segunda-feira, 24 de março de 2008

Discutir o indiscutível?

Os especialistas da comunicação decidiram pôr à discussão se a marca do "Comunismo" está apta para o futuro ou não. É claro que os especialistas deste canal são nova-iorquinos, mas ainda assim americanos e portanto a discussão fica logo um pouco limitada àquela visão tendenciosa que eles têm sobre o comunismo. 
Aliás, levantarem até a discussão nuns tais termos revela um total despreendimento em relação à ideologia. Algo afastado, localizável e enquadrável dentro dos chamados estados comunistas. Balizam a coisa entre Che Guevara e a China. E daí por adiante não se pode esperar uma discussão especialmente profícua. 

É óbvio que há valores de marca que podemos reconhecer no comunismo. Há ícones que se repetiram ao longo dos tempos, exactamente como pulsar de sobrevivência da própria "revolução". Lenine, Estaline, Che, Fidel, Mao, todos eles foram elevados a um espectro que ultrapassa qualquer marca. Mas a partir de um determinado momento, passaram de ícones de regime para ícones usáveis. As tshirts do Che, os lenços palestinianos, e por aí fora, tornaram-se ícones visuais, que pouco a pouco têm vindo a perder o seu referente fundamental. 
Ainda assim, toda a iconografia relacionada com e criada em regimes ditos comunistas foi "publicitária" de uma ideia. Foi concebida para isso mesmo, para vir para a rua e para sustentar e retratar o "comunist way of life" (estranha formulação esta). 

O comunismo, enquanto ideologia, está longe de estar morto. E a "marca" Comunismo, como eles o colocam no brandchannel, vai tornar-se cada vez mais marca, perdendo, como já disse, o seu contacto com a ideia. Basta ver como os miúdos andam agora com os lenços à Arafat, sem fazerem a mínima ideia do que estão a usar. O usável em cada tendência tem a ver com essa capacidade de banalizar o valor do que está em casa - ainda há uns dois anos, a tendência era usar placas identificadoras (usadas pelos soldados) ao pescoço. Quem as usava não era pró-guerra e duvido que as ostentasse por qualquer valor político. 

A nível institucional, penso que a tendência será limpar essa iconografia, como os tais murais do PCP em Alcântara ou reformular a bandeira, como no caso de Angola. A título de exemplo, aqui fica a actual bandeira deste país com a proposta para uma eventual mudança. 





5 comentários:

Rakel disse...

Ana já sentia falta do teu blog. :))
O naperon já lá vai, e o bombazzine foi mais ou menos como o programa da Maria que passava às 2 da manhã fora de horário nobre (heheh gostaste deste paralelismo?). Não me perguntes porquê mas nunca o consegui seguir com a frequência que gostaria.
Neste o tema deixa-me expectante.
Fico à espera e já ganhaste aqui uma leitora assídua. ;)

bjs grandes rakel

ana vicente disse...

Fico muito contente por estares de volta.

Gostei do paralelismo, eheh! e, apesar de tudo, o bombazzine continua... tipo às duas da manhã, para quem ainda tem paciência para esperar, num tom mais pessoal.

Vamos ver se este passa em horário nobre. Conto com as tuas contribuições, cá dentro e por fora ;)

asimoes disse...

ohmeudeus,

o teu post deixou-me um pouco ansiosa, não sei porquê.
acredito na sacralidade de algumas coisas, no "NÃOTOCA,NÃOMEXE,NÃOVULGARIZA,NÃOBANALIZA"

Não me considero uma comunistazona, mas sou de esquerda ah pois, e alguns símbolos mexem comigo. serem assim debatidos desta forma é estranho.

é que assim deixa de ser possível comunicar com esses simbolos: uma pessoa que os use pode usá-los como uma manifestação de uma ideologia, de facto, ou como um "ah, está na moda".

é como as miudas com o simbolo da playboy na t-shirt. o que é que querem dizer? nada provavelmente, mas assim tiram terreno, ou diluem, ou deixam "sem simbolo" aquelas que quisessem dizer "eu tb sou uma porno star"

mas lá que o lenço do arafat é bem bonito é :D

ana vicente disse...

A questão é mesmo essa: nada é sagrado em termos de "comunicação".

E a sacralização tem como passo seguinte a banalização e, depois, a perda dos referentes essenciais.

Quase se pode dizer que a construção de uma marca parte do caminho inverso: do vazio para a construção de referentes emocionais que o receptor associa à marca.

Despojar de significado algo tão significativo como o comunismo, ou mesmo o símbolo da playboy, é desvirtuar todos os valores associados. Torna-se um acto vazio e isso é algo que nem os comunistas ou os anti-comunistas desejam, por razões diferentes. Os anti-comunistas prefeririam o fim dessa simbologia, e aos comunistas essa simbologia só interessa para criar um imaginário colectivo que sustente a ideologia.

Para mim, o importante é sabermos que significados carregamos de cada vez que usamos qualquer coisa. Tudo é simbólico e é preciso valorizá-lo.

asimoes disse...

porra que bem que escreveste agora exactamente aquilo que acho! :D