por exemplo, era uma delícia para os adultos, mas eu ia sempre para o bitoque. Mas a riqueza fascinante da nossa comida acaba sempre por vencer e, na praia, passamos a preferir amêijoas em vez de hamburgueres.
Na nossa geografia natural, gastronómica e cultural, possuímos lugares únicos no mundo. Um dia apenas a contemplá-los pode trazer-nos o descanso e o deleite de umas férias completas.
Por isso, é bom voltar e descobrir esta notícia que nos anuncia que "Portugal surge em quarto lugar no ranking dos países com mais produtos agro-alimentares de excelência" no Qualigeo-Atlas. À nossa frente só Itália, França e Espanha, mas eles que se ponham a pau, porque não há comida como esta, como não há terra como esta.

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