sexta-feira, 16 de maio de 2008

pela boca fora

A linguagem é determinante para a percepção de um determinado objecto. O poder que possui pode num certo sentido alterar o próprio objecto. 

Quando usamos determinada palavra para definir determinado objecto estamos a alterá-lo. Até numa coisa tão simples como uma cor. Dizer negro como breu não é o mesmo que dizer preto. Porque a linguagem é o reflexo de um olhar e possibilita a criação de um outro, quando é partilhada. 

1. Em comunicação, o trabalho é esse mesmo: alterar a percepção de acordo com os "nossos" objectivos. Muitas vezes, na nossa actividade, podemos pervertê-los subtilmente, ou arranjar forma de alterá-los sem os "danificar", de acordo com o que é a nossa visão do mundo. Às vezes podemos fazê-lo com intenção, outras de forma inconsciente. Por isso mesmo é que a maior parte da publicidade não faz mais do reforçar estereótipos, porque são eles que dominam o inconsciente colectivo.

Esse é um poder que devemos ter consciência que utilizamos. Acho salutar que aquele que desenvolve esse tipo de linguagem em comunicação tenha noção da sua perspectiva e saiba usá-la para o "bem". Isto é, que subverta aquilo que tem a subverter, veiculando uma mensagem progressista (no meu caso) para a sociedade e que consiga ao mesmo tempo ser um bom profissional. No limite, que venda sabões mas que apresente uma boa razão para isso.


2. Ainda sobre a questão do poder da linguagem para definir um objecto, veja-se isto. Um dos candidatos àquele partido português laranja diz sobre o casamento entre homossexuais que "Não é importante a designação que damos ao instituto desde que possamos garantir esses direitos”, defendendo assim "alguma forma de contrato civil semelhante ao casamento", desde que não se chame isso. Faz lembrar a rábula dos Gato Fedorento sobre o Marcelo e o aborto. União  civil badalhoca e secreta entre duas pessoas do mesmo sexo, SIM, casamento com cerimómia e festa NÃO! 

O que eles sabem é que não se pode mexer no nome. Porque dar um nome de heterossexuais é normalizar a dita união, alterando o objecto em causa. Neste caso, o objecto casamento e também o objecto homossexualidade. Os mesmos direitos legais não fazem o mesmo objecto, logo não dão os mesmos direitos. É o nome que confere os direitos e privilegia a valorização do dito contrato. Se não, é apenas mais um estigma. 

E estes senhores do poder com certeza sabem disso e pensam que conseguem agradar a gregos e troianos. Mas há troianos que querem o nome.   
 

quinta-feira, 8 de maio de 2008

n'est pas pour tout le monde

A andar pela França, descobri uma loja absolutamente extravagante. 

Dedicada à venda dos famosos macarrons - não macarrão, mas uma espécie de suspiro e chocolate em forma de mini-hambúrguer - La Maison Bouillet é um verdadeiro regalo para os olhos. As cores destes pequenos alimentos são estonteantes e, nesse sentido, acabam por ser mais objecto de admiração visual do que propriamente gustativa. 




Para aguçar ainda mais o visitante, só existem lojas em Lyon e em Tóquio. Com tal exclusividade, o visitante sente-se desarmado pela experiência e impelido a comprar pela oportunidade. Não sentiria o mesmo, parece-me, se só existissem lojas em Lyon (o que as tornaria mais exclusivas, mas com mais carácter de souvenir). A loja de Tóquio eleva a marca para um patamar de refinamento e raridade que as três em Lyon nunca alcançariam sozinhas. 

É certo que só descobri que a loja também existia em Tóquio depois das compras, ao ver a morada no saco. Mas isso não minimiza o impacto, antes valoriza a beleza dos objectos dispostos.