Uma pessoa vai para fora uns dias e quando volta está tudo mudado. De um momento para o outro, as janelas deixam de estar apinhadas com luzes psicadélicas e pais Natal alpinistas ou, numa recuperação do fervor do euro2004, algumas bandeiras de Portugal. Não, nada disso. Agora há uma nova moda, que alguns devem considerar menos pirosa e populeira, nas nossas janelas: o menino Jesus a velar por todos. São estandartes com uma imagem bem católica do menino em palhas deitado, em palhas estendido. Dizem eles, segundo as notícias, que é uma iniciativa para recuperar a essência cristã do Natal. Parte obviamente de famílias católicas (eles chamam-se a si mesmos cristãos, mas eu prefiro chamar-lhes o nome certo) que sentem necessidade de recuperar a dimensão religiosa do evento Natal.
Eu até os percebo. Na minha infância, sempre se falou do menino Jesus e nunca do Pai Natal. É uma invenção sem qualquer intenção religiosa e muitas intenções comerciais. É um senhor de barbas simpático que distribui prendas pelas criancinhas que se portam bem. Tudo o resto que as pessoas fazem, para encobrir o facto de o velho não mexer um dedinho para dar prendas a seja quem for, será ainda responsabilidade do Pai Natal? E que ideia bizarra é essa de o menino Jesus dar prendas. Então o nosso senhor menino dá prendas? Está tudo louco? Quem dá prendas são os Reis Magos.
Enfim. A questão essencial é, a meu ver, uma: são os senhores da moral católica, da igreja empoeirada, que nos querem impingir os seus valores numa estratégia de marketing, tão bem montada como as dos produtores de brinquedos. A intenção é cristã? Não me parece. Tem a ver com expressão, com imagem e, portanto, é uma questão de comunicação e marketing.
A mim, aborrece-me, porque não gosto de códigos visuais que me remetem para a Igreja Católica. Não gosto dos pais Natal nem das bandeiras, mas prefiro-os a isto. Os pais Natal são tolos. As bandeiras demonstram uma expressão de orgulho e de colectivo. Estes estandartes têm uma agenda, têm objectivos religiosos e, logo, noções sociais nas quais não me consigo rever.
Em Londres, vi um Homem-aranha pendurado numa janela. Não tem nada a ver com nada e isso agrada-me. Os pais Natal pendurados eram um pouco assim. Agora, podem tornar-se símbolos de resistência ateia, sabe-se lá.
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