quinta-feira, 11 de março de 2010

um livro viagem

Quando me falavam de literatura de viagem, não percebia muito bem. Um género indistinto para o meu olhar, ainda ignorante sobre essas coisas. Por agora, continua ignorante. Mas, agora, começo a imaginar se toda a literatura de viagem será como este livro soberbo, o Caderno Afegão, de Alexandra Lucas Coelho.


Duvido, no entanto, que seja realmente o mesmo, porque este livro é inequivocamente especial. Alexandra Lucas Coelho foi um mês para o Afeganistão em 2008 e traz-nos o seu diário de viagem de uma forma totalmente cativante. O local, obviamente, contribui para o interesse da viagem, mas é pela autora, pelo que viveu, viu e como o escreve, que ficamos agarrados.
Por onde começar? Pela coragem, sim. Acho que é a coragem do gesto, de tudo o que nos é relatado, que me impressiona em primeira mão. Uma mulher ocidental dispor-se a ir um mês para o Afeganistão, como jornalista e, portanto, com necessidade de "reportar" e andar lá pelo meio, é algo admirável. Não consigo pôr de outro modo, porque é mesmo isso que se sente ao ler o livro, o risco de cada passo. E, ao mesmo tempo (e é nesse sentido que o livro é tão bom), esse risco transforma-se em proximidade, em familiaridade, em reconhecimento.
O "lá para o meio" transforma-se muitas vezes em cenário com que empatizamos. Aquilo que ALC nos conta traz-nos um pouco do que viu para dentro de nós. As pessoas, os lugares e as atmosferas vêm para nós em sentimentos confusos. Porque ela consegue fazer algo incrível, uma excelência documental diria mesmo, que é dar-nos a vivência do lugar, garantindo a vivência dela e do seu olhar forte sobre a realidade, sem nunca se perder num enredo demasiado pessoal.
Eu estou-lhe grata por este livro. Porque me mostrou algo que nenhum jornal, tv ou rádio me poderiam dar assim. É certo que quando esteve lá, foi correspondente do Público e da Antena 1, mas este formato é ímpar. Esta é uma obra inestimável, cheia de fronteiras para reflectirmos, cheia de tiros às ideias absolutas sobre aquela parte do mundo, aquela cultura, aquela civilização. Caderno Afegão coloca-nos lá, envolve-nos, compromete-nos - não há uma resposta simples ou definitiva.
A Tinta da China (editora cada vez melhor) tem um site com as fotos desta viagem. Ainda não as vi todas, guardei-as para quando acabasse o livro. Depois de lê-lo, cada foto vale muito mais.

1 comentário:

Bluebluesky disse...

Eu tenho a colecção: O caderno Afgão (muito bom realmente), Uma ideia da Índia (outro dos meus preferidos), O Japão é um lugar estranho, Paris, Veneza, Nova Iorque e Morte na Pérsia. Aconselho vivamente, muito boa literatura de viagem!!!