A campanha assenta em duas ideias falsas: a emel pode salvar-me a vida e facilitá-la até. Usando a imagem de um bloco operatório, em que médicos e enfermeiros fazem um ar entediado e expectante, o anúncio sugere que, por causa de um carro em segunda fila, há uma pessoa que não está a ser operada. Vejam.
Esta dramatização sensacionalista é chocante. Por várias razões. Primeiro, é mentira, já que a emel não tem nada a ver com carros estacionados em 2ªfila, isso é um assunto da polícia (ver correcção nos comentários). Depois, constrói uma situação absurda, negativa e dramática, para projectar-se de uma forma pouco digna ou que tenha sequer a ver com os benefícios directos da emel para a cidade.
Na verdade, ninguém gosta da emel. Nunca ouvi ninguém dizer "ah, a emel, grande empresa, grande trabalho". Eu entendo, a função deles é dura e pouco popular. A comunicação deve evidentemente combater essa percepção, mas não tentando criar uma nova percepção absolutamente desfasada da realidade.
A emel tem uma função importantíssima na cidade. Promove uma coisa imperativa na vida urbana quotidiana: dissuadir o uso de automóveis individuais. Pode ser desagradável, e é muito, mas é um mal necessário. As pessoas queixam-se mas, no fundo, sabem que é preciso. Este trabalho duro que alguém tem de fazer é meritório por si só, mas por favor não tentem que a população goste de vocês, porque isso não vai acontecer nunca.
Um polícia pode salvar-nos a vida, assim como um bombeiro, um paramédico, até um militar. Um senhor ou senhora da emel é apenas um revisor dos lugares concessionados.
Esta campanha parece-me um desejo absurdo de atenção, com uma promessa pouco credível, populista e garganeira (linguagem técnica refinada). Ofende todos os outros grupos profissionais que, realmente, contribuem para a manutenção da ordem e do bem estar nas nossas vidas. A emel fiscaliza e pouco mais. A sua função mais importante é existir e gerir, é um merceeiro de lugares pagos. Quem lhe deu a existência é que tem o mérito e a visão.
Ainda ontem, ao entrar num bairro histórico com entrada reservada a automóveis, vi a seguinte frase pintada nuns tapumes de obras: os moradores não gostam da emel.
Pudera, ninguém gosta.
E ainda gostaremos menos se nos tentarem atirar areia para os olhos.
7 comentários:
Pá, nem toda a gente que te lê é de Lisboa. Eu sei que se percebe pelo que vem depois, mas não sei se não podias explicar logo o que é a EMEL.
"Primeiro, é mentira, já que a emel não tem nada a ver com carros estacionados em 2ªfila"
Engana-se..a EMEL tem competência para multar, bloquear e rebocar veículos em segunda fila, desde do ano de 2006.
Ha alguma coisa que não bate certo no seu texto.
Diz que a EMEL não facilita a vida das pessoas, mas depois diz que faz falta uma empresa como essa.
Diz que a EMEL não tem mérito especial e que quem o tem é quem inventou a EMEL.
Concordo com a necessidade de existência da empresa, mas não concordo com este segundo ponto. A EMEL tem 15 anos e já evoluiu bastante desde que foi criada.
Evidentemente tem muito a melhorar e em termos de imagem isso é evidente.
Não concordo, mas percebo que não concorde totalmente com a imagem utilizada na campanha. É polemica, logo ha quem goste e quem não goste.
O francamente positivo é que após 15 anos, a EMEL fez uma campanha que tentou transmitir a sua utilidade enquanto empresa. Espero que se sigam mais campanhas de sensibilização e que por outro lado se comecem a notar as mudanças que a EMEL tem tido.
Agora que sei que a Emel pode rebocar simpatizo muito mais com esta empresa. ui se simpatizo.
sandera
Agradeço o esclarecimento acerca dos carros em 2ªfila. Desconhecia.
Isso não invalida que a campanha, em vez de tentar criar empatias, construa, a meu ver, uma percepção demasiado negativa das funções da emel. É demasiado arrogante na sua postura e desprestigia a empresa porque é sectária, aponta o dedo.
Acho que era mais honesto serem sérios e assumirem que aquilo que fazem é necessário para uma melhor mobilidade na cidade.
Quando falei no facto da emel não ter mérito especial, referia-me ao facto de a sua postura no terreno ser muito centrada na caça à multa. Ou seja, embora considere fundamental haver uma política de estacionamento controlada (e por isso defendo a existência da emel), não considero que a empresa que o faz vá muito mais longe que a fiscalização. Posso estar enganada, mas acredito que essa é a percepção geral e que esta campanha não combate.
Desejo que a emel evolua muito mais, como diz o Diogo Homem e que faça um percurso de aproximação aos cidadãos.
Cláudia, tens toda a razão. Os meus queridos leitores fora de Lisboa que me perdoem...
Em resumo, ainda bem que não publiquei a matrícula do meu carro.
Bem hajam pelos vossos comentários.
E já agora, para aumentar a polémica, gostaria de referir que há bem pouco tempo, numa rua paralela à Almirante Reis, um parquímetro da emel queimou (por electrocussão) a mão de um cumpridor cidadão que lá resolveu depositar a moedinha.
Ou seja, a função da emel não é apenas fiscalizar, é punir, e punir por "parquímetro eléctrico".
Mas alguém tem dúvidas ainda da utilidade extraordinária desta empresa?
Congratula-me, e muito, saber que ainda existem portugueses/as que desconhecem o significado da palavra "emel". e, também, ter descoberto aqui há uns meses, que existem colectivos inteiros de moradores que em iniciativa espontânea de grupo, avariaram as máquinas todas num grande perímetro de estacionamento (não indico o bairro por razões óbvias), boicotando o uso generalizado da encantadora maquininha...
Quer-me cá parecer que há aqui gente a ganhar a garra reconhecida na margem sul!!!!
Isto os ares do Sado tem muito que se lhe diga....
Enviar um comentário