quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

tremer é bom

A terra treme e, todos os especialistas são unânimes, isso é bom.
Esta madrugada, a terra tremeu, provocando um pequeno terramoto e, hoje durante o dia, deu-se o primeiro passo para o que vai ser um abanão na nossa terra. E esse é bom porque, tal como o primeiro, implica uma libertação de tensões.
Eu explico-me. Hoje foi aprovado em conselho de ministros a Proposta de Lei para a legalização dos casamentos homossexuais e, a partir daqui, falta pouco para tudo isto se tornar real: passa pela Assembleia, pelo PR (se não lhe der um amoque) e parece que em Abril do próximo ano poderá realizar-se o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sem discriminação, qualquer um de nós poderá realizar o seu casamento civil, constituindo assim uma união entre duas pessoas, perante o Estado.
É um grande passo, por muito que pareça tardio ou escasso. Mas é, efectivamente, um grande passo e, hoje, é tempo de celebrá-lo.
Ainda vivemos numa sociedade a múltiplas velocidades, com múltiplas facetas, recheada de nuances e de mentalidades díspares. Um passo em frente como este coincide com um passo atrás como o último do Bento XVI, em que decide proibir os casamentos entre católicos e não católicos.
Ao mesmo tempo, um tribunal em Portugal dá a custódia de uma criança a um homossexual, com a noção consciente que a guarda será exercida por um casal, assumindo publicamente que este tem melhores condições para cuidar da criança. Estes são os outros factos que são os mais importantes passos. Tão importantes como os legislativos, talvez até mais porque reflectem a um nível profundo a mudança real de mentalidades, que permite transformar realmente as coisas.
Ainda agora no café, um cliente e uma empregada brincavam com esta aprovação. Diziam coisas parvas, como "já não há homens a sério por isso é que tem de aprovar-se isto". A conversa era idiota, preconceituosa, até brejeira, mas houve uma nuance em que reparei e que me fez sorrir por dentro: usavam as palavras gay e lésbica. Não diziam paneleiro e fufa. Por muito ridículo que possa parecer, isto é mesmo uma coisa fenomenal. Esta nuance reflecte muito mais do que parece, reflecte que, mesmo no gozo idiota, há espaço para uma formulação não agressiva.
Portugal está mais do que preparado para isto. Essa história de não estar preparado sempre foi uma tolice. Pode tremer um pouco, mas nada vai cair. Antes se vão libertar tensões para construir novas coisas.
Hoje vou celebrar este passo, sabendo que ainda faltam outros passos para a realização efectiva desta medida. Vou celebrar o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo que se realize nesta terra. Vou, a par disso tudo, lutar por mais direitos, nomeadamente na questão fundamental da adopção. Mas sei, e essa é a maior vitória de todas, que este caminho já está ganho, porque não há marcha-atrás. Haverá sempre mais para conquistar porque existe, em todos nós, o sonho de uma "cidade" e é para esse que devemos caminhar.
Hoje é uma vitória, abra-se o caminho.

6 comentários:

joana disse...

quem serão os primeiros? que curiosidade!
gajos ou gajas? e as roupitas, hein?
sim, eu sei, não interessa nada... é que sou um bocado espanholita nestas coisas, eheh.
tu não me digas que vão ser aquelas 2 miúdas que já tentaram uma vez... pois é, só podem ser essas, já estão inscritas... mas era melhor caras novas, essas já brilharam antes... tu matas-me...

ana vicente disse...

segundo o 24horas, já vai haver casamento 2ªfeira, mas não estou bem a ver como. Deve ser uma cerimónia prévia, para assinalar este primeiro passo.
Em termos de roupa, aconselharia uma superação da dicotomia habitual.
Para continuar na mesma lógica, a roupa tem de fazer tremer também. Mas não de frio.

O primeiro casamento vai ser tão mediatizado como o do Carlos e da Diana.

joana disse...

na 2ª? que seca, casamentos desses já chegam. é passar do simbólico pró efectivo, esse 1º é que me interessa. mediatização, siiiimmm! e o que é isso da superação da dicotomia habitual? sim, claro que percebi, mas passa lá ao concreto.

ana vicente disse...

em vez de uma noiva de véu e grinalda e outra noiva de smoking, proponho duas noivas bem giras.

Em vez de um noivo de smoking e outro de smoking... ups... acho que os homens gays já ultrapassaram melhor as dicotomias. Então só têm de largar o smoking e ficarem giros.

ana vicente disse...

há ainda outra questão fundamental na questão dos casamentos gays. Como reagirá o mercado das quintas?

Ah pois!

Nuite disse...

ora nem mais ... =)
é preciso que se compreenda que os actos dos outros por mais diferentes que sejam dos nossos, desde que não coloque em causa o nosso bem estar, a nossa segurança tem td o direito de serem reconhecidos ...!!!
É uma grande batalha ganha ...
e td a sociedade esta de parabens ... mesmo aqueles que falam no cafe ...

no outro dia apanhei uma conversa em que uma senhora dizia que era o fim do mundo, homens casarem com homens e mulheres com mulheres ... pedi desculpa e disse: o fim do mundo esta em haver pessoas que violam crianças ... nomeadamente os pais - ditos pessoas normais !!!
A pobre senhora levantou-se e eu la fiquei com a fama de lesbica...

Bom domingo =)