A dada altura, porém, depois de fazer o levantamento daquilo que tinha sido roubado (touca, chinelos, tanga e óculos numa mochila velha), o sôr agente perguntou-me se queria fazer uma queixa-crime. Não foi este o termo que ele utilizou, mas a pergunta consistia basicamente em querer saber se eu queria abrir um processo civil, dado o valor do roubo. Achei estranho, porque na verdade pensava que este tipo de crimes tinham de ser avaliados pelas forças da lei e não por mim. Disse que sim por descargo de consciência, mesmo não sabendo exactamente o que implicava, mas que percebo eu de leis e de quadros legais? Imaginei que eventualmente voltariam a chamar-me para depor, fazer um reconhecimento numa fila de suspeitos, eu sei lá, um ou dois episódios de uma série manhosa da Fox Crime.
É claro que eu sabia que era improvável, até porque, convenhamos, eles nem sequer viram o carro. O perito da Seguradora deve ser mais CSI que a nossa polícia. De qualquer modo, estava aberto o processo.
Há coisa de uma semana, recebi um postal (sim um postal) da PSP que dizia muito singelamente que o processo tinha sido arquivado. Assim, sem mais. Por falta de provas ou indícios para perpetuar a investigação. Pois. O papel que eu assinei deve ter entrado directamente nos processos para arquivar, é claro, e só por isso é que demorou 2 a 3 semanas a ser arquivado, pois teve de seguir os procedimentos.
Fiquei a pensar por que dizem que a Justiça é lenta em Portugal. Alguém quer mais rápido que isto? Abri o processo e eles rapidamente o fecharam. As Soon As Possible.
É verdade que: 1. eu pude fazer a queixa em qualquer esquadra (para quê informar a esquadra da zona que está a haver assaltos por ali?); 2. Nem me viram o carro (mas para quê se isso é coisa de peritos?); 3. Eu queria mesmo era o papel para a Seguradora (para quê utilizar os meios policiais para apanhar gatunos?).
Por mim, tudo bem. Não estava à espera que, sem qualquer investigação, se chegasse sequer a um suspeito. Mas soa estranho e é principalmente bizarro todo o processo. Talvez se me tivessem dito desde o início que era isto que ia acontecer (o que também cairia mal e provavelmente escreveria aqui mesmo sobre isso), talvez talvez eu pensasse no impacto ambiental da minha acção. Já que não ia ter impacto social, ao menos não se teria utilizado tanto papel.
3 comentários:
A mim, foi mesmo o carro que me levaram (porque é muito velho e muito fácil de roubar e, aparentemente, há em Coimbra um gang especializado que se dedica a levar estes carros para umas corridas e abandoná-los passados uns dias). No meu caso, o carro ainda anda, depois de uns retoques que custaram um dinheirito. Mas o que queria mesmo dizer é que foi a polícia que o encontrou, viram o carro, portanto, até havia lá um pozinho que deve querer dizer que tiraram as impressões digitais, mas, ao fim de algum tempo, decidem perguntar-me se quero desistir da queixa "porque isto não vai dar em nada, mais cedo ou mais tarde ia ser arquivado". Ao que respondi que não me cabia a mim essa decisão e que me informassem quando eles, a autoridade, achassem que era tempo de arquivar.
granda cláudia!
é isso mesmo! quem somos nós para decidir estas coisas? Parece que estamos a querer pôr um processo desnecessário e arbitrário.
Se é crime é crime, não cabe à "justiça popular", mas sim à outra!
Está-me a querer parecer que, no teu caso, a justiça (ou arquivamento) vai ser um bocadinho mais lenta.
pelo menos no meu caso, o processo demorou 3 meses a receber o dito postal... mas isso foi já a coisa de dois anos. Será que é isto um sinal de modernização dos processos???
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