quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

conversa de homem?

A publicidade dirigida a homens tem vindo a adaptar-se aos novos tempos. O homem continua à procura de uma redefinição de si próprio, enquanto género, e no meio da confusão a publicidade tenta acompanhar. Nem sempre com os melhores resultados. Para as mentalidades, para os produtos, para os destinatários.

Tudo isto a propósito da nova campanha da Dove, do produto Dove Men Care, que procura enfatizar a ideia de que um homem que se sente confortável com o homem que é, deve sentir igualmente uma pele confortável. "Sinta-se confortável na sua pele" é o mote com o duplo sentido que move a campanha.
No papel, parece-me um bom princípio. Há de facto um novo homem a surgir, que se reinventa todos os dias, que se adapta (bem ou mal) aos novos tempos, tentando não ser esmagado pelos estereótipos fundados. Começa a pouco a pouco o seu processo de emancipação.
No entanto, não gosto da concretização que vejo nos anúncios de TV a passarem actualmente em Portugal. Porque insistem na dicotomia, sempre na mesma eterna dicotomia, aqui materializada em força e cuidado, como se fosse estranho ou pouco credível as duas coisas coexistirem. No fundo, não consegue superar o que está a querer superar. E, no final, fica uma sensação estranha de que a marca está a querer sossegar os homens da sua virilidade - por amor de Deus, o homem que aparece a usar o produto até tem barba! A Dove parece estar a dizer "não vão ser menos homens por cuidarem da pele" - o que é verdade, mas que assenta num falso paradigma: a do homem a sério ser bruto e das "cavernas". Aqui fica o tal anúncio, infelizmente na versão português do Brasil, mas exactamente igual à nossa.





No entanto, como a Dove não anda de todo a dormir, como se sabe pelas campanhas que tem para mulheres, está a fazer evoluir o conceito e, no Super Bowl, já mostrou um novo anúncio bem mais interessante, porque brinca com as necessidades e as expectativas criadas em torno do que é ser homem.



Dentro deste imaginário, a Old Spice fez uma campanha que, a meu ver, é mais eficaz. Porque brinca com o estereótipo. Eventualmente, pode gerar mais anticorpos nalguns espectadores, mas eu acredito que o humor, o exagero e a ironia contribuem para uma superação do estereótipo e do preconceito. Aqui fica e podem encontrar mais aqui.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

paixão com prazer

Há muito tempo que os cadernos Moleskine se tornaram um objecto de culto. Hoje, não existe um tipo de caderno ou agenda, existem dezenas de possibilidades para usar uma Moleskine. Para escrever, para desenhar, para pintar, para fazer o planeamento semanal, para pôr os contactos, para registar viagens, para fazer storyboards, cadernos japoneses, lisos, quadriculados, pautados, A4, A5, A6... um mundo inesgotável.

O detalhe, a atenção pelo consumidor e a lenda tornam qualquer Moleskine irresistível.
Agora lançaram uma nova colecção: Moleskine Passions. Os cadernos das paixões dividem-se em Livros, Filmes, Vinhos, Receitas, Música e Bem-estar.


Mais uma ideia brilhante para cativar a malta. Porque alia o carácter emblemático da Marca às paixões de cada um, tornando o objecto ainda mais irresistível.
Os vídeos de apresentação também são uma delícia. Deixo-vos aqui o dos livros e podem ver os outros por aqui.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

mudar

Já está no ar (em mupis e na tv) a campanha da ILGA que se foca na questão da homossexualidade na paternidade e maternidade.
Vi primeiro o mupi e agradou-me o levantar da questão. "Se a tua mãe fosse lésbica, mudava alguma coisa?". É uma pergunta, exige uma resposta. De forma imediata, diríamos sim, não, talvez. Mas o melhor de tudo é que a pergunta está feita de um modo que exige o essencial. Podia mudar tudo, mas não mudaria o essencial. Nem o amor, nem a dádiva, nem o compromisso.




Acho fantástico que haja uma campanha (pro bono e bem feita pela Lowe) sobre este tema. Mas o que acho ainda mais notável é que seja uma campanha envolvente e não afirmativa, que seja inclusiva e não exclusiva. Todos podemos rever-nos neste registo.
Obviamente que há outra tónica dominante: o conceito inverte o habitual. E nisso o spot de tv é realmente eficaz, criando um desfecho inesperado para a maior parte do público.



Pessoalmente, acho que esta dimensão familiar é fundamental para reenquadrar a questão, libertando-nos de certos vícios que uma sociedade normalizada impõe, mas que também um certo activismo propõe. Gosto deste activismo, acho-o honesto, acho-o integrador, acho-o generoso para aqueles que nos rodeiam, que nos amam, para nós próprios.

Parabéns ILGA (obviamente por tudo) e Lowe (pelo que não é óbvio no pro bono).

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

fica bem na moldura

A Cruz Vermelha espanhola (Cruz Roja) fez uma acção em frente ao Museu Rainha Sofia, em Madrid, provando mais uma vez que a simplicidade de uma ideia pode ter um poder impressionante. Como tornar visível o que é ou se tornou invisível é uma questão fulcral no trabalho social. A indiferença instalada, o preconceito, a incapacidade de agir fundada muitas vezes no sentimento de impotência e frustração, têm de ser desmontadas. Como? Desocultando, criando novas e diferentes formas de olhar para um problema, confrontando o outro com a questão de um modo que não dê para respostas automáticas. Numa palavra, impossibilitar o virar de olhos. É uma excelente acção, muito simples mas, de certeza, com um impacto certeiro naqueles que a receberam.


Cruz Roja - Vagabundo from Javier Iñiguez de Onzoño on Vimeo.


Num outro registo, totalmente distinto e bem mais leve, chegou-me aos olhos este filme, em que a "moral da história" é que, realmente, não olhamos uns para os outros. Não prestamos atenção.

Dizem que lá fora é uma selva, mas na selva precisamos estar atentos para ver, o que não acontece realmente.