segunda-feira, 19 de outubro de 2009

o melhor e o pior

Resisti durante uns tempos ao Facebook, é um facto. Talvez por que o associasse a um certo diletantismo, superficialidade de relações, desperdício de tempo, partilhas desnecessárias, ou simplesmente porque não queria entrar num clube que me aceitasse como membro. Depois, finalmente, acabei por sucumbir e senti-me idiota durante 3/4 dias. Depois integrei a coisa e senti-me idiota durante 2/3 por me ter sentido idiota.
Na verdade, é uma boa ferramenta para muitas coisas: ter uma quinta animada, divulgar este blog, partilhar links e notícias e, principalmente, receber o que as pessoas (os ditos amigos) têm para partilhar. E pode ser uma excelente experiência, com coisas novas a acontecer e causas a conhecer...
O melhor do Facebook são as pessoas e essa rede que constroem de afectos, de ideias, de experiências, de gostos, de coisas.
Mas o pior do Facebook também são as pessoas. Não por aquilo que partilham, mas pela inacreditável capacidade que têm de aderir a coisas disparatadas (para não dizer parvas) e contaminar uns quantos outros. Ou seja, o processo é espectacular: partilha, disseminação descontrolada, mais partilha, mais disseminação. Tudo isto sem filtro. E é assim que deve ser. Afinal, uma rede é mesmo isso. Chegar às pessoas e elas serem o seu próprio filtro. Eu filtro o que quero e o que não quero do meu facebook.
O problema é quando o facebook se torna gerador de notícias. Quando o próprio facebook se torna notícia, transformando pequenas e insignificantes coisas em bizarras e mega notícias com consequências dificilmente válidas ou compreensíveis. É tudo uma questão de escala e com certeza haverá quem está a perder a sua noção.
Vejamos o caso da Maitê.
A actriz brasileira, evidentemente pouco dotada para a comédia, fez um vídeo disparatado que passou há DOIS anos no Brasil. E o que aconteceu agora? Polémica, polémica, gozou com Portugal e ergue-se um movimento, mais forte do que aquele que elegeu Salazar como o maior dos portugueses, a exigir desculpas. Saltando a parte óbvia do "MAS ESTÁ TUDO LOUCO?", aquilo que se torna evidente é que esta notícia não surgiu em nenhuma redacção atenta, mas obviamente numa rede social. Num dia, a coisa espalhou-se e chegou a jornais, televisões, até a embaixada prestou declarações e na imprensa do Brasil também deram visibilidade a esta não-notícia. Fez-se petição a exigir desculpas e elas lá chegaram. Sofreu ataque na página da wikipédia, eu sei lá, a mulher sofreu por não ter piada.
Alguém se lembrou de partilhar este vídeo e a coisa pegou de um modo inacreditável. E os nossos jornalistas, felizes e contentes, pegaram na notícia e fizeram-na sua, desencadeando este sucessivo rol de acontecimentos infelizes.
O caso do pingo doce também é paradigmático. Fez-se questionários a gozar, grupos contra, petições, tudo por causa de um anúncio. Que se tenha feito tudo isto, não me choca - afinal, haverá muita gente que pode questionar as minhas escolhas facebookescas. Mas que a Comunicação Social pegue nisto e o difunda como um assunto sério, é que é muito estranho.
Se as fontes do nosso jornalismo começarem a ser assim tão latas e tão permeáveis a efeitos virais, já não precisaremos de jornais.
Usem o vosso filtro, porque alguns de nós usarão seguramente.

2 comentários:

Sandera disse...

só sei que o meu maninho diz que "eu facebook? nã, não tenho paciência!" e estamos a falar dum adolescente pelo que me parece óbvio que é mesmo brinquedo de adultos! é o nosso recreio!

e por mim tudo bemmmmm
;-.)

Kardo disse...

No outro dia li sobre um grupo que decidiu fazer batota a jornais da prensa amarela britânica (o Sun e outros) e conseguiram publicar noticias que eram falsas! Os jornalismo por vezes só quer é destaque... (claro, a prensa amarela é um caso bem extremo)

e quais seriam as fontes de informação dos jornalistas antes da era da Internet?