quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

post extremamente natalício

Andam renas a voar e trazem no focinho pequenas miniaturas do pai natal e algumas até do menino jesus. Um coro de crianças sorridentes e com as faces rosadas entoam cânticos natalícios, espalhando alegria e amor. Nas lojas dos chineses, há mais néon do que é costume e os cromados estão ainda mais brilhantes. Já neva em imensas partes do país e até os emigrantes se conformam porque vão a caminho da terra. Os bolos rei estão todos com uma massa gostosa e não há ponta de secura em nenhuma fatia, tendo todas mais frutos secos que frutas cristalizadas. E toda a gente já tem o presente perfeito, produto de comércio justo. E, melhor que tudo, todos sentem um quentinho no coração. A paz no mundo está a minutos de começar.

Agora a sério, não é bem bem assim (talvez nas lojas chinesas). Mas não há nada como tentar e ir acreditando. A minha proposta este ano é para reinventarem o Natal e fazerem dele o que mais vos aprouver, com tudo o que quiserem pendurado à janela.
Uma noite feliz, com alegria e um dia 25 especial, é o que vos desejo.
E, como vou de férias, vou desejar-vos também uma passagem de ano daquelas boas. Para 2010, um ano à medida em que cada dia valha por si e conte para todos.

post nada natalício, até um pouco apocalíptico

Antes de entrar no espírito do Natal, desejando a todos um Feliz Natal e um próspero Ano Novo, cá vai um balanço sobre o clima destes últimos dias. É mesmo sobre o clima.

Hoje o sol está forte em Lisboa, as pessoas estão contentes com isso. Entretanto, a meio da noite, telhados voaram com o vento e a chuva e a neve inundaram algumas partes de Portugal. As notícias dizem que, em Portugal, as temperaturas sobem mais e os efeitos do Aquecimento Global podem sentir-se acima da média mundial. Há poucos dias tivemos um terramoto. Felizmente, os nossos vulcões estão adormecidos.
Esta manhã, lembrava-me da história da humanidade, da origem dos mitos, dos primeiros homens e mulheres a temerem a poderosa Natureza, o irado Deus, a sacrificarem animais e a erguerem templos, a temerem represálias pelos seus pecados, a suplicarem perdão. Hoje temos razão para temer os nossos pecados, mas não haverá templos nem ladainhas que nos possam valer, apenas e só a mudança.
Hoje seria o tempo de olhar para os céus e cravar as mãos na terra, de medo. Mas há demasiadas coisas a ofuscar a nossa visão dos céus e a terra está tapada por alcatrão. E, mesmo com a vergonha de Copenhaga, alguma coisa temos de fazer.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

publicidade que sobressai

Anda para aí uma campanha muito inteligente de roupa interior masculina. Com piada, irreverência e simplicidade, a unno fez um mupi que funciona na perfeição. Confesso que, quando o vi pela primeira vez, pensei que havia para aí muito vandalismo à solta, mas afinal não.

Com um sugestivo copy, "Conforto que sobressai", temos uma comum foto de um modelo masculino em "trajes menores" mas com um excelente twist: o mupi está aparentemente estilhaçado na zona genital do homem.
Esta campanha consegue plenamente satisfazer os seus targets: os homens, porque percebem que podem parecer "avantajados", qualidade que muito estimam, e ao mesmo tempo sentirem-se confortáveis; e as mulheres heterossexuais, porque acham graça à ideia de oferecer uma "tanguinha" cuja diferença "salta" à vista.
Será brejeiro? Nada disso. É inteligente, apela a "valores" instituídos e enraizados, sem fazer mal a ninguém. Fala directamente ao "coração" de quem se destina.
O facto deste post estar cheio de aspas é significativo, claro. A campanha está carregada de um duplo sentido, totalmente óbvio, mas essencialmente brincalhão, como as pessoas gostam. Toda a gente adora fazer trocadilhos sexuais inofensivos, é uma espécie de paródia ensaiada de salão em que todos se sentem confortáveis com as insinuações.
Esta campanha é uma insinuação brincalhona, que não se "arma aos cucos" como a maior parte da comunicação de roupa interior. Ninguém está à espera de "sobressair" tanto, mas quase todos gostam de brincar sobre isso.
Até agora, parece-me a campanha de "Natal" (estas aspas são só para enganar) mais bem conseguida. Utilizam-se os meios convencionais de uma forma original e simples, sem medos que o produto "não se veja" ou que a mensagem não seja suficientemente "sexy". É inteligente e básica ao mesmo tempo, o que, a meu ver, é um talento.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

tremer é bom

A terra treme e, todos os especialistas são unânimes, isso é bom.
Esta madrugada, a terra tremeu, provocando um pequeno terramoto e, hoje durante o dia, deu-se o primeiro passo para o que vai ser um abanão na nossa terra. E esse é bom porque, tal como o primeiro, implica uma libertação de tensões.
Eu explico-me. Hoje foi aprovado em conselho de ministros a Proposta de Lei para a legalização dos casamentos homossexuais e, a partir daqui, falta pouco para tudo isto se tornar real: passa pela Assembleia, pelo PR (se não lhe der um amoque) e parece que em Abril do próximo ano poderá realizar-se o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sem discriminação, qualquer um de nós poderá realizar o seu casamento civil, constituindo assim uma união entre duas pessoas, perante o Estado.
É um grande passo, por muito que pareça tardio ou escasso. Mas é, efectivamente, um grande passo e, hoje, é tempo de celebrá-lo.
Ainda vivemos numa sociedade a múltiplas velocidades, com múltiplas facetas, recheada de nuances e de mentalidades díspares. Um passo em frente como este coincide com um passo atrás como o último do Bento XVI, em que decide proibir os casamentos entre católicos e não católicos.
Ao mesmo tempo, um tribunal em Portugal dá a custódia de uma criança a um homossexual, com a noção consciente que a guarda será exercida por um casal, assumindo publicamente que este tem melhores condições para cuidar da criança. Estes são os outros factos que são os mais importantes passos. Tão importantes como os legislativos, talvez até mais porque reflectem a um nível profundo a mudança real de mentalidades, que permite transformar realmente as coisas.
Ainda agora no café, um cliente e uma empregada brincavam com esta aprovação. Diziam coisas parvas, como "já não há homens a sério por isso é que tem de aprovar-se isto". A conversa era idiota, preconceituosa, até brejeira, mas houve uma nuance em que reparei e que me fez sorrir por dentro: usavam as palavras gay e lésbica. Não diziam paneleiro e fufa. Por muito ridículo que possa parecer, isto é mesmo uma coisa fenomenal. Esta nuance reflecte muito mais do que parece, reflecte que, mesmo no gozo idiota, há espaço para uma formulação não agressiva.
Portugal está mais do que preparado para isto. Essa história de não estar preparado sempre foi uma tolice. Pode tremer um pouco, mas nada vai cair. Antes se vão libertar tensões para construir novas coisas.
Hoje vou celebrar este passo, sabendo que ainda faltam outros passos para a realização efectiva desta medida. Vou celebrar o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo que se realize nesta terra. Vou, a par disso tudo, lutar por mais direitos, nomeadamente na questão fundamental da adopção. Mas sei, e essa é a maior vitória de todas, que este caminho já está ganho, porque não há marcha-atrás. Haverá sempre mais para conquistar porque existe, em todos nós, o sonho de uma "cidade" e é para esse que devemos caminhar.
Hoje é uma vitória, abra-se o caminho.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

estendido à janela

Uma pessoa vai para fora uns dias e quando volta está tudo mudado. De um momento para o outro, as janelas deixam de estar apinhadas com luzes psicadélicas e pais Natal alpinistas ou, numa recuperação do fervor do euro2004, algumas bandeiras de Portugal. Não, nada disso. Agora há uma nova moda, que alguns devem considerar menos pirosa e populeira, nas nossas janelas: o menino Jesus a velar por todos. São estandartes com uma imagem bem católica do menino em palhas deitado, em palhas estendido. Dizem eles, segundo as notícias, que é uma iniciativa para recuperar a essência cristã do Natal. Parte obviamente de famílias católicas (eles chamam-se a si mesmos cristãos, mas eu prefiro chamar-lhes o nome certo) que sentem necessidade de recuperar a dimensão religiosa do evento Natal.
Eu até os percebo. Na minha infância, sempre se falou do menino Jesus e nunca do Pai Natal. É uma invenção sem qualquer intenção religiosa e muitas intenções comerciais. É um senhor de barbas simpático que distribui prendas pelas criancinhas que se portam bem. Tudo o resto que as pessoas fazem, para encobrir o facto de o velho não mexer um dedinho para dar prendas a seja quem for, será ainda responsabilidade do Pai Natal? E que ideia bizarra é essa de o menino Jesus dar prendas. Então o nosso senhor menino dá prendas? Está tudo louco? Quem dá prendas são os Reis Magos.
Enfim. A questão essencial é, a meu ver, uma: são os senhores da moral católica, da igreja empoeirada, que nos querem impingir os seus valores numa estratégia de marketing, tão bem montada como as dos produtores de brinquedos. A intenção é cristã? Não me parece. Tem a ver com expressão, com imagem e, portanto, é uma questão de comunicação e marketing.
A mim, aborrece-me, porque não gosto de códigos visuais que me remetem para a Igreja Católica. Não gosto dos pais Natal nem das bandeiras, mas prefiro-os a isto. Os pais Natal são tolos. As bandeiras demonstram uma expressão de orgulho e de colectivo. Estes estandartes têm uma agenda, têm objectivos religiosos e, logo, noções sociais nas quais não me consigo rever.

Em Londres, vi um Homem-aranha pendurado numa janela. Não tem nada a ver com nada e isso agrada-me. Os pais Natal pendurados eram um pouco assim. Agora, podem tornar-se símbolos de resistência ateia, sabe-se lá.



quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

É natal, é natal! - Bravo e Buuu

Eu gosto muito do Natal. Tenho destas coisas, de apreciar as iluminações na rua, de gostar de fazer a árvore de Natal, dos embrulhos e até das prendas. Sei bem que já não tem metade da piada do que teve, por muitas e variadas razões, mas consigo reencontrar o sentido de uma outra forma. A excitação das prendas deu uma volta grande e, agora, sei que passa muito mais por dar do que por receber. Não me levem demasiado a sério as pessoas que me vão oferecer prenda, porque estou a contar convosco. Refiro-me mais às listas. Antes fazia listas do que queria receber, agora a lista é das prendas que vou dar. E o quadro é inevitável diferente, mas sabe maravilhosamente bem, mesmo quando é absolutamente stressante. O Natal tem qualquer coisa de advérbio de modo, mesmo. É alegremente, familiarmente, generosamente, sofregamente, singelamente, exageradamente que me entrego a este ritual, que se expande cada vez mais. Este ano, pela primeira vez, tenho já quase todas as prendas de Natal compradas e preparadas. Antecipei-me, mas não minimizei o stress. Afinal, tentar comprar todas as prendas antes dos outros começarem sequer a comprá-las pode tornar-se uma fasquia demasiado alta.
Insisto num ponto: não sou consumista. Mas consumo demais o Natal, é um facto.
Mas este post não é de auto-análise (ai que sono), mas sim sobre duas coisas: a iluminação de Natal do Camões, em Lisboa, e os brinquedos "concebidos para rapazes".
Bravo para a iluminação de Natal do Camões, assinada pela CML. Um coração suspenso, enorme, pleno de luz e cor, já era brilharete suficiente. Mas, além disso, tem um mupi associado, com um botão para as pessoas tocarem e mudarem a cor do "coração da cidade". É demais! É ver o coração mudar de cor pela interacção das pessoas, satisfeitas por poderem interferir directamente na iluminação do local. Num tempo de receios de pandemia, tem uma certa graça ver as pessoas simplesmente a quererem brincar.
Buu para a publicidade nos canais infantis. É insuportável, dói ver. Eu levo com os pandas, nickelodeons, disney channels, boomerangs da vida, o ano todo e nada é comparável ao que acontece na altura do Natal. É realmente obscena a quantidade de anúncios a brinquedos. Uns idiotas, outros absolutamente idiotas... mas todos demais. Um excesso incomparável que dá cabo da cabeça das crianças, por poderem achar imaginável sequer que aqueles brinquedos são alguma coisa de jeito. Enfim... ontem vi o meu preferido. Não me lembro que brinquedo era, o que é uma pena para o apelo ao boicote. Sei que eram carrinhos a descerem por rampas. No final, a voz off dizia aos pais, não fosse dar-se o caso de eles terem ideias estranhas, "concebido para rapazes". Assim tal e qual, sem tirar nem pôr: aquele brinquedo é "concebido para rapazes", por isso estão por vossa conta e risco se decidirem outra coisa qualquer. Um brinquedo é um brinquedo e pode ser concebido para quem eles quiserem, mas no final, haja esperança, nós é que decidimos que brinquedos queremos que os nossos filhos e as nossas filhas usem. Se calhar, mais valia começar a dedicarem-se a fazer brinquedos concebidos para brincar, mas talvez seja uma sugestão parva, porque depois os hipermercados não saberiam como arrumar a cangalhada nas suas prateleiras.
Adoro o Natal, é verdade. Mas prefiro as iluminações das Câmaras à publicidade.