sexta-feira, 16 de outubro de 2009

define maravilhosa

Nos últimos dias, tem havido excelentes notícias (sobre as más falarei para a semana). Não só o Obama foi Nobel da Paz, espantando meio mundo, como o Rio de Janeiro foi a cidade escolhida para as Olimpíadas de 2016. De repente, parece que estamos num mundo integrador, que promove a miscigenação, em que as instituições se tornam pioneiras em vez de seguirem caminhos trilhados.
Instituições pesadas a surpreender, para mim, são sempre boas notícias. De tal forma nos vamos habituando a que instituições simplesmente imponham procedimentos e o cumprimento correcto dos mesmos que, quando algo foge da norma e é pioneiro, nos rejubilamos. É mesmo assim e vá havendo coragem, é o que desejo.
No meio disto tudo, o Rio ser a cidade escolhida para os Jogos mais simbólicos dos tempos modernos e antigos encheu-me de alegria. Não só é a primeira cidade da América do Sul a recebê-los, como é a "cidade maravilhosa", com garotas de Ipanema, Caetano e Calcanhotto numa esquina, mais à frente aquela beleza natural misturada com a civilização e todo um restante imaginário fascinante, pelo menos para mim. Um verdadeiro show este, colocarem o mundo todo ali, numa grande festa do desporto, encontro entre povos, poesia, samba e língua portuguesa e por aí fora (beleza, cara). É assim que às vezes balança a minha cabeça, deixando-me guiar pela envolvimento das imagens, um imaginário desenhado por ficção e letras de MPB e das minhas palavras preferidas miscigenação.
Para ajudar, vejo o vídeo de apresentação da candidatura e, minha gente, vamos dançar que ali é o paraíso e por que ainda não estive lá, meu deus? Ei-lo, bem feito, a cativar o Comité e a colocar do lado da sua candidatura a verdade, a genuinidade, a paixão. Pois claro, se é Rio é verdadeiro, vamos lá, minha gente, outra vez.
Neste rodopio de alegria para o qual me arrastei, deparo-me com a notícia de que, por questões óbvias de segurança (favelas, meu irmão), vão ser construídos muros na cidade. Tudo para proteger os turistas que visitarão ainda mais a cidade durante os Jogos Olímpicos. Lá se foi o rodopio e a alegria. Lá se foi a miscigenação e lá veio a segregação. Lá se foi o progressista e veio o reaccionário.
É pela segurança, pois pois. Mas a ideia que nos guiava então, este gesto simbólico de colocar os Jogos ali e não noutro sítio mais seguro, para onde foi ela? Para onde foi essa cidade maravilhosa que o neguinho dança na rua, enquanto varre o chão? Será que até 2016 não arranjavam solução melhor? Será que por porem árvores, arbustos e flores a disfarçar os muros eles se tornam menos muros? Será que a arte que os pintar anunciará a liberdade em vez da prisão?
O Brasil ganhou, é um facto. Mas não se pode ser maravilhosa só dos muros para fora.


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